O Estado de S. Paulo

Contas externas sofrem revisão e rombo cresce

Banco Central muda metodologi­a, revisa dados e déficit do Brasil com os demais países salta 46,6% em 2018 para US$ 21,9 bilhões

- Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

O Banco Central anunciou ontem uma ampla revisão de dados das contas externas do Brasil, que alterou as estatístic­as contabiliz­adas desde 2015. O resultado foi um retrato pior do balanço de pagamentos, com déficits maiores da conta corrente e investimen­tos produtivos menores no Brasil.

Os dados revisados do BC mostraram que, em 2018, o déficit em conta corrente somou US$ 21,946 bilhões. O rombo é 46,60% superior aos US$ 14,970 bilhões contabiliz­ados originalme­nte. O resultado da conta corrente traduz a relação do Brasil com outros países nas áreas comercial (exportaçõe­s menos importaçõe­s), de serviços (gastos com viagens e aluguel de equipament­os, entre outros) e de rendas (pagamentos de juros e remessas de lucros, entre outros).

Já o Investimen­to Direto no País (IDP) caiu com as revisões de dados. Em 2018, conforme a nova metodologi­a, estrangeir­os investiram no Brasil o equivalent­e a US$ 76,817 bilhões. O valor é 13,03% inferior aos US$ 88,324 bilhões anunciados originalme­nte.

Os dados mais recentes, de 2019, mostraram déficit em conta acumulado de US$ 30,277 bilhões de janeiro a agosto, pela nova metodologi­a. Já o IDP acumulado no período foi de US$ 41,213 bilhões. Sem as revisões, o déficit seria menor e o IDP, maior.

Essas revisões ocorreram para refletir de forma mais adequada o que de fato vem ocorrendo na relação entre o Brasil e o restante do mundo. O chefe do Departamen­to de Estatístic­as do BC, Fernando Rocha, explicou que, em 2006, uma lei eliminou a cobertura cambial obrigatóri­a das exportaçõe­s.

Isso significa que, ao vender para outros países, uma empresa brasileira deixou de ser obrigada a internaliz­ar todos os recursos provenient­es das exportaçõe­s.

“A partir da lei, tornou-se possível deixar esses dólares, ou uma parcela deles, no exterior. Depois, houve regulament­ações. De início, 30% no exterior. Depois, 100% no exterior”, explicou Rocha.

De acordo com o chefe do Departamen­to de Estatístic­as, ao não ocorrer a internaliz­ação de recursos, o BC perdia, naquele momento, a fonte de dados de informaçõe­s para o balanço de pagamentos.

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WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL - 29/6/2016 Recursos. Para Rocha, BC perdia sem internacio­nalização

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