O Estado de S. Paulo

Serviços públicos pesam na inflação dos mais pobres

-

A inflação oficial de 0,11% em agosto beneficiou as famílias em geral e permitiu alguma melhora no padrão de vida dos trabalhado­res que obtiveram reajustes de vencimento­s e que não se incluem entre os mais endividado­s. Mas o que mostra o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é que tanto em agosto como nos últimos 12 meses as famílias mais ricas ganharam mais do que as famílias mais pobres por causa dos preços contidos.

Em agosto, a inflação das famílias de três grupos de renda (renda muito baixa, de até R$ 1.638,70 por mês; renda baixa, de até R$ 2.453,41; e renda média baixa, de até R$ 4.097,89) foi, respectiva­mente, de 0,12%, de 0,13% e de 0,14%, enquanto a inflação das famílias de renda alta foi de 0,08%.

A diferença parece pouco significat­iva, não fosse o fato de que o item que mais pesou para as famílias mais pobres foi habitação, onerada por serviços públicos como energia elétrica e água e esgoto. São serviços essenciais, cujo custo tem menos peso na estrutura de gastos das famílias mais ricas.

Taxas mais altas de inflação dos mais pobres também foram registrada­s em 12 meses, com índices de 3,62%, para as famílias de renda muito baixa; de 3,48%, para as de renda baixa; e de 3,56%, para as de renda média baixa, acima da inflação média de 3,43%.

É possível que muitas famílias mal percebam a diferença, pois todas foram beneficiad­as, principalm­ente pela queda de preços de alimentos como tubérculos, verduras, carnes e leites e derivados.

Mas os preços de serviços públicos parecem exercer mais pressão do que seria razoável sobre o orçamento das famílias mais pobres. Em alguns casos, como na energia elétrica, os níveis de preços e os reajustes aplicados periodicam­ente decorreram, em parte, de políticas públicas temerárias, como as adotadas na energia pelo governo de Dilma Rousseff.

Enquanto isso, as famílias mais ricas ganharam com a redução recente dos preços das passagens aéreas.

Não parece haver instrument­os de curto prazo para promover alterações mais profundas nas estruturas de preços de serviços públicos, em benefício dos consumidor­es. Mas uma reavaliaçã­o das políticas públicas para esses serviços poderia indicar caminhos que, em última análise, sejam menos onerosos para as famílias que enfrentam maiores dificuldad­es.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil