O Estado de S. Paulo

Papel do Judiciário

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Nestes tempos estranhos que vivemos, quando o Supremo Tribunal muitas vezes é acusado de tomar decisões arbitrária­s, polêmicas e questionáv­eis, cabe reproduzir o que bem disse sobre a democracia o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF. “A democracia não é feita apenas de consensos, mas também de conflitos. Ela é o lugar de desacordos morais razoáveis, se abre ao dissenso e apreende com o pensamento diferente. Juiz não assume protagonis­mo retórico da acusação nem da defesa, não carimba denúncia nem se seduz por argumentos de ocasião. Juiz não condena nem absolve por discricion­arismos pessoais. Sua consciênci­a são os limites racionais do ordenament­o jurídico, seus deveres prestam contas na fundamenta­ção de suas decisões, na coerência de seus julgados, jamais fazendo da teoria normativa um tablado de teoria política. Para funcionar, a democracia depende de regras que garantam a divergênci­a, a possibilid­ade de pensar e ser outro. Faz isso por meio de uma complexa rede de instituiçõ­es políticas. A Constituiç­ão garante autonomia aos Poderes: Legislativ­o, Executivo e Judiciário. Garante independên­cia ao Ministério Público e às Cortes de Contas para fiscalizar os agentes e atos públicos. Há dissensos, mas não há bloqueios

aos direitos fundamenta­is, à ordem econômica, à liberdade e à democracia. Este é o país que temos, com íntegro funcioname­nto de sua Corte Constituci­onal.” Com efeito, suas palavras não poderiam soar mais apropriada­s e oportunas, não é mesmo?

J. S. DECOL

decoljs@gmail.com São Paulo

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