Daniel Martins de Barros
Capacidade de lidar melhor com as emoções é ferramenta excelente para tornar vida mais leve. Mesmo com problemas.
Acada dia surgem mais pesquisas sobre a autorregulação emocional; trata-se de uma habilidade em parte natural, mas que pode ser treinada. E quando a desenvolvemos reduzimos o risco de vários tipos de problemas.
De forma geral, considera-se autorregulação emocional a capacidade de alterarmos nossas emoções, gerenciando-as para extrair o melhor delas. Essa capacidade está prejudicada de uma forma ou de outra em diversos problemas, de transtornos de personalidade a distúrbios alimentares, passando pelo autismo, depressão e comportamentos autolesivos. Várias terapias têm se voltado para seu desenvolvimento como forma de amenizar os sintomas que afligem as pessoas atingidas. Mas mesmo quem não tem um problema mais sério pode se beneficiar de técnicas que ajudam a gerenciar as emoções.
A primeira é aprendermos a pensar sobre exatamente o quê estamos sentindo. Certa vez vi um paciente que só conseguia me dizer que estava nervoso, incapaz de explicar nada além disso. Mas nervoso pode significar várias coisas. Pode ser ansiedade (pela antecipação de algo negativo que tememos, como quando dizemos “Estou nervoso com a prova de amanhã”). Pode ser irritação, naquelas ocasiões em que ficamos nervosos com situações desagradáveis (“Que nervoso que me deu ver o tamanho daquele trânsito”.) E claro que se sentir nervoso também pode significar que estamos com raiva (“Fiquei muito nervoso com a bronca que levei do chefe.”) Veja como desenvolver o vocabulário emocional, aprendendo a diferenciar as nuances entre as emoções, é fundamental para a autorregulação.
Não vamos conseguir controlar o que nem sabemos bem que sentimos. A literatura pode ser uma boa fonte de enriquecimento de vocabulário emocional. Uma vez identificado o sentimento, uma forma interessante de assumir as rédeas da situação é descrevêla de forma detalhada, mas colocandose na terceira pessoa. Parece simplista, mas pesquisas mostram que quando narramos a situação, em voz alta ou por escrito, como se fôssemos uma testemunha e não um dos envolvidos diretamente, ganhamos uma objetividade impossível quando nos vemos como atores da cena.
Em vez de remoer o pensamento “O chefe foi muito injusto comigo, que raiva”, declarar – em voz alta ou por escrito – “O Daniel ficou com raiva quando achou que o chefe havia sido injusto com ele” reduz a carga emocional e abre novas formas de interpretação da situação.
É o truque maior – reinterpretar as coisas. Não são as situações em si que nos deixam tristes, nervosos, ansiosos, o que for. Nem tampouco as atitudes alheias são capazes de alterar diretamente nossos estados afetivos. Não percebemos, mas o que deflagra respostas emocionais são interpretações que fazemos das situações. O que pensamos sobre o que acontece determina a forma como reagimos.
Quando estamos atentos ao que sentimos, sabemos dar nome àquela emoção e, descrevendo-a objetivamente, reduzimos sua intensidade. Muitas vezes somos capazes de enxergar a situação por outro prisma, encontrando interpretações alternativas que não nos mobilizem tanto.
O leitor mais atento já percebeu que, sem abordar diretamente o tema, a ideia é continuar na campanha do setembro amarelo de prevenção do suicídio. Para combater o risco de acharmos que a vida está pesada demais para seguir em frente, a capacidade de lidar melhor com as próprias emoções é uma ferramenta excelente para torná-la não só mais leve, como mais agradável. Mesmo diante dos problemas.
Diferenciar as nuances das emoções é fundamental para a autorregulação