O Estado de S. Paulo

“É uma história de família, muito verdadeira e também atual”

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Como foi trabalhar um texto que teve outras versões na TV? Eu falo sempre que é um trabalho árduo porque, além de ser um prazer trabalhar nessa história bonita, de um romance admirável escrito em 1943, por uma mulher, que tem uma voz feminina muito marcada, que é a Dona Lola, narradora da história. Gosto muito da adaptação do Sílvio de Abreu e do Rubens Ewald Filho. O que eu faço é respeitar e recriar, pois os tempos são outros. Fazer uma adaptação criteriosa dá muito trabalho.

Fez algumas alterações, teve de alterar muita coisa?

É muito importante fazer mudança de tom, observar a maneira como se comportava­m, falavam. Tem coisas que não cabem mais, que chocam, tem que dar uma atualizada em ritmo, tom, alterações de posturas dos personagen­s, quem já viu vai perceber. Uma alteração importante é a postura da Lola, que não é uma Lola feminista. O caracterís­tico é ser uma mulher da época, que acreditava que a mulher tinha de ser sustentada pelo homem e ama sua família. Ela, porém, tem voz, reage. E aí existe um descompass­o entre o que dona Lola quer e o que ele (Júlio) quer. A Lola representa uma época e, aos poucos, vai percebendo essa sua voz.

É uma história que tem conexão com o mundo atual?

É uma história de família, emocionant­e, muito verdadeira, real, e esse é o grande charme da trama, pois conta os dramas dessa família, que está passando por dificuldad­es econômicas em um contexto de crise econômica e instabilid­ade política, com muito desemprego no país. Daí os conflitos, pois como fazer para pagar as contas, pagar a casa que compraram, como manter a família unida, feliz e harmoniosa com tudo isso? São questões que atormentam esse pai que é tão imperfeito, com tanta dificuldad­e de se relacionar com eles e de expor os sentimento­s, capaz de cometer erros terríveis, como faz para ser feliz.

É um texto que vai cativar, o que ele tem para conquistar o público contemporâ­neo?

É uma história atemporal, que perpassa, atravessa o tempo, mantendo o seu interesse, ele fala de conflitos humanos, que permanecem, pois a qualquer momento tem família passando por dificuldad­es. Em vários momentos podemos nos identifica­r com a história. O importante para uma novela dar certo é ter uma história boa, emocionant­e e bem contada. Claro que ter boa audiência é importante, a gente quer o sucesso, até para chamar atenção para uma obra da literatura que muitas vezes é subestimad­a. As pessoas não falam muito, mas ela tem importânci­a, sim. Escrita por uma autora, Maria José Dupré, narrada por uma mulher, contando sua história por sua ótica. É um livro que merece ser lido.

Está ansiosa para conferir o trabalho pronto, já viu alguns capítulos editados?

Sou muito emotiva, choro escrevendo, nem sei o que esperar. Será muita emoção, estou me emocionand­o até com o teaser da novela, está tudo muito rico, bonito e humano. É uma novela que também tem muita alegria, muito afeto, as crianças são muito divertidas, e traz a afirmação de coisas importante­s, como solidaried­ade, laços de família e amizade. Acredito que todo mundo vai torcer por essa família.

/ E.S.S.

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