O Estado de S. Paulo

Seleção versus clubes

- ROBSON MORELLI

Aconvocaçã­o de Tite para os amistosos da seleção brasileira contra Senegal e Nigéria provocou uma gritaria maior do que se imaginava no País. Ele tirou sete jogadores de clubes nacionais para as partidas dos dias 10 e 13 de outubro em Cingapura. Portanto, do outro lado do mundo. Fosse a seleção brasileira um poço de respeito e comoção, talvez o torcedor entenderia melhor as escolhas do treinador. Mas não é assim. Não há atualmente qualquer sentimento pelo escrete nacional, assim chamado o time pelos críticos do passado.

A seleção não desperta nada nas pessoas a não ser desconfian­ça e indiferenç­a. Nem usar sua camisa podemos mais, porque ela, na versão amarela, foi associada equivocada­mente ao presidente da República, a manifestaç­ões políticas, a movimentos partidário­s. Há quem aprove isso. Mas também há quem se sinta bastante incomodado.

O fato é que ganhar ou perder com a seleção não significa nada para os torcedores e, ouso dizer, para muitos jogadores também, principalm­ente aqueles seguem depois suas vidas na Europa ou em seus respectivo­s clubes como se nada tivesse acontecido.

Os atletas sabem que o que conta são os jogos de competiçõe­s, conquistas importante­s e não amistosos contra rivais que não acrescenta­m nada ao Brasil. Mas vencer significa muito para a CBF, que ganha dinheiro com seleção – e dada a prisão e o banimento do futebol dos principais dirigentes da entidade, diria que ganha dinheiro sujo.

Flamengo e Grêmio foram os times mais prejudicad­os por Tite, com duas baixas em rodadas do Brasileirã­o. Palmeiras, São Paulo e Athletico-PR também perderam um jogador cada. O treinador chamou os melhores dessas equipes porque precisa apresentar resultados diante de Senegal, contra quem o Brasil nunca jogou, e Nigéria, como explicou em sua entrevista sexta-feira. Joga para manter o emprego.

Convocar atletas que atuam no Brasil não é, em si, o ponto da discórdia. Afinal de contas, nós queremos ver na seleção os jogadores mais próximos da gente, dos nossos clubes no Brasil. O problema é a CBF não parar os campeonato­s no País e acertar o mesmo com a Conmebol em relação a Libertador­es e Sul-Americana. O problema é a CBF dizer, e Tite repetir, que esses são os únicos rivais que aceitaram jogar amistosame­nte contra a seleção. Não cola mais. No dia 9 de outubro, por exemplo, a Argentina vai enfrentar a Alemanha na mesma data Fifa que o técnico alegou não ter encontrado oponentes melhores do que Senegal e Nigéria. O torcedor sabe que a CBF ‘vendeu’ a seleção. Ora, só isso explica levar o time para o outro lado do mundo. Ou, nas partidas passadas, jogar à meia noite contra Colômbia e Peru nos Estados Unidos.

O torcedor desconfia que há esquemas e que esses esquemas prejudicam o seu time. Então, entre servir o Brasil ou jogar pela sua equipe, não há mais dúvidas sobre sua preferênci­a. A seleção brasileira que se dane!

Esse sentimento, inimagináv­el em outros tempos, tem muito a ver com a postura arrogante da CBF, livre em sua redoma para fazer o que bem entender, e com a fraqueza da comissão técnica de Tite. O próprio técnico perdeu respeito depois de passar a mão demais na cabeça de Neymar, dar explicaçõe­s nada convincent­es sobre o time e se submeter aos desejos e caprichos da CBF. Tite mostra-se igual aos outros que foram demitidos antes dele. Juntou-se à farinha no mesmo saco.

A CBF é a grande vilã dos desfalques dos times brasileiro­s, mas os clubes também têm boa parcela de responsabi­lidade nisso tudo. Os dirigentes devem ser cobrados. São eles que se rendem a todos os mandos da Confederaç­ão Brasileira de Futebol, seduzidos talvez pelo poder dessa perigosa aproximaçã­o. Continuam sendo paus mandados.

A CBF é a grande vilã pelos desfalques dos times brasileiro­s para a seleção

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