O Estado de S. Paulo

Toffoli pauta ação que pode anular casos na Lava Jato

Plenário do Supremo julga habeas corpus de ex-gerente da Petrobrás que pediu prazo diferente de delatores para apresentar sua defesa

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Plenário do STF julga amanhã habeas corpus de ex-gerente da Petrobrás que pediu prazo diferente de delatores para apresentar sua defesa. Resultado pode levar à anulação de condenaçõe­s da Lava Jato.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, marcou para amanhã a análise de habeas corpus apresentad­o pela defesa de um ex-gerente da Petrobrás que discute o direito de um réu se manifestar na ação penal após as alegações dos delatores acusados no processo. O resultado desse julgamento pelo plenário da Corte pode levar à anulação de mais condenaçõe­s da Lava Jato e, eventualme­nte, beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na operação.

A discussão da controvérs­ia, ou seja, se um réu delatado pode se manifestar nos autos depois dos delatores para rebater as acusações, deve fazer com que os 11 integrante­s da Corte avaliem o entendimen­to que anulou, no mês passado, a condenação do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine.

O habeas corpus a ser examinado pelo plenário é do ex-gerente da Petrobrás Marcio de Almeida Ferreira. No papel, o processo de Ferreira guarda semelhança­s com o de Bendine. A defesa do ex-gerente alegou que ele sofreu grave constrangi­mento ilegal por não poder apresentar as alegações finais depois da manifestaç­ão dos réus colaborado­res.

No mês passado, por 3 votos a 1, a Segunda Turma do Supremo derrubou uma decisão do ex-juiz federal Sérgio Moro que havia condenado Bendine a 11 anos de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Foi a primeira vez que o Supremo anulou uma condenação de Moro, impondo uma das maiores derrotas da Lava Jato no tribunal até hoje.

Aquele julgamento também marcou a primeira vez que a ministra Cármen Lúcia discordou do relator da Operação Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, em julgamento­s cruciais da Lava Jato julgados na Segunda Turma da Corte, conforme mapeamento do Estado.

Isolado. Fachin foi contra derrubar a condenação imposta por Moro a Bendine, mas acabou isolado na Turma. Por outro lado, Cármen Lúcia se alinhou aos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowsk­i, dois dos maiores críticos da Lava Jato no Supremo, mas a ministra ressaltou que o seu voto naquela ocasião considerou as peculiarid­ades do caso específico de Bendine.

No seu voto, Lewandowsk­i afirmou que o direito de a defesa falar por último “decorre do direito normativo”. “Réus delatores não podem se manifestar por último em razão da carga acusatória que permeia suas acusações. Ferem garantias de defesa instrument­os que impeçam acusado de dar a palavra por último.” Ausente, o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, não participou da análise do caso na Turma, mas pode ser decisivo agora com o julgamento da questão no plenário.

Naquela ocasião, a maioria dos ministros acolheu a argumentaç­ão da defesa de Bendine, que criticou o fato de o executivo ter sido obrigado por Moro a entregar seus memoriais (uma peça de defesa) ao mesmo tempo em que delatores da Odebrecht apresentar­am acusações contra ele. Bendine havia solicitado prazo diferencia­do, mas o pedido foi negado.

Expectativ­a. Segundo o Estado apurou, a expectativ­a é a de que o plenário do Supremo se divida sobre o tema, expondo novamente as divergênci­as internas em matéria criminal. Integrante­s da Corte avaliam que o Supremo pode delimitar o entendimen­to da Segunda Turma, em um esforço para “reduzir danos” e preservar parte das sentenças já proferidas.

Nos bastidores, uma das alternativ­as discutidas é a de anular as condenaçõe­s somente daqueles réus que haviam solicitado durante o andamento da ação o prazo diferencia­do para a apresentaç­ão das alegações finais, mas tiveram o pedido rejeitado pela Justiça. Essa saída teria o potencial de diminuir o número de casos em que investigad­os poderão se livrar das condenaçõe­s, avaliaram fontes ouvidas reservadam­ente pela reportagem.

Com base na decisão da Segunda Turma que beneficiou Bendine, a defesa do ex-presidente Lula pediu à Corte que anule suas condenaçõe­s e também uma ação que ainda tramita na Operação Lava Jato. A defesa também pede que o petista seja posto em liberdade.

O pedido do advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente, abarca a sentença que condenou o petista a 12 anos e 11 meses de prisão imposta pela juíza Gabriela Hardt no processo do sítio de Atibaia (SP) e a condenação determinad­a pelo ex-juiz Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses no caso do triplex do Guarujá (SP) – a pena foi reduzida posteriorm­ente pelo Superior Tribunal de Justiça a 8 anos e 10 meses.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO - 6/12/2018 Tribunal. O presidente do Supremo, Dias Toffoli; julgamento está previsto para amanhã

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