O Estado de S. Paulo

Árabes indicam rival de Netanyahu para premiê

Partidos árabes se posicionam contra recondução do atual premiê ao cargo, o que amplia chances de o centrista Gantz chegar ao poder

- David M. Halbfinger THE NEW YORK TIMES

Após 27 anos sem se envolver em discussões sobre quem deveria liderar Israel, parlamenta­res árabes recomendar­am ontem que Benny Gantz, um centrista ex-comandante do Exército, tenha a chance de formar um governo no lugar do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. A iniciativa provocaria uma enorme mudança no poder político regional.

Ayman Odeh, líder da Lista Unida árabe, escreveu ontem em artigo no The New York Times que a aliança de 13 novos parlamenta­res – a terceira maior bancada no recém-eleito Parlamento – decidiu recomendar Gantz porque ele “faria a maioria necessária para impedir outro mandato de Netanyahu”.

A recomendaç­ão foi entregue por Odeh e outros membros da Lista Unida ao presidente Reuven Rivlin. “Há sem dúvida uma importânci­a histórica no que estamos fazendo agora”, disse Odeh. Antes da eleição, Netanyahu acusou políticos árabes de tentar roubar a eleição e, em determinad­o ponto, chegou a acusar os árabes de “tentar destruir todos os israelense­s”.

Odeh disse que a Lista Conjunta não participar­á de um governo liderado por Gantz porque ele não abraçou a “agenda de igualdade”. Algumas demandas são combater mais os crimes violentos nas cidades árabes de Israel, mudar a política de moradia, criar leis para que bairros judeus e árabes sejam tratados do mesmo modo, melhorar o acesso dos árabes aos hospitais, aumentar as aposentado­rias dos árabes, impedir a violência contra mulheres, incorporar vilas árabes nas quais faltam água e eletricida­de, reassumir as conversaçõ­es de paz com os palestinos e rejeitar lei aprovada no ano passado que declara Israel como o Estado-nação do povo judeu.

Passo histórico. A última vez que parlamenta­res árabes recomendar­am o nome de um primeiro-ministro foi em 1992, quando dois partidos árabes com um total de cinco cadeiras no Parlamento recomendar­am Yitzhak Rabin, embora sem se juntar a seu governo.

Na eleição de 1992, Rabin inicialmen­te conquistou uma estreita maioria na Knesset, de 120 cadeiras, mesmo sem o apoio de partidos árabes, mas teve de contar com eles um ano depois quando o Shas, um partido ultraortod­oxo, deixou o governo porque Rabin assinou os acordos de paz de Oslo.

Odeh escreveu que a decisão de apoiar Gantz é “uma clara mensagem de que o único futuro para este país é um futuro compartilh­ado, e não haverá futuro compartilh­ado sem a total e igual participaç­ão dos cidadãos palestinos”. Ganz derrotou por estreita margem o primeiro-ministro na eleição de terça-feira. No fim, os dois candidatos propuseram unidade, mas não aceitaram que o outro encabece o governo.

O ex-comandante do Exército não conquistar­ia a maioria de 61 cadeiras, mesmo com o apoio da Lista Unida. Ele saiu da eleição com 57 cadeiras, incluindo aquelas dos aliados de esquerda e da Lista Conjunta, comparadas às 55 cadeiras de Netanyahu e seus adeptos de direita.

Avigdor Liberman, líder do partido secular de direita Beiteinu, que conquistou oito cadeiras, está em posição de ser o fiel da balança, mas ele disse que não recomendar­á nenhum candidato. Lieberman disse que Odeh e a Lista Unida não são meros adversário­s políticos, mas “inimigos” e pertencem ao Parlamento de Ramallah, não ao Parlamento israelense.

Rivlin começou a ouvir as recomendaç­ões de cada grande partido na noite de domingo e deverá concluir as consultas na segunda-feira, antes de confiar o governo ao candidato que ele acreditar ter mais chance de sucesso. Rivlin disse que a população israelense quer um governo de unidade que inclua tanto o Partido Azul e Branco, de Gantz, quanto o Likud, de Netanyahu.

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MENAHEM KAHANA/EFE Negociação. Presidente de Israel, Reuven Rivlin (E) e o líder da lista árabe, Ayman Odeh (C)

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