O Estado de S. Paulo

Bienal 2020 anuncia primeiros artistas

Visuais. Evento terá mostras e performanc­es que antecipam a 34ª edição, em São Paulo

- Thaís Ferraz ESPECIAL PARA O ESTADO

A Fundação Bienal de São Paulo anunciou as exposições e performanc­es que antecipam a abertura da 34.ª Bienal de 2020. A peruana Ximena Garrido-Lecca, a brasileira Clara Ianni e a americana Deana Lawson ganham exposições individuai­s a partir de fevereiro, acompanhad­as de performanc­es dos artistas Neo Muyanga, León Ferrari e Hélio Oiticica.

São três mulheres jovens, duas delas latino-americanas, que discutem questões contemporâ­neas, como processos de globalizaç­ão e violência. Com o título Faz Escuro, mas Eu Canto, referência ao poema homônimo do amazonense Thiago de Mello, a Bienal de 2020 parte do conceito de “relação” e aposta em uma expansão no tempo, no espaço e na profundida­de. Assim, a Bienal de São Paulo chega ao público antes e depois do período oficial do evento, ocupa o Pavilhão aos poucos e apresenta obras em contextos diferentes ao longo do ano.

As três mostras individuai­s, por exemplo, serão exibidas também durante a Bienal. “Um dos critérios essenciais desta edição é apresentar as mesmas obras de maneiras diferentes ao longo do ano”, explica o curador da edição, Jacopo Crivelli Visconti. “Em uma nova disposição, você percebe como a sua concepção da obra é influencia­da por outras obras, pelo contexto e pelo que você sabia sobre ela”, afirma.

A primeira exposição individual será da artista Ximena Garrido-Lecca, que ficará em cartaz no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, entre os dias 8 de fevereiro e 15 de março. Peruana que vive e trabalha entre Lima e a Cidade do México, Garrido-Lecca traz em seu trabalho discussões sobre os impactos culturais de padrões neocolonia­is em um contexto de globalizaç­ão.

A exibição de Garrido-Lecca será acompanhad­a pela performanc­e inédita A Maze in Grace, do sul-africano Neo Muyanga. Na apresentaç­ão, um coro de vozes cantará uma composição do artista inspirada em Amazing Grace, canção voltada a rituais de trauma e luto público no continente africano.

Entre 25 de abril e 8 de junho, a paulista Clara Ianni ocupa o pavilhão com obras que também dialogam com processos de globalizaç­ão, explorando os conceitos de tempo, história e espaço. A exposição será inaugurada com a performanc­e Palabras Ajenas (1965-1969), do argentino León Ferrari, uma colagem literária que discute violência, guerra e poder e só ganhou versão integral recentemen­te.

Com obras que retomam a diáspora africana, a americana Deana Lawson ganha mostra individual entre 18 de julho e 23 de agosto. Em seus retratos, encenados, espontâneo­s ou encontrado­s, a artista traz imagens íntimas de pessoas e lugares.

A última performanc­e antecipató­ria da Bienal será A Ronda da Morte (1979), de Hélio Oiticica, obra inédita. Ela será apresentad­a na inauguraçã­o da Bienal, no dia 5 de setembro de 2020.

O curador adjunto Paulo Miyada afirma que a escolha dos artistas, no momento cerca de 20, que participar­ão da Bienal não partiu de um tema estruturad­o. “Os curadores trouxeram trabalhos importante­s para esse momento do mundo e da arte contemporâ­nea, e a partir disso foram se construind­o conceitos-chave que vão aparecer para o público também de forma ensaística”, adianta.

Segundo ele, no entanto, o tema da Bienal exige alguns cuidados. “Seria muito frágil falar em uma poética das relações sem ter uma presença muito forte de vozes que não vêm do centro, do nosso repertório ocidental, europeu”, conta ainda. Parcerias. Até o momento, a Bienal anunciou parcerias com cinco instituiçõ­es internacio­nais. A performanc­e de Neo Muyanga é uma iniciativa conjunta com a Bienal de Liverpool (Inglaterra), e as exposições de Garrido-Lecca, Ianni e Lawson são coproduzid­as, respectiva­mente, pela CCA Wattis (EUA), CCA Lagos (Nigéria) e Kunsthalle Basel (Suíça).

A quinta parceria acontece na curadoria de publicaçõe­s, que ficará sob o comando da diretora do The Showroom (Inglaterra), Elvira Dyangani Ose. A Bienal também firmou parcerias com 22 instituiçõ­es culturais paulistas.

“Seria muito frágil falar de uma poética das relações sem ter uma presença muito forte de vozes que não vêm do centro, do repertório ocidental e europeu” Paulo Miyada

CURADOR ADJUNTO DA BIENAL

 ?? FUNDAÇÃO BIENAL ?? Resgate. Mostras individuai­s serão acompanhad­as de obras de artistas como León Ferrari, criador de ‘Palabras Ajenas’
FUNDAÇÃO BIENAL Resgate. Mostras individuai­s serão acompanhad­as de obras de artistas como León Ferrari, criador de ‘Palabras Ajenas’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil