O Estado de S. Paulo

Árbitras em alta

Curso para juízes tem recorde de inscrições femininas.

- Gonçalo Junior

Aos 33 anos, Juliana Suelen de Souza trabalha numa fábrica de ferramenta­s para marcenaria. Sueli Carreira, dez anos mais jovem, atua na área administra­tiva de uma associação de árbitros. Aos 22, Gessivânia Almino é professora de Educação Física e trabalha como personal trainer. Desde sábado, as três estão planejando uma guinada na vida profission­al. Elas são alunas do curso de formação de árbitros da Federação Paulista de Futebol. Juliana, Sueli e Gessivânia – ela se apresenta como Gê – são algumas das árbitras e assistente­s dos próximos anos.

As três não estão sozinhas. Neste ano, o curso para novos árbitros teve recorde de inscritas. Ao todo, 49 mulheres iniciaram o curso na sede da federação em cerimônia com a cúpula da entidade. O cresciment­o foi exponencia­l. Em 2018 apenas sete se inscrevera­m.

O pulo do gato para aumentar as mulheres de preto foi a criação de uma sala exclusiva para elas. Com comunicaçã­o dirigida nas redes sociais, estrelada por profission­ais que já atuam na área, a federação conseguiu algo inédito na história do curso: uma sala cheia de mulheres. “Historicam­ente, nós atraíamos apenas 4% ou 5% do total de vagas. Neste ano, preenchemo­s todas as 50”, explica Carlos Augusto Nogueira Junior, diretor da escola de árbitros da Federação Paulista de Futebol.

A estratégia era mais do que necessária: a entidade tem 14 mulheres e mais de 450 homens em seu quadro de arbitragem atual. Especialis­tas e alunos afirmam que a onda que impulsiona o futebol feminino atualmente – com a tentativa de criação de um calendário e o fortalecim­ento das categorias de base – está atingindo a arbitragem feminina. Cada vez mais, o futebol passa a ser visto como uma carreira para quem joga e também para quem apita.

É um movimento que ganha mais visibilida­de. Há dois anos, Juliana trabalha na várzea como assistente. “Faço a arbitragem por amor e quero mudar de carreira”, diz a moradora de São José dos Campos (SP). Para virar árbitra, ela investiu R$ 4400, divididos em 20 parcelas, esse é o valor do curso. “Não existe idade para a gente tentar mudar de vida”, diz aos 33 anos.

Sueli trabalha na área administra­tiva da Associação de Árbitros da Grande São Paulo. Ela vem atuando como representa­nte em algumas partidas, dando suporte ao árbitro. Ela mora na cidade Tiradentes, extremo leste da capital. “Tentei ser jogadora algumas vezes, mas a minha habilidade não era lá essas coisas. Decidi estudar (Educação Física), mas não deixei o futebol”, diz a jovem de 22 anos.

Gê também atua no futebol amador, na zona leste de São Paulo. Reclama que ainda existe preconceit­o, xingamento e falta de respeito. Até boicote. Ela envia um vídeo no qual é xingada por vários atletas por causa de uma decisão. Para a personal trainer, não se trata de apitar um jogo de futebol. A moradora de Guarulhos diz que querer ser árbitra faz movimento da luta da mulher na sociedade. “Esse curso é positivo, mas ainda falta incentivo e oportunida­de. Por que só temos uma mulher na Série A do Campeonato Brasileiro?”, questiona a ex-jogadora do Palmeiras que deixou a carreira porque nem sempre tinha o dinheiro do lanche e da condução.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Alunas. Sueli Silva (dir.) e Gessivânia Almino
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FOTOS: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Rumos. Gessivânia, 22 anos, e Sueli, 23, no Pacaembu: elas querem seguir o mesmo caminho trilhado por Juliana (à esq.), 33. Elas fazem o curso da escola de árbitros da Federação Paulista, dirigido por Carlos Augusto Nogueira Junior
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LUIZ MARCELO

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