Após morte de menina, Witzel defende política de confronto
Dois dias após a morte de Ágatha Félix, de 8 anos, baleada no Complexo do Alemão, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), criticou o uso do caso pela oposição e defendeu a ação policial e a política de segurança com base no enfrentamento. Segundo ele, a morte da menina “foi caso isolado”.
Governador do Rio critica suposto uso pela oposição da morte da garota como palanque político e diz que o caso é isolado. Segundo ele, os usuários de drogas são os ‘culpados diretos’. General Mourão, presidente em exercício, põe em dúvida versão da família
Dois dias após a morte de Ágatha Félix, de 8 anos, baleada durante uma operação policial no Complexo do Alemão, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), criticou o suposto uso pela oposição da morte da garota como palanque político, o que classificou como “indecente”. E transformou uma entrevista sobre o caso em defesa enfática da própria política de segurança. Caracterizada por confrontos armados com criminosos, principalmente em comunidades pobres, a ação estimulada pelo governador tem levado a críticas por, frequentemente, envolver mortes de civis.
Witzel afirmou que a morte de Ágatha “foi um caso isolado” e defendeu o enfrentamento. “A política de segurança pública que eu determinei está mostrando resultados favoráveis, está reduzindo os índices de criminalidade, trazendo de volta a paz à população, e nós estamos retomando territórios até então dominados pelo crime organizado”, disse. “Eles (os secretários de Polícia Civil e Militar) estão apresentando resultados nunca antes alcançados. Estou satisfeito, e não há motivo para um fato isolado como esse servir para modificar todo o trabalho realizado”, afirmou. “Nós não temos a menor intenção de parar o que está sendo feito.”
Acompanhado dos secretários da Polícia Militar, Rogério Figueredo, e da Civil, Marcus Vinicius Braga, o governador destacou que a polícia não procura o enfrentamento. “Quem cria (confrontos com a polícia) são as organizações criminosas, que querem parar a segurança pública do Rio de Janeiro. Nós não podemos embarcar nessa canoa furada”, disse. Para Witzel, “sem confronto” os índices de criminalidade não estariam caindo como demonstram as estatísticas do Instituto de Segurança Pública. De janeiro a agosto, o total de homicídios dolosos no Estado recuou 21%, mas a letalidade policial subiu 16%, ante o mesmo período de 2018.
O governador também acusou os usuários de drogas como “culpados diretos” pela morte
de Ágatha. “Aqueles que usam a maconha, a cocaína, de forma recreativa, façam uma reflexão, porque você é diretamente responsável pela morte da menina Ágatha”, afirmou. “Você tirou a vida dessa menina, você que dá dinheiro para alimentar esses genocidas que usam de escudo humano as comunidades. Quem fuma maconha, cheira cocaína e usa entorpecentes ajudou a apertar esse gatilho.”
Instado a dar uma mensagem à família de Ágatha, Witzel disse que “não sou um desalmado, sou uma pessoa de sentimentos”.
“Mas não é porque nós temos um fato terrível como esse que nós vamos parar o Estado. A gente tem de continuar, ter forças para continuar. Não é porque tem um acidente de carro que nós vamos tirar todos os carros da rua”, comparou. E negou que seja mais brando com policiais que erram do que com criminosos. “Eu não tenho bandido de estimação.”
O presidente em exercício, Hamilton Mourão, também saiu em defesa dos policiais, frisando que o Rio vive em guerra e ainda colocou em dúvida a versão
“Aqueles que usam maconha, a cocaína, de forma recreativa, façam uma reflexão, porque você é diretamente responsável pela morte da menina Ágatha.” Wilson Witzel
GOVERNADOR DO RIO
da família de Ágatha. “É aquela história, é a palavra de um contra o outro. E vocês sabem muito bem que nessas regiões aí de favela se o cara disser que foi traficante que atirou (contra a criança), no dia seguinte ele está morto”, disse.
Para o presidente interino, a morte de Ágatha é culpa do narcotráfico. “Eu comandei a tropa que operou no (Complexo do) Alemão e na Maré, e o narcotráfico coloca a população na rua e atira contra a tropa. Então, ele (narcotráfico) coloca em risco a própria gente que habita aquela região.”
Investigação. O titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Daniel Rosa, disse ontem que não há garantia de que o fragmento de bala encontrado no corpo da menina Ágatha aponte para a arma de onde partiu o tiro que a vitimou. Nesta segunda-feira, oito armas de oito policiais militares que faziam patrulhamento no momento do disparo foram recolhidas para perícia. “Com o que a gente tem (fragmento), não sabemos se vamos conseguir efetivamente definir qual calibre de arma partiu.”
Nesta segunda, oito PMs que atuaram na noite de sexta foram ouvidos pelos investigadores – eles chegaram em momentos distintos e não deram declarações. Todos tiveram as armas recolhidas.
Conforme um depoimento do sábado, havia outras duas crianças na Kombi em que Ágatha Félix foi morta. Momentos antes de a menina ser baleada nas costas, elas desembarcaram acompanhadas de um casal. Os tiros que vitimaram Ágatha foram disparados enquanto a família abria o porta-malas do veículo para pegar as bolsas.
Os detalhes foram dados pelo motorista da Kombi, conforme relata o advogado da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) Rodrigo Mondego, que acompanhou o caso na Delegacia de Homicídios. O motorista desceu para ajudar a família, quando viu dois homens sem camisa em uma moto. “A polícia matou um inocente. Não teve tiroteio nenhum. Foram dois disparos que ele deu. É mentira!”, gritava um homem identificado como o motorista no enterro de Ágatha./