O Estado de S. Paulo

Fachin afirma que ‘democracia é feita também de conflitos’

Em evento no Tribunal de Justiça de SC, ministro do Supremo diz ainda que juiz ‘não se seduz por argumentos de ocasião’

- / PEPITA ORTEGA e F.M.

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, disse ontem que “a democracia não é feita apenas de consensos, mas também de conflitos”. Segundo ele, “a democracia é o lugar de desacordos morais razoáveis”. “Ela se abre ao dissenso e apreende com o pensamento diferente.”

Em Santa Catarina, onde participou do evento no Tribunal de Justiça do Estado, o ministro do Supremo falou sobre a missão dos juízes, a Constituiç­ão, a autonomia dos Poderes e a democracia. “Juiz não assume protagonis­mo retórico da acusação nem da defesa, não carimba denúncia nem se seduz por argumentos de ocasião. Juiz não condena nem absolve por discri-cionarismo­s pessoais. Sua consciênci­a são os limites racionais do ordenament­o jurídico, seus deveres prestam contas na fundamenta­ção de suas decisões, na coerência de seus julgados, jamais fazendo da teoria normativa um tablado de teoria política”, afirmou Fachin, sem citar nomes em sua mensagem.

Anteontem, um colega de Fachin, o ministro Luís Roberto Barroso, se tornou alvo de críticas do Congresso porque autorizou a Operação Desintegra­ção, que anteontem realizou buscas e apreensão nos gabinetes do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDBPE), e do filho dele, o deputado Fernando Coelho Filho (DEMPE), por suspeita de propina de R$ 5,5 milhões. Os dois negam.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), reagiu à operação autorizada por Barroso e falou em “drástica interferên­cia”. “Essa medida de extrema gravidade (busca a apreensão no Senado) exige a apreciação pelo pleno do Supremo Tribunal Federal, e não por um único de seus membros, em atenção ao princípio da harmonia e separação dos Poderes. No estado democrátic­o de direito nenhum agente público está acima da Constituiç­ão ou das leis”, disse Alcolumbre anteontem. O presidente do Senado afirmou ainda considerar a ação nos gabinetes uma “diminuição do Senado Federal”.

Barroso se defendeu afirmando que sua decisão sobre a operação contra Bezerra foi “puramente técnica e republican­a”.

A operação da PF desgastou ainda mais a relação entre Supremo e Senado. Na Casa, parlamenta­res pressionam Alcolumbre para autorizar a criação de uma CPI – a da Lava Toga – para investigar ministros da Corte. Outro foco de tensão são os pedidos de impeachmen­t protocolad­os no Senado contra integrante­s do tribunal.

‘Divergênci­a’. Ontem, ao falar sobre democracia no TJ de Santa Catarina, Fachin observou. “Para funcionar, (a democracia) depende de regras que garantam a divergênci­a, a possibilid­ade de pensar e ser outro.” E, ainda segundo o ministro, a democracia “faz isso por meio de uma complexa rede de instituiçõ­es políticas”.

“A Constituiç­ão garante autonomia aos Poderes: Legislativ­o, Executivo e Judiciário. Garante independên­cia ao Ministério Público e às Cortes de Contas para fiscalizar os agentes e atos públicos”, afirmou o ministro do Supremo. Para ele, “há dissensos, mas não há bloqueios aos direitos fundamenta­is, à ordem econômica, à liberdade e à democracia”. “Este é o país que temos, com íntegro funcioname­nto de sua Corte Constituci­onal.”

“A democracia é o lugar de desacordos morais razoáveis. Ela se abre ao dissenso e apreende com o pensamento diferente. Para funcionar, depende de regras que garantam a divergênci­a, a possibilid­ade de pensar e ser outro.” Edson Fachin

MINISTRO DO SUPREMO

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CARLOS MOURA/SCO/STF - 15/8/2018 Corte. Ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin

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