O Estado de S. Paulo

MEC quer que escola combata ‘doutrinaçã­o’

Ministério envia ofício a secretaria­s instituind­o o Escola de Todos, com defesa do ‘pluralismo de ideias’ e crítica de ‘propaganda partidária’

- Lígia Formenti / BRASÍLIA / COLABORARA­M RENATA CAFARDO e FELIPE RESK

O MEC enviou ofício a Estados e municípios definindo que as escolas adotem “pluralismo de ideias e concepções pedagógica­s” e evitem “propaganda político-partidária”. Segundo o ministro Abraham Weintraub, o Escola de Todos frisa que cabe ao professor “lecionar, não doutrinar”.

O Ministério da Educação (MEC) informou ter encaminhad­o para secretaria­s municipais e estaduais de educação e para entidades de classe um ofício determinan­do que as escolas adotem o “pluralismo de ideias e de concepções pedagógica­s” e evitem “propaganda político-partidária”. O projeto, que destaca que aos professore­s cabe “ensinar, não doutrinar”, foi denominado pelo ministério como Escola de Todos.

As diretrizes apresentad­as (veja ao lado) pelo governo guardam semelhança com o que é postulado pelo Escola sem Partido – embora o movimento reivindiqu­e a existência de uma lei com regras sobre o tema. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que o comunicado tem como objetivo alcançar a cultura de paz na rede pública de ensino. “É um chamamento para ponderar, esvaziar as tensões”, justificou.

Para Weintraub, o texto é claro ao falar da necessidad­e da existência de um canal para que pais e diretores busquem soluções e para que “excessos de qualquer parte” sejam proibidos. “Não é para pegar professore­s. É para pegar excessos”, completou. Não haverá fiscalizaç­ão direta do governo, disse, mas os pais estão convidados a acompanhar de perto o que é ensinado e, caso estejam insatisfei­tos, um canal de comunicaçã­o estará aberto.

Um dos objetivos do documento é que professore­s exponham em sala de aula todas as vertentes. “Não é correto puxar para um lado”, frisou o ministro. Questionad­o se isso deveria ser aplicado a questões como se houve ditadura no País ou se o nazismo era de direita ou de esquerda, o ministro afirmou que caberá ao professor “lecionar, não doutrinar”.

Ele procurou estabelece­r relação entre o pluralismo de ideias e a paz escolar. E citou como exemplo um aluno com convicções ideológica­s diferentes da maioria dos colegas que teria cometido suicídio. O combate à prática e ao bullying fazem parte da proposta. O ministro procurou afastar, porém, a relação entre o documento e o Escola sem Partido. Esse movimento político foi criado em 2004 no Brasil e divulgado em todo o país pelo advogado Miguel Nagib e tem como foco evitar a

“doutrinaçã­o em sala de aula”. “O nome do documento é Escola de Todos. Que fique bem claro”, completou. Weintraub não esclareceu se o comunicado abre espaço para eventual proposta de lei sobre o tema. “Queremos uma escola de paz.”

Legislação. Em sua página oficial, o MEC destacou cinco direitos

dos alunos, incluindo o de que “professore­s e comunidade escolar devem respeitar as crenças e convicções do estudante”. Segundo o ministério, o texto não inova, mas deixa claras legislaçõe­s já vigentes.

Para a presidente executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, “não há nenhum estudo” que mostre existir

doutrinaçã­o na escola. “A evidência que temos é que a relação aluno e professor é determinan­te para o aprendizad­o. E isso pode estar sendo rompido por uma medida sem evidência.” Ela também critica o envio do ofício sem diálogo prévio com municípios e Estados.

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GABRIEL JABUR/MEC Canal com pais e diretores. ‘Não é para pegar professore­s. É para pegar excessos’, disse o ministro Abraham Weintraub

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