Tratado UE-Mercosul
“...na verdade eu tinha viajado sem entregar meu relatório sobre os produtores de damasco de Roussillon, enojado com a inutilidade daquela tarefa, já que era evidente que, quando fossem assinados os acordos de livre-comércio que estavam sendo negociados com os países do Mercosul, os produtores de damasco de Roussillon não teriam a menor chance, a proteção que a denominação de origem de ‘damasco vermelho de Roussillon’ oferecia não passava de uma farsa ridícula, a invasão de damascos argentinos era inevitável, desde já se podia considerar praticamente mortos os produtores de damascos de Roussillon, não ia sobrar nenhum, nem um só, sequer um sobrevivente para contar os cadáveres.” Trata-se de transcrição de trecho do livro Serotonina (pág. 22), do escritor francês Michel Houellebecq, de onde se depreende que, não obstante o ritmo das queimadas na Amazônia poder efetivamente estar aumentando, elas não passam de mero pretexto para que governos de alguns países europeus – entre os quais pontifica a França, daí o empenho oportunista do presidente Emmanuel Macron – para barrar a confirmação do acordo Mercosul-União Europeia, cedendo às pressões dos seus fartamente subsidiados produtores agrícolas, que não teriam a mínima possibilidade de resistir à concorrência dos produtores do Mercosul. CARLOS F. MICHELETTI cfmicheletti@terra.com.br Ribeirão Preto