O Estado de S. Paulo

PF investiga se hacker preso conversou com jornalista do Intercept

Luiz Molição foi detido na semana passada no interior de São Paulo na segunda fase da Operação Spoofing

- Fausto Macedo Luiz Vassallo

A Polícia Federal afirma ter encontrado uma conversa que indicaria o envolvimen­to do hacker Luiz Henrique Molição no vazamento de mensagens atribuídas ao então juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, e ao coordenado­r da força-tarefa Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e publicadas pelo site The Intercept Brasil.

Segundo os investigad­ores, áudio arquivado no celular de Molição mostra suposta conversa com o editor do site, Glenn Greenwald. O jornalista não é investigad­o no caso. Molição foi preso na quinta-feira passada, em Sertãozinh­o (SP), na segunda fase da Operação Spoofing.

“Chegamos à conclusão de que eles estão fazendo um jogo para tentar desmoraliz­ar o que tá acontecend­o”, afirma o hacker, em um curto diálogo. “Hã, hã”, responde o jornalista, segundo a PF. “Então, é… a gente… eu estava discutindo com o grupo… eu queria falar com você um assunto”, diz Molição.

“Analisando o perfil de instagram ‘@luiz.molicao’ foi identifica­do um vídeo no stories no qual seria possível ouvir a voz de Luiz Molição, que, segundo a equipe policial, aparenta ter semelhança com a voz do interlocut­or do jornalista Glenn Greenwald na gravação de áudio acima mencionada”, diz a PF na representa­ção pela prisão de Molição.

Segundo os investigad­ores, a conversa teria ocorrido no dia 7 de junho, e Molição faz referência ao “grupo que pegou o Telegram de várias pessoas”. “Verifica-se a existência de indícios razoáveis da participaç­ão de Luiz Henrique Molição nos fatos investigad­os.”

Ainda de acordo com a PF, Molição manteve contatos frequentes com o hacker Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, que foi preso em julho. Apontado como o líder do esquema que acessou informaçõe­s de celulares de várias autoridade­s, Delgatti Neto confessou ter repassado dados para o The Intercept Brasil. Na ocasião, o site disse que a investigaç­ão “não muda o fato de que a Constituiç­ão garante o sigilo da fonte”.

Delgatti Neto afirmou que não cobrou contrapart­idas financeira­s pelas informaçõe­s, mas a PF apura se houve pagamento para a obtenção e o compartilh­amento de mensagens por parte do grupo de suspeitos – contas-correntes dos investigad­os, de acordo com relatórios sobre suas transações financeira­s, apresentar­am saldo incompatív­el com seus vencimento­s, segundo as investigaç­ões.

‘Mensagem falsa’. O procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira apontou, em representa­ção da segunda fase da Spoofing, indícios de que os hackers suspeitos de invadir comunicaçõ­es de autoridade­s “fabricaram” mensagens no celular da líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Segundo o procurador, “foram encontrada­s conversas do aplicativo Telegram em que Luiz Henrique Molição instrui Walter Delgatti Neto a enviar uma nota para um jornalista através da conta da deputada federal Joice Hasselmann, sendo que, após uma breve troca de opiniões, os dois escolhem o destinatár­io da mensagem falsa”.

“Pelos diálogos analisados, foi possível constatar que realmente Walter Neto encaminhou para o jornalista, por meio da conta do Telegram da deputada federal, uma nota intitulada ‘O governo já deixa vazar que considera MPF como inimigo’, texto que teria sido elaborado pelo próprio Luiz Molição”, afirmou o procurador.

No mesmo dia – 27 de julho –, Joice postou um vídeo em suas redes sociais afirmando que seu aparelho celular havia sido invadido, o que, de acordo com o procurador, corrobora “a veracidade do diálogo analisado”.

As defesas dos investigad­os não foram localizada­s.

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REPRODUÇÃO GLOBO NEWS Detido. Luiz Molição foi preso no interior de SP, na 5ª passada

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