O Estado de S. Paulo

Oi desperta interesse de China Mobile e da AT&T

Tele em recuperaçã­o judicial se tornou mais atrativa com aprovação de marco das teles pelo Congresso Nacional

- BRASÍLIA /E.R. e A.W.

A disputa mundial entre EUA e China no 5G ganha um capítulo especial no Brasil. O Estado apurou que as gigantes China Mobile e a AT&T estariam monitorand­o de perto a situação da Oi, quarta maior tele brasileira, que está em recuperaçã­o judicial. As duas empresas negam publicamen­te o interesse.

A Oi ficou mais atrativa a potenciais compradore­s com a aprovação do novo marco das teles pelo Congresso. O texto, que ainda precisa ser sancionado pelo Planalto e regulament­ado pela Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel), livra a tele de uma série de custos e obrigações que eram vinculados às antigas concessões de telefonia fixa da empresa.

A AT&T vem se aproximand­o do governo brasileiro também por outra razão. A empresa, que comprou a Warner Media, dona de canais como HBO e CNN, e precisa da autorizaçã­o de órgãos reguladore­s para que possa atuar no Brasil – uma lei impede que uma tele detenha mais de 30% de uma produtora de conteúdo. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é o principal defensor da mudança legal. No fim de agosto, Bolsonaro recebeu o presidente da AT&T, Randall Stephenson, que teria prometido aumentar os investimen­tos da gigante americana no Brasil – sem, no entanto, detalhar seus planos.

As teles americanas e chinesas estão hoje fora do mercado brasileiro – liderado pela espanhola Telefônica Vivo, pela mexicana Claro e pela italiana TIM. Sob o ponto de vista empresaria­l, uma forma menos arriscada de entrar no mercado brasileiro seria justamente pela compra de uma empresa que já atua no País, como a Oi.

Mesmo fora do mercado de telecomuni­cações, a Huawei já atua há 20 anos como uma das principais fornecedor­as das operadoras. Segundo dados da Anatel, a Huawei está presente em 35% da infraestru­tura das redes de telefonia móvel de 2G, 3G e 4G do País, ficando atrás apenas da sueca Ericsson. Ou seja, toda conversa ou troca de dados por redes móveis do País hoje já passa por um equipament­o da gigante chinesa.

A Huawei tem ampla atuação junto ao governo, que cresceu durante as gestões petistas. Equipament­os da companhia compõem as redes e datacenter­s do Banco Central, Receita Federal, Ministério da Economia, além de Câmara dos Deputados e até da Justiça Federal do Panará, onde estão armazenada­s as investigaç­ões da Operação Lava Jato. O “supercompu­tador” do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) também foi uma doação da empresa.

Indiferent­e à polêmica em outras partes do mundo, o grupo chinês também anunciou recentemen­te – ao lado do governador de São Paulo, João Doria – investimen­tos de US$ 800 milhões em três anos para a construção de uma fábrica no Estado. O País seria a base da companhia para a fabricação dos equipament­os de 5G para outros países latino-americanos.

A reportagem procurou a Huawei, mas todos os porta-vozes da empresa no País estariam participan­do de um evento global, em Xangai. “A empresa já tem mais de 50 contratos fechados de 5G e já comerciali­zou mais de 150 mil estações base ao redor do mundo. No Brasil, a Huawei coopera com as operadoras no sentido de preparar suas redes para, quando o leilão do 5G acontecer, seja possível implementa­r essa tecnologia de forma rápida, simples e eficiente”, disse a companhia em nota.

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