Petrobrás luta contra roubo de combustível
Estatal trabalha para evitar que crime ganhe proporções alarmantes como no México, onde perdas da Pemex somam US$ 3 bilhões por ano
A Petrobrás, nos últimos cinco anos, enfrentou uma grande investigação sobre corrupção, uma recessão devastadora e preços instáveis do petróleo. Agora, a empresa mais importante do Brasil enfrenta outro desafio: ladrões estão furtando milhões de reais em combustível para vender no mercado negro.
Os casos que miram oleodutos da Petrobrás subiram para um recorde de 261 no Rio de Janeiro e em São Paulo no ano passado, contra apenas um caso em 2014, de acordo com comunicado da empresa de agosto e declarações feitas por representantes da petroleira.
A maioria desses roubos, segundo a polícia, é obra de sofisticados grupos criminosos, alguns com caminhões próprios, empresas de distribuição e até postos de gasolina no varejo.
“São criaturas criativas”, disse o delegado Julio da Silva Filho, titular da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) do Rio, responsável pelas investigações.
O crime custa à subsidiária de distribuição da Petrobrás, a Transpetro, mais de R$ 150 milhões por ano, afirmou Roberto Castello Branco, presidente executivo da Petrobrás.
As perdas são pequenas em comparação com as do outro grande competidor de energia da América Latina, o México, onde gangues de criminosos se infiltraram nos negócios de petróleo em grandes proporções. O furto de combustível custa à estatal mexicana Pemex mais de US$ 3 bilhões anualmente.
A Transpetro criou um programa para reunir informações sobre criminosos e está gastando R$ 100 milhões por ano para financiá-lo. Atualmente, cerca de 50 funcionários estão envolvidos no trabalho, que inclui rastrear os padrões e métodos dos ladrões e compartilhar essas descobertas com a polícia.
Alguns investidores estrangeiros também estão reforçando a segurança. Eles incluem a TAG, uma unidade de gasodutos que a francesa Engie comprou da Petrobras por US$ 8,6 bilhões em abril.
Gustavo Labanca, diretorpresidente da TAG, afirmou que, dentre as ações, estão aumento da frequência de patrulhamento em campo, vigilância remota das instalações, reforço das barreiras físicas, bem como ações de conscientização e apoio das comunidades localizadas próxima aos dutos.
O combustível é caro no Brasil, onde o preço da gasolina chega a mais de R$ 4 por litro.
As gangues tradicionalmente focadas no tráfico de drogas se ramificaram em roubo de combustível nos últimos anos. O mesmo acontece com as chamadas milícias, dizem a polícia, que surgiram para combater as quadrilhas de traficantes, mas que se transformaram em organizações criminosas.
Esses grupos são altamente organizados, com divisões separadas dedicadas a explorar ilegalmente oleodutos, transportando combustível roubado e vigiando a polícia, disse a promotora de Justiça Simone Sibilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado no Rio.
Ela disse que os criminosos usam o produto por meio de empresas como de asfalto, cujas operações exigem grandes quantidades de derivados de petróleo. Os bandidos também se concentraram nas vendas no varejo. A polícia diz que criminosos entraram nos postos de gasolina, como forma de lavar dinheiro de outras operações ilícitas. Agora, abastecer essas bombas com combustível roubado se tornou lucrativo.
Castello Branco pediu sentenças mais duras para os ladrões de dutos para reduzir o furto de combustível. A empresa também está perto de assinar acordos formais com a Pemex do México e a Ecopetrol da Colômbia, para facilitar o compartilhamento de estratégias antirroubo. Enquanto isso, o aumento da vigilância parece estar valendo a pena. Até o fim de julho, os roubos de combustível no Brasil caíram 33% em comparação com o mesmo período de 2018.