O Estado de S. Paulo

Ativista brasileira na Cúpula

Ativista brasileira discursou na Cúpula do Clima da ONU e pediu ações urgentes às autoridade­s

- Giovana Girardi ENVIADA ESPECIAL / NOVA YORK

Paloma Costa, de 27 anos, coordenado­ra de clima da ONG Engajamund­o, falou aos líderes mundiais ao lado da sueca Greta Thunberg.

Apesar de o governo brasileiro ter ficado de fora das declaraçõe­s oficiais de autoridade­s durante a Cúpula do Clima da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), uma vez que não apresentou nenhuma proposta de aumentar suas ambições no combate às mudanças climáticas, uma jovem brasileira teve a chance de se manifestar ontem. E em um espaço de honra.

Após a abertura oficial da cúpula pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, a ativista Paloma Costa, de 27 anos, estudante de Direito da Universida­de de Brasília, coordenado­ra de clima da ONG Engajamund­o, que só trabalha com jovens, se dirigiu aos líderes mundiais ao lado da mais popular das jovens ambientali­stas, a sueca Greta Thunberg.

Paloma, que também é membro do Instituto Socioambie­ntal, lembrou em sua fala o líder indígena Ailton Krenak. “Os povos indígenas vêm resistindo há anos. E nós? Vamos ser capazes de resistir?”, indagou sobre a capacidade da humanidade de se adaptar às transforma­ções que o planeta vem sofrendo.

Mas, disse ela, usando brincos indígenas (para lembrar aqueles que quase não estão presentes na ONU), a juventude está mobilizada: “Não vamos trabalhar com empresas que desmatam, não vamos ficar quietos. Já mudamos nossos hábitos, mas vocês não estão seguindo a gente”, desafiou Paloma.

Em seu discurso, a ativista lembrou que o mundo assistiu horrorizad­o às queimadas da Amazônia. Segundo Paloma, todos oraram pela floresta e pelos povos indígenas, mas faltam ainda ações concretas.

“Precisamos ver a Amazônia pegando fogo para agir? Desde a minha primeira greve climática, meio bilhão de árvores foram destruídas na Amazônia, e as pessoas me perguntam se eu tenho medo de defender a floresta. Os defensores do meio ambiente estão em risco, mas eu não tenho medo. Eu tenho medo de morrer por causa da crise do clima.”

Educadora ambiental e cicloativi­sta, Paloma tem um projeto chamado Ciclimátic­os no Brasil, por meio do qual ela já percorreu, de bicicleta, mais de 500 km por comunidade­s já afetadas pela mudança do clima, como populações indígenas.

Sensibiliz­ação. Como parte da Engajamund­o, ela ajudou a organizar a cúpula jovem do clima, que ocorreu paralelame­nte à cúpula principal, e foi escolhida pessoalmen­te pelo secretário­geral da ONU para abrir o evento. “Acredito que fui escolhida, consideran­do esse momento da crise ambiental do Brasil, justamente por ser brasileira, mulher e trabalhar com povos indígenas”, disse ao Estado depois de falar à assembleia.

Paloma contou que buscou na própria experiênci­a uma forma de conseguir emocionar os líderes mundiais. “Sei que há índios aqui neste momento, mas quantos são? Cadê eles nos espaços de decisão? Cadê a gente? O governo brasileiro disse que não vai revisar suas metas (de redução de emissões de gases de efeito estufa). Mas nós estamos no Brasil, fazendo nossa parte, não dando desculpas”, disse a ativista.

Ela, que vem trabalhand­o em projetos de educação climática para crianças e adolescent­es, disse que tenta levar ao Ministério da Educação (MEC) uma proposta de incluir a metodologi­a no currículo. “Nossos líderes vêm aqui e não encaram de forma séria a questão climática. Como se já não estivesse afetando a gente”, afirmou. Ela lembrou que, no caso do Brasil, falar em floresta e em clima são coisas conectadas. “Pensar em uma economia florestal vai ajudar na questão climática”, disse Paloma. “Manter a floresta em pé é que vai garantir a soberania”, afirmou.

Sueca. Ao lado de Paloma, a sueca Greta Thunberg também discursou. “Como vocês ousam?”, perguntou, sobre a inação dos países em reduzir emissões de gases de efeito estufa. “Isso tudo está errado, eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola do outro lado do oceano. Vocês roubaram os meus sonhos e minha infância com palavras vazias”, disse. Greta começou em agosto do ano passado um movimento silencioso, faltando às aulas nas sextas-feiras para pedir ao governo sueco ações mais efetivas. Seus atos influencia­ram jovens em todo o mundo, que engrossara­m as chamadas “Fridays for Future”.

“O mundo inteiro orou pela floresta e pelos povos indígenas, lutando por sobrevivên­cia. Nós não precisamos de orações, precisamos de ações.” Paloma Costa

ATIVISTA BRASILEIRA

 ?? JOHANNES EISELE / AFP ?? Currículo. Paloma quer educação climática na escola; ao fundo, Greta disse ter a infância roubada por ‘palavras vazias’
JOHANNES EISELE / AFP Currículo. Paloma quer educação climática na escola; ao fundo, Greta disse ter a infância roubada por ‘palavras vazias’

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