O Estado de S. Paulo

‘Pendurical­hos’ sob controle

Projeto de lei que regulament­a o que é ou não ‘pendurical­ho’ poderia gerar economia de R$ 1,16 bilhão ao ano

- /C.T. e I.T.

Com a persistênc­ia de supersalár­ios no funcionali­smo, parlamenta­res podem resgatar projeto que sujeita “pendurical­hos” ao teto.

Com a persistênc­ia do pagamento de salários ao funcionali­smo acima do teto constituci­onal, parlamenta­res ensaiam uma tentativa de resgatar um projeto de lei que regulament­a o que é ou não um “pendurical­ho” e que daria ao governo mais instrument­os para barrar os supersalár­ios. A proposta poderia gerar uma economia de ao menos R$ 1,16 bilhão ao ano, segundo cálculos iniciais.

Pela proposta, todo tipo de pagamento passa a estar sujeito ao teto, exceto verbas de caráter indenizató­rio. O texto estabelece limites máximos para auxílio-moradia, diárias de viagem e auxílio-creche e critérios rígidos para concessão de auxílio-moradia. Já o ressarcime­nto por gastos médicos e odontológi­cos seriam efetivados apenas nos termos do plano de saúde do servidor.

O projeto de lei voltou a fazer parte das conversas na Câmara dos Deputados por ser visto como uma bandeira de maior apelo junto à população do que a impopular reforma da Previdênci­a, que dominou as discussões na Casa durante o primeiro semestre.

Na semana seguinte à que os deputados aprovaram a criminaliz­ação do abuso de autoridade, 13 líderes de partidos de direita e esquerda protocolar­am um pedido de urgência para levar ao plenário a proposta que mira os supersalár­ios. Naqueles dias, organizaçõ­es de juízes, policiais e procurador­es fizeram forte pressão para que o presidente Jair Bolsonaro vetasse a lei do abuso, o que encorajou os congressis­tas a tentar cortar os pendurical­hos dessas categorias.

O partido Novo não assinou o pedido de urgência, mas fez uma pesquisa que analisou 217.873 folhas de pagamento de auditores, diplomatas, advogados

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“Está sendo construído um entendimen­to sobre a matéria. O projeto está redondo para ser votado.” Rubens Bueno

DEPUTADO CDD (PR)

da União, procurador­es fazendário­s, juízes e desembarga­dores, de fevereiro a junho deste ano. Descobriu que os magistrado­s recebem em média R$ 46,2 mil mensais graças aos benefícios extra-teto.

O relator do projeto de lei, deputado Rubens Bueno (CDDPR), admite que passou a ser procurado pelos colegas nos corredores da Câmara. “Está sendo construído um entendimen­to sobre a matéria. O projeto está redondo para ser votado”, afirma Bueno.

Debate no plenário. O líder do PSB, Tadeu Alencar (PE), foi um dos que procurou o relator para conversar sobre a iniciativa. “Aqui e ali falamos sobre isso. É importante que esse debate viesse a plenário”, diz.

O líder do PCdoB, Orlando Silva (SP), avalia que pautar a medida é urgente. “Esse tema vai e volta nas conversas entre os líderes. Parece haver uma força oculta que impede sua votação”, diz, sem explicar quais seriam essas forças.

O líder do PP, Arthur Lira (AL), vê necessidad­e de o projeto avançar, mas diz que não tem participad­o das conversas para levar o tema ao plenário.

Apesar de ter ganhado apoio, o projeto ainda enfrenta obstáculos. O líder do Cidadania na Câmara, Daniel Coelho (PE), lembra que a iniciativa ficou travada na legislatur­a passada. “Vimos que mais de 30% dos deputados eram afetados pelo projeto. Ou seja, a resistênci­a vinha de dentro. Uma grande parcela aqui acumulava salários”, conta.

O deputado Gilson Marques (Novo-SC) diz que o partido fez a pesquisa para mostrar, com dados, como o teto dos salários é desrespeit­ado. A intenção é conseguir impulsiona­r o andamento do projeto que limita os pendurical­hos no Legislativ­o. “Há três textos no Congresso, entre eles o do Rubens Bueno. Estamos estudando para saber qual pode ser levado a cabo”, afirma.

O presidente do Fórum Nacional das Carreiras de Estado, Rudinei Marques, defende um “teto rígido” para todos os servidores. A entidade congrega auditores fiscais, policiais federais, membros do Ministério Público e servidores do Legislativ­o, entre outros. “A média salarial no Executivo é R$ 11 mil. Eventualme­nte, por decisões judiciais, têm pontos fora da curva”, diz. “Achamos que o serviço público não pode ser estigmatiz­ado por questões pontuais.”

“Aqui e ali falamos sobre isso. É importante que esse debate viesse a plenário.” Tadeu Alencar

LÍDER DO PSB (PE)

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LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS-14/8/2019 Prioridade. Câmara quer urgência na discussão da proposta que mira os supersalár­ios

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