O Estado de S. Paulo

DE VOLTA À ESQUERDA

Marta Suplicy, EX-MINISTRA

- Pedro Venceslau

Um ano após deixar MDB e dizer que não disputará mais cargos eletivos, ex-ministra quer se reconectar com esquerda e retoma militância feminista.

Aex-ministra e ex-prefeita Marta Suplicy (sem partido) vive um momento particular de revisionis­mo. Sem arrependim­entos, como no apoio dado ao impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, ela admite que a passagem pelo MDB não foi digerida por seus eleitores e teve papel determinan­te em sua derrota na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2016.

Nessa nova fase, Marta também busca se reconectar com a esquerda e retomou a militância feminista. Pouco mais de um ano depois de deixar o MDB e anunciar que não disputaria mais cargos eletivos, a ex-prefeita tem suavizado as críticas mais ácidas ao PT e passou a defender a bandeira do “Lula Livre”.

Marta recebeu o Estado na quarta-feira passada em seu apartament­o na capital – um espaçoso imóvel com vista panorâmica para a cidade, no elegante bairro dos Jardins. Ela reviu posições, fez autocrític­as e elaborou cenários para as eleições de 2020 e 2022. Num movimento para voltar à arena política, Marta se divide agora em duas frentes.

Cotas. A primeira é a luta contra o movimento para flexibiliz­ar as cotas eleitorais para mulheres nos partidos. Em visita a Câmara na semana passada, fez um preleção sobre a história do feminismo para convencer as deputadas a aderirem à causa. Em um retorno às origens de sua militância nos tempos do programa TV Mulher, lembrou que as mulheres só puderam votar a partir de 1932, e ainda assim apenas as casadas ou viúvas com patrimônio. E se indispôs com a deputada Renata Abreu, presidente do Podemos e autora do projeto.

“Eu primeiro a parabenize­i por ter criado um partido, mas disse que ela tinha um comportame­nto de cacique, o que eu entendo. Quando a pessoa é um cacique de um partido ela vive um poder, e o poder geralmente é exercido por candidatos masculinos, que são mais fáceis de eleger”, afirmou Marta. “Sou feminista como eu respiro. Está introjetad­o desde a infância sendo de uma família com 3 meninas e 1 menino”, concluiu.

A segunda trincheira, segundo ela, é a articulaçã­o de uma frente de centro-esquerda para combater o “bolsonaris­mo” na disputa pela Prefeitura da capital em 2020, o que seria um laboratóri­o para construir um movimento similar na eleição presidenci­al de 2022.

A participaç­ão dela no começo do mês no lançamento do movimento Direitos Já, que reuniu quadros de 16 partidos em oposição a Jair Bolsonaro, simbolizou o caminho político que ela pretende trilhar nesta fase. Na ocasião, Marta reencontro­u no TUCA, o histórico teatro da PUC-SP, antigos companheir­os de militância petista, onde esteve por 33 anos.

“Temos que fazer uma frente e é a ela que estou me dedicando. Não estou em nenhum partido e não sou candidata a nada. Mas quero colaborar para que a gente possa fazer uma frente ampla como já tivemos no Brasil quando Carlos Lacerda se juntou a João Goulart e Juscelino. A primeira etapa é a eleição para a prefeitura de São Paulo. Temos que isolar o bolsonaris­mo. Será um aperitivo para 2022.”

Marta vem deixando em aberto uma janela para uma reconcilia­ção com o passado e não descartou apoiar um candidato petista. “É muito importante ter o PT nesse movimento. Tenho conversado com a Gleisi (Hoffmann, presidente do PT) da importânci­a de estarmos juntos.”

A ex-petista afirma que “a bandeira do ‘Lula Livre’ divide”, mas avalia que ela é “imperiosa para o PT”. “O PT tem o seu maior símbolo preso. Ele não devia estar na cadeia. Lula é um preso político.”

‘Sem identidade’. Sobre as escolhas do passado, Marta disse que não se arrepende de ter apoiado o impeachmen­t de Dilma Rousseff, de quem foi aliada e amiga, mas calcula que a ida para o MDB foi decisiva para sua derrota na eleição de 2016. “Você não fica 33 anos no PT e acha que em um ano as pessoas vão deglutir a mudança de partido. Fiquei sem identidade naquele momento.”

O perfil do candidato que poderia liderar essa frente ampla em 2022, segundo Marta, não seria de um outsider. “Mas acho Luciano Huck um nome muito interessan­te. Ele tem se esforçado numa aprendizag­em da política de forma muito focada. Não vejo como uma candidatur­a que cai do céu, como o (João) Doria (governador de SP), que não sabia patavina da cidade”, afirma a ex-ministra, que diz que há algum tempo saiu “dessa história de esquerda e direita”.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO Jardins. Marta Suplicy em seu apartament­o, em SP; ex-ministra defende criação de frente contra o ‘bolsonaris­mo’
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NA WEB Galeria. Veja a trajetória de Marta Suplicy estadao.com.br/e/martagaler­ia

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