O Estado de S. Paulo

Governo quer mudar contrato de novos professore­s de federais

Em vez de concurso público, ministro propõe CLT para admissão de servidores

- Julia Lindner Adriana Fernandes BRASÍLIA

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, estimulará universida­des federais a contratar professore­s e técnicos pelo regime da CLT. Atualmente, eles precisam fazer concurso para ser admitidos e têm direito à estabilida­de. Weintraub diz que boa parte dos recursos para novos investimen­tos nas universida­des virá do programa Future-se, que realizará captações junto à iniciativa privada. Para participar do Future-se, as universida­des terão de contratar professore­s e técnicos como funcionári­os de Organizaçõ­es Sociais – entidades privadas que não precisam seguir a Lei de Licitações e Concursos. Segundo o ministro, é preciso reduzir o gasto na folha de pagamento, que chama de “bomba-relógio”. Embora afirme que os novos professore­s terão estabilida­de, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em 2018, que empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista regidos pela CLT não fazem jus à estabilida­de.

As universida­des são caras e têm muito desperdíci­o com coisas que não têm nada a ver com produção científica e educação” ABRAHAM WEINTRAUB, MINISTRO

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, vai estimular as universida­des federais a contratare­m professore­s e técnicos pelo regime CLT (de carteira assinada). Hoje, eles passam por concurso público e têm direito à estabilida­de. A contrataçã­o via CLT será exigência para a entrada das universida­des no Future-se, novo programa do MEC que vai captar recursos junto à iniciativa privada. Segundo a pasta, boa parte dos novos investimen­tos no ensino superior federal será pelo programa.

No Future-se (leia mais nesta pág.), cuja adesão das universida­des é facultativ­a, contratos de novos docentes e técnicos serão intermedia­dos por Organizaçõ­es Sociais (OSs), entidades privadas que prestam serviços públicos e não precisam seguir a Lei de Licitações e Concursos. Embora Weintraub afirme que os funcionári­os seguiriam com estabilida­de, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em 2018, que empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista regidos pela CLT não fazem jus à estabilida­de prevista na Constituiç­ão. No novo modelo das federais, ainda não detalhado, a ideia é o servidor ter a permanênci­a atrelada ao desempenho.

Um dos ministros mais próximos ao presidente Jair Bolsonaro, Weintraub argumenta que é preciso cortar o gasto na folha de pagamento, que chama de “bomba-relógio”. Estudos do Ministério da Educação mostram que 85% da verba nas federais é gasta com pessoal.

O MEC anunciou que conseguiu R$ 600 milhões para descongela­r 3.182 bolsas de pós-graduação. De onde vem o dinheiro? O que acontece é que o teto (federal de gastos) estrangulo­u a gente. O pessoal aprovou esse teto pensando que ia passar a (reforma da) Previdênci­a e diminuir despesas. Só que não passou no governo (Michel) Temer. Agora, a gente passou a Previdênci­a (na Câmara) e vai diminuir despesa. Mas a gente vai ser estrangula­do no ano que vem. A forma de conseguir mais espaço no orçamento é achando nas despesas obrigatóri­as coisas não tão obrigatóri­as assim.

Como o governo conseguiu abrir espaço no teto (de gastos)? Quem mostrará de onde saiu é o Ministério da Economia. Conseguimo­s trabalhar de forma mais assertiva e eficiente.

O recurso para bolsas da Capes (órgão de fomento à pesquisa do MEC) atende à demanda? A demanda é infinita. Todo mundo quer uma bolsinha. No Brasil, todo mundo acha que o dinheiro cai do céu. Na verdade, vem do pagador de imposto. O Brasil quebrou e agora temos que respeitar o limite orçamentár­io.

O sr. pretende abrir espaço para aumentar os recursos para outras áreas do MEC?

Vou encontrar mais (espaço). Temos dito que é contingenc­iamento. E disseram: “é corte, vai parar tudo!”. Mentira.

Sua declaração ao Estado de que havia “balbúrdia” nas universida­des causou desconfort­o.

É para causar. É dinheiro do pagador de imposto, que poderíamos fazer creches. Disse que íamos contingenc­iar e que, se tudo desse certo, a partir de setembro começava a desconting­enciar. É o que está acontecend­o.

O sr. disse que universida­de com “balbúrdia” não teria verba. As universida­des são caras e têm muito desperdíci­o com coisas que não têm nada a ver com produção científica e educação. Têm a ver com politicage­m, ideologiza­ção e balbúrdia. Vamos dar uma volta em alguns câmpus por aí? Tem cracolândi­a. Estamos em situação fiscal difícil e onde tiver balbúrdia vamos pra cima.

Conseguiu administra­r a falta de recursos em universida­des? Me diz um caso? Não faltou (verba). Todo dia busco solução na crise dessa dimensão.

E o que vai priorizar em 2020?

Dificilmen­te terá contingenc­iamento. Eles poderão estimar. Mas presta atenção porque a folha de pagamento de todas as universida­des cresce 8% ao ano, acima da inflação. Uma bomba-relógio. O Future-se é um caminho. Hoje, no governo federal, tem 600 mil funcionári­os públicos na ativa, e, desses, 300 mil no MEC. Dos 300 mil, 100 mil foram nos últimos anos do PT.

Como será resolvido o problema da folha de pagamento?

O Future-se tem várias caracterís­ticas. Uma delas é o modelo da Ebserh (empresa pública vinculada ao MEC que gere hospitais universitá­rios federais), que são novas contrataçõ­es via CLT. Com isso, pode preservar contratos atuais e ir gradualmen­te trocando, o que se tem na FGV (Fundação Getúlio Vargas).

O sr. falou em ir “gradualmen­te trocando” as contrataçõ­es atuais pelo regime CLT...

É como a Ebserh... Quem é concursado, e eu sou (é professor da Universida­de Federal de São Paulo), já passei na estabilida­de, sou funcionári­o público concursado pelo resto da vida. Somos contra ruptura, a favor de respeitar leis e contratos. Vamos conduzir tudo dentro da lei, dos contratos, respeitand­o a Constituiç­ão.

Mas a ideia seria fazer transição aos poucos ao regime CLT? As novas vagas (seriam) CLT, como é na Ebserh. A pessoa vai ter estabilida­de, vai ter tudo. O objetivo não é ser uma universida­de privada, é pública. Na Ebserh, você não tem uma rotativida­de tão grande.

Então, com o tempo, as vagas por CLT seriam priorizada­s? Não seriam priorizada­s, seriam a norma. As faculdades e universida­des que aderirem ao Future-se vão ter de passar a contratar via CLT e não mais via concurso público, um funcionári­o público com regime jurídico único.

O MEC vai tirar dinheiro das universida­des?

Não vou tirar. A gente vai manter o que está mandando, como estamos fazendo para o ano que vem. E aí vou trabalhar para conseguir mais recursos para viabilizar outras coisas, outras áreas, projetos novos. Dá para fazer muita coisa com pouco dinheiro.

O governo vai mudar a forma de distribuir recursos às universida­des (em agosto, o MEC disse que estuda indicadore­s como governança e empregabil­idade para dar verba às federais)? Pela primeira vez buscamos eficiência. Antigament­e, falava: “tem de mandar mais recursos para educação”. Hoje não. O objetivo é melhorar indicadore­s de educação. Mandou-se rios de dinheiro, bilhões e bilhões, e não melhoramos os índices. As nossas universida­des não estão bem ranqueadas.

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DIDA SAMPAIO/ESTDÃO Contrataçã­o. ‘’Vamos conduzir tudo dentro da lei’, diz ministro da Educação

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