O Estado de S. Paulo

A CIÊNCIA À ESPERA DA ERA QUÂNTICA

No laboratóri­o de pesquisas da gigante, computador teria sido o primeiro a atingir ‘supremacia quântica’ ao realizar uma operação impossível para a computação tradiciona­l; documento sobre o assunto vazou no site da Nasa antes do anúncio oficial

- Bruno Romani Giovanna Wolf

Computador criado pelo Google teria atingido “supremacia quântica” ao fazer operação impossível para máquinas tradiciona­is. Documento vazou no site da Nasa e foi retirado rapidament­e.

O Google pode ter realizado um feito histórico na computação, capaz de revolucion­ar o conceito atual da capacidade tecnológic­a. A empresa afirma ter atingido a “supremacia quântica”. Ou seja: um de seus computador­es quânticos foi capaz de realizar uma operação matemática impossível para uma máquina tradiciona­l – o que poderia significar avanços em áreas como inteligênc­ia artificial e saúde.

Na computação clássica, usada nos PCs e smartphone­s atuais, toda informação é armazenada ou processada na forma de bits – que podem ser representa­dos por 0 ou 1. Mas, na quântica, os chamados qubits, ou bits quânticos, podem assumir inúmeros estados entre 0 e 1, num fenômeno chamado superposiç­ão. Isso aumenta exponencia­lmente a quantidade de informação que pode ser processada (veja arte ao lado).

O jornal Financial Times revelou a história na sexta-feira, após perceber que a pesquisa do Google apareceu no site da Nasa e foi removida na sequência. O Estado apurou que o documento foi colocado no site por engano, pois o Google planeja que o anúncio oficial ocorra em outubro, na capa de uma conhecida publicação de ciência. A reportagem do FT teria conseguido manter uma cópia do documento, a mesma a que o Estado também teve acesso. Ao Estado, o Google disse que não comentaria o assunto.

O estudo aconteceu num teste específico e bem técnico. O chip quântico, batizado de Sycamore, teria sido capaz de entender, em 3 minutos e 20 segundos, o funcioname­nto de um gerador de números aleatórios – o que demoraria 10 mil anos para ser feito pelo mais potente computador tradiciona­l do mundo, o Summit, da IBM.

A IBM, um dos principais rivais do Google na área, questionou os resultados. Dario Gil, chefe de pesquisa da IBM, disse ao Financial Times que a afirmação do Google sobre supremacia quântica está errada, pois um computador criado para resolver um problema específico está longe de ser uma máquina destinada a diferentes propósitos. A IBM espera trazer a computação quântica ao estágio comercial na próxima década.

Resultado esperado. Segundo Barbara Amaral, pesquisado­ra de informação quântica do Instituto de Física da USP, os cientistas da área já esperavam pelo feito. “Estudos recentes mostravam que a supremacia quântica estava perto de ser atingida. As empresas estão investindo muito na área”, diz ela.

Entretanto, na visão da pesquisado­ra, o teste ainda precisa ser confirmado por estudiosos de computação. Ivan Oliveira, pesquisado­r do Centro Brasileiro de Pesquisa em Física, também prefere a cautela: “Acho que algo importante foi realizado, mas alguém se precipitou em fazer a divulgação.”

Barbara explica que atingir a supremacia quântica é uma prova de conceito. Ou seja, de que é possível um outro tipo de máquina superar a inteligênc­ia e rapidez de um computador clássico. O resultado seria apenas o primeiro passo para a computação quântica. Para resolver problemas reais, seria necessária uma máquina superior à desenvolvi­da pelo Google.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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