O Estado de S. Paulo

Mortes de crianças

Polícia não concluiu investigaç­ão nem prendeu ninguém nos homicídios relatados durante ação de agentes

- Caio Sartori / RIO /COLABORARA­M FAUSTO MACEDO, LUIZ VASSALLO e F.G.

Apurações de 5 casos em que crianças supostamen­te morreram por ação policial estão sem solução.

A Polícia Civil do Rio não concluiu as investigaç­ões nem prendeu os responsáve­is de nenhum dos cinco casos de crianças supostamen­te mortas durante ações policiais no Estado neste ano. O assassinat­o mais recente, da menina Ágatha Félix, de 8 anos, voltou a pressionar as instituiçõ­es policiais e a gestão Wilson Witzel (PSC).

Procurada para elucidar o andamento das apurações, a Polícia Civil só deu informaçõe­s específica­s sobre as investigaç­ões relativas a Jenifer Cilene Gomes, de 11 anos, morta em fevereiro em Triagem, na zona norte do Rio. Segundo a PM, a apuração, diferentem­ente do que disse a família da jovem, aponta que a bala teria partido de uma troca de tiros entre facções. O caso, porém, ainda está em investigaç­ão na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).

Além dela e de Ágatha, três crianças foram mortas por balas perdidas no Rio neste ano. O caso de Kauan Peixoto, de 12 anos, está na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, que “continua investigan­do o crime”; o de Kauan Rozário, de 11, cabe à 34ª DP (Bangu); e o de Kauê Ribeiro dos Santos, de 12, teve registro feito na 27.ª DP (Vicente de Carvalho).

Os episódios têm em comum o fato de as famílias acusarem a PM de cometer os crimes. “Minha neta estava armada por acaso

para poder levar um tiro?”, disse Aílton Félix, avô de Ágatha. A corporação afirma que os policiais militares foram atacados e tiveram de revidar.

Ontem, um protesto contra a política de segurança de Witzel reuniu centenas de pessoas na Assembleia Legislativ­a do Rio. Tia de Ágatha, Daniele Félix participou do ato. “Estamos aqui para cobrar Justiça. Que este caso não seja mais um na estatístic­a de bala perdida dentro da comunidade”, disse. “Ágatha era uma menina linda de 8 anos que estudou a manhã inteira, foi passear com a mãe à tarde e estava a cinco minutos de casa.”

Ministério Público. A Procurador­ia Federal dos Direitos do Cidadão, braço do Ministério Público Federal, encaminhou ontem ao Conselho Nacional do MP e à Procurador­ia-Geral de Justiça do Rio um ofício no qual defende a investigaç­ão da morte de Ágatha pelo Ministério Público fluminense.

Segundo a Procurador­ia, isso atenderia à determinaç­ão de que graves violações dos direitos humanos no contexto de intervençõ­es policiais fiquem sob responsabi­lidade de autoridade judicial ou do MP.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO Caso Ágatha. Grupo protestou em frente à Alerj ontem

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