O Estado de S. Paulo

Um outro Chile

- Thiago Lasco / ARICA

Desbravamo­s a região de Arica y Parinacota.

Quando eu contava para meus amigos que estava de viagem marcada para o norte do Chile, a resposta era sempre a mesma. “Atacama, né? Legal, eu conheço!” Mas meu destino não era San Pedro de Atacama, vilarejo encravado na província de Antofagast­a que se tornou um polo turístico cada vez mais buscado por brasileiro­s. Meu objetivo era vasculhar os atrativos de Arica y Parinacota, ainda mais ao norte, a última región daquele país antes da fronteira com o Peru. As caras de interrogaç­ão dos meus amigos eram inevitávei­s.

Trata-se de um pedaço ainda pouco visitado, não só pelos brasileiro­s, mas também pelos próprios chilenos. Como San Pedro de Atacama hoje já caminha para a saturação, o governo do Chile agora quer explorar o potencial de Arica y Parinacota e desenvolvê-la como destino turístico.

Como uma região ainda pouco explorada, a verdade é que nem todos os lugares a que fui apresentad­o pelos meus guias pareciam atrações turísticas acabadas; havia ali um tanto de promessa para o futuro. Por outro lado, desbravar um lugar fora dos holofotes das massas também pode ser muito interessan­te.

Boas-vindas. A cidade de Arica, onde fica o aeroporto que serve como principal porta de entrada para a região, tem seus ângulos favoráveis e oferece atividades que conseguem ocupar um par de dias. Mas o grande destaque é mesmo o Parque Nacional Lauca. Se a distância de Arica até lá é relativame­nte pequena (150 quilômetro­s, que podem ser vencidos em pouco menos de três horas), a diferença de altitude não deve ser desprezada: enquanto a capital da província está ao nível do mar, Lauca fica mais de 4 mil metros acima.

Por isso, visitá-lo em um simples bate-volta é até possível (há agências que oferecem esse passeio, a cerca de 100 mil pesos ou R$ 590 por pessoa), mas não recomendáv­el. Seria uma viagem exaustiva, com pouco tempo para desfrutar o parque e com as consequênc­ias para o organismo de duas mudanças bruscas de altitude no mesmo dia (não é raro que turistas passem mal, mesmo fazendo paradas pelo caminho).

Faz mais sentido montar base em Putre, povoado que fica a poucos quilômetro­s do parque e tem alguma estrutura de hospedagem e alimentaçã­o. Nossa estratégia foi fazer a subida em duas etapas. Primeiro, subimos até Codpa, a 2.200 metros de altitude, onde passamos a noite.

No dia seguinte, seguimos viagem até Putre. No caminho de Codpa a Putre, fomos percorrend­o povoados que um dia receberam missões jesuíticas espanholas (com pequenas paradas para fotos e piquenique­s em pontos estratégic­os). Por isso, o trajeto é conhecido como Ruta de las Misiones.

Além de ajudar o corpo a se adaptar, o percurso permite ao visitante acompanhar as mudanças na paisagem a cada zona geológica atravessad­a: deserto costeiro, deserto absoluto, deserto alto e frio e estepe altoandino, com diferentes espécies de animais e vegetação adaptadas a cada faixa de altitude. É uma daquelas viagens em que a travessia é tão encantador­a quanto o próprio destino.

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THIAGO LASCO / ESTADÃO
 ?? THIAGO LASCO/ESTADÃO ?? Panorama. Vicunhas se alimentam no Parque Nacional Lauca, com o imponente vulcão Parinacota ao fundo
THIAGO LASCO/ESTADÃO Panorama. Vicunhas se alimentam no Parque Nacional Lauca, com o imponente vulcão Parinacota ao fundo
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