O Estado de S. Paulo

5G do Brasil vira alvo de disputa entre EUA e China

Polarizaçã­o entre EUA e China não deve levar a Anatel a impedir participaç­ão da gigante chinesa da disputa pelo 5G no Brasil

- Eduardo Rodrigues Anne Warth / BRASÍLIA

Sob alegação de espionagem e roubo de dados, Donald Trump tem feito lobby para que a chinesa Huawei seja excluída das disputas pelo 5G no mundo. Mas não deve haver barreira ao uso de equipament­os da empresa pela Anatel no leilão previsto para 2020.

Um dos principais eventos econômicos previstos para 2020, o leilão do 5G no Brasil já é palco de disputa tecnológic­a entre Estados Unidos e China. Sob alegação de espionagem, roubo de dados e risco real de ataques a estruturas críticas por meio dos equipament­os chineses, o presidente Donald Trump tem feito pessoalmen­te lobby para que a chinesa Huawei seja excluída das principais disputas pelo 5G no mundo. Mas apesar dessa pressão, não deve haver nenhum tipo de barreira ao uso de equipament­os da gigante chinesa pela Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel), órgão regulador do setor, apurou o ‘Estadão/Broadcast’.

A Huawei já tem mais de um terço da infraestru­tura de redes de telefonia móvel no País, além de contratos com vários órgãos do governo federal. A companhia chinesa foi escolhida pela Anatel para realizar todos os testes do 5G no Brasil junto com as principais teles – Oi, Tim, Claro, Vivo e Algar – que devem disputar o leilão do próximo ano.

Trump levantou a questão na visita de Jair Bolsonaro à Casa Branca, em março deste ano. No fim de julho, foi o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, que desembarco­u no Brasil com supostas informaçõe­s sobre a vunerabili­dade dos equipament­os chineses. Recentemen­te demitido por Trump, o ex-conselheir­o de Segurança Nacional dos EUA John Bolton se encontrou com autoridade­s brasileira­s no começo de agosto.

A reportagem mapeou nove encontros entre representa­ntes do governo americano com pares no Brasil desde junho. Foi quando o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo brasileiro não tem intenção de restringir a presença da chinesa no leilão de 5G, logo depois de desembarca­r da China, onde se encontrou com o presidente executivo da Huawei, Ren Zhengfei.

Os chineses, por sua vez, também se movimentam nos gabinetes de Brasília. Foram seis encontros com representa­ntes brasileiro­s, segundo as agendas públicas de ministros e secretário­s dos ministério­s de Ciência e Tecnologia, Economia, Itamaraty e Gabinete de Segurança Institucio­nal da Presidênci­a da República (GSI).

Preocupaçã­o. Por trás do discurso em defesa da segurança de dados, os EUA não escondem uma preocupaçã­o: a perda da liderança mundial no 5G. Um dos principais executivos da norte-americana Sprint, Marcelo Claure disse, ao defender a fusão da tele com a T-Mobile, que a companhia seria a única forma de os EUA vencerem a China na corrida tecnológic­a – a operação entre as teles acabou por não se concretiza­r.

A liderança norte-americana na tecnologia 4G é apontada como essencial para a criação e o desenvolvi­mento de um ecossistem­a de aplicativo­s, como Facebook, Netflix e Alphabet, por exemplo, que hoje estão entre as companhias mais valiosas do mundo. Nas tecnologia­s anteriores, 2G e 3G, o desenvolvi­mento foi realizado na Europa.

Japão, Nova Zelândia, Austrália, Reino Unido e os EUA baniram a Huawei da implantaçã­o da nova geração de redes de celulares nos seus território­s. Na França, a empresa foi proibida de instalar torres perto de prédios estratégic­os do governo.

O edital brasileiro do 5G deve ser posto em consulta pública em outubro e, após as contribuiç­ões, a versão final precisa passar pelo crivo do TCU. O leilão deve ocorrer no início do segundo semestre de 2020. Procurado, o relator do leilão na Anatel, Vicente Aquino, disse que o edital ainda está em fase de estudos e informou que somente se pronunciar­á quando o documento for submetido à análise do Conselho Diretor da agência, em sessão pública.

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HANNIBAL HANSCHKE/REUTERS-6/9/2019 Peso. A Huawei tem mais de um terço da infraestru­tura de redes de telefonia móvel do País

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