‘Downton Abbey’ está de volta, agora em filme
“É como nos velhos tempos”, diz orgulhosamente Cora Crawley, condessa de Grantham (Elizabeth McGovern), enquanto Downton Abbey – O Filme, com previsão de estreia para 29 de novembro, reúne todos os rostos familiares numa agitada preparação para uma visita real. O público que viu nas seis temporadas as suaves atribulações do clã Crawley não precisa que eu o encoraje.
Os velhos tempos são, é claro, o que Downton vende – a magnífica fantasia de uma aristocracia gentil, de servos agradecidos. Retomando a história em 1927, pouco depois da época do fim da série, o filme encontra a mansão se preparando para um jantar e baile em honra do rei George V e da rainha Mary. Em meio ao burburinho, lady Cora distribui seus costumeiros olhares serenos e ordens discretas. Lady Mary (Michelle Dockery) continua falando dos problemas financeiros da propriedade. E Violet, a matriarca viúva (Maggie Smith), faz intrigas para garantir uma herança de família.
Entre a criadagem, Daisy (Sophie McShera) flerta com um encanador e, com a casa sem mordomo, o confiável Carson (Jim Carter) é bajulado para sair da aposentadoria. Ocorrem alguns pequenos furtos, uma rápida tentativa de assassinato e problemas com um aquecedor. O tema das conversas é a política e o escândalo de um clube gay clandestino. Com pouco enredo para avançar, a maioria dos personagens tem pequena participação. Na falta das saborosas tramas do passado, das ligações entre culturas e do inconveniente cadáver encontrado nos aposentos de lady Mary, o filme é de baixo teor calórico.
O roteirista, Julian Fellowes (criador da série de TV), sabe que suas histórias sempre se sustentaram menos em palavras do que nos looks que aparecem nas reuniões sociais.
Como sempre, Downton Abbey se atém ao status quo. Lady Mary se questiona sobre o futuro da aristocracia e é reassegurada – por um criado – de que ela e seus pares são não só relevantes, mas essenciais. E, quando a greve geral de 1926 é mencionada, serve só para Violet lembrar que sua criada ficou “rude” na ocasião. Entretanto, servindo num sistema de classes tão rígido, a criadagem de Downton é tão devotada aos patrões que mesmo quando ensaia uma rebelião é para negar a si mesma uma folga.
É admirável a habilidade de Fellowes em transformar os ingredientes amargos da opressão e desigualdade em uma refeição agradável. Assim, quando Henry Talbot (Matthew Goode) começa a valsar, pouco antes do fim do filme, com lady Mary, e garante a ela que Downton vai existir para sempre, os espectadores fiéis vão se sentir tão aliviados quanto a aristocrata.