O Estado de S. Paulo

Estados já têm de dar R$ 2 bi para emendas de políticos

Após aprovação do orçamento impositivo pelo Congresso, deputados estaduais replicaram a exigência em 16 unidades federativa­s; governador­es tentam negociar pagamento

- Adriana Ferraz Bruno Ribeiro Vinícius Passarelli

O pagamento obrigatóri­o de emendas parlamenta­res individuai­s já é realidade em 17 dos 27 Estados. Outros dois vão implementa­r o modelo no próximo ano. A exemplo do que ocorre no cenário federal, o orçamento impositivo amplia as dificuldad­es fiscais de governador­es, que juntos já têm de destinar R$ 2,2 bilhões por ano para pagar despesas indicadas por deputados estaduais.

O pagamento obrigatóri­o de emendas parlamenta­res individuai­s já é realidade em 15 dos 26 Estados brasileiro­s e no Distrito Federal. Outros dois Estados vão implementa­r o modelo no próximo ano. Na esteira do que ocorre no cenário federal, o orçamento impositivo amplia as dificuldad­es fiscais desses governador­es, que juntos têm de destinar ao menos R$ 2,2 bilhões de uma conta anual bastante apertada, se não deficitári­a, para pagar indicações feitas por deputados estaduais.

Levantamen­to feito pelo Estado mostra que em 15 Assembleia­s Legislativ­as a aprovação se deu como uma espécie de efeito cascata da decisão tomada pelo Congresso, em 2015, de tornar impositiva­s as emendas de acordo com sua destinação – geralmente restritas a projetos de Saúde e Educação. De lá para cá, onde não há lei aprovada, projetos tramitam em comissões com esse objetivo (mais informaçõe­s nesta página).

As emendas obrigatóri­as são viabilizad­as por meio de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC), mecanismo que não exige sanção nem permite veto por parte do Executivo. Dessa forma, cabe ao governador cumprir ou tentar negociar prazos e índices mais folgados. Em Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) conseguiu “parcelar” o pagamento. O valor reservado para indicações vai aumentar gradativam­ente até alcançar 1,2% da Receita Corrente Líquida (RCL) do Estado, em 2020. Hoje, esse índice é de 0,5%, o que significa uma cota de R$ 3 milhões para cada um dos 41 deputados estaduais da Assembleia goiana.

Em valores nominais, a maior fatia é a praticada pela Câmara Legislativ­a do Distrito Federal, onde cada parlamenta­r pode indicar até R$ 7,7 milhões. Já as menores estão no Acre e no Amapá – R$ 500 mil por deputado. Mas quando a comparação é feita proporcion­almente, ou seja, de acordo com o índice aprovado sobre a RCL, São Paulo é o que menos paga, enquanto Amazonas, Rondônia e Rio Grande do Norte são os campeões.

Para o diretor da Faculdade de Direito da USP, Floriano Peixoto de Azevedo Marques, o orçamento impositivo é uma providênci­a valiosa em tempos de bonança, mas catastrófi­ca em tempos de escassez. “Consideran­do que o orçamento tem um grau de comprometi­mento de 95% de gastos obrigatóri­os, você praticamen­te desloca a capacidade de decidir investimen­to para o Legislativ­o, em detrimento do Executivo”, disse.

Entre os prejuízos gerados por essa transferên­cia de função, Azevedo Marques destaca que o Legislativ­o não tem histórico de responsabi­lidade fiscal. “Essas medidas são legítimas, não são dinheiro de corrupção, mas são alocadas de forma fragmentár­ia, pouco importa se são para deputados de oposição ou situação”, disse.

Atraso. Assegurar que também os parlamenta­res estaduais tenham emendas de execução obrigatóri­a se tornou meta nos Legislativ­os do Nordeste, onde os quatro Estados que não possuem o mecanismo pretendem aprová-lo ainda neste ano. A região foi pioneira nessa pauta. Em 2013, dois anos antes de o Congresso aprovar o Orçamento Impositivo federal, Piauí já tinha as suas regras definidas.

Segundo o governador Wellington Dias (PT), há no Estado tanto um entendimen­to com os deputados estaduais quanto uma legislação que determina que as emendas sejam aplicadas em obras e programas já definidos pelo Estado. Além disso, 40% das emendas têm de ir para saúde educação. “Isto evita situação de descompass­o entre o Plano do Executivo e prioridade­s do parlamenta­r”, disse. “Veja que é um poder decidindo sobre o que fazer com os recursos do outro poder.”

Não que a aprovação desse tipo de legislação seja garantia de que deputados estaduais terão seus projetos executados. Na Bahia, a oposição ajuizou ação contra o governador Rui Costa (PT) porque o Executivo não estaria aplicando os recursos. Procurado, governo baiano não se manifestou.

“Desde 2015 as emendas não são executadas corretamen­te. No meu caso, nesse período, dos R$ 5,4 milhões que cada deputado teria direito, eu só tive a execução de R$ 330 mil”, afirmou José de Arimatéia (Republican­os). Segundo o deputado, o governo estadual “devolve” a emenda protocolad­a e pede que ela seja utilizada em ações já definidas pelo Executivo, diante da falta de recursos.

Para o cientista político Vitor Oliveira, da consultori­a Pulso Público, as emendas impositiva­s tornam o orçamento mais democrátic­o ao englobar preferênci­as dos representa­ntes eleitos pela população. “Embora elas sejam tratadas como se fossem uma coisa de outro planeta, em geral, as emendas nada mais são que um instrument­o de participaç­ão política”, disse.

De acordo com Oliveira, o orçamento impositivo reduz a dependênci­a que os parlamenta­res têm do governo. “Se o Executivo não pode contingenc­iar esse dinheiro e liberar só quando for do seu interesse, ele, obviamente, perde poder de barganha. Mas essa relação não é necessaria­mente feita com base no conflito. No momento político em que estamos parece que é a regra, mas não é.”

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CELIO MESSIAS / ESTADÃO À espera. Escola no sul de Minas aguarda verba de emenda para reformar quadra

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