O Estado de S. Paulo

‘Downton Abbey’ está de volta, agora em filme

- Jeannette Catsoulis THE NEW YORK TIMES / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

“É como nos velhos tempos”, diz orgulhosam­ente Cora Crawley, condessa de Grantham (Elizabeth McGovern), enquanto Downton Abbey – O Filme, com previsão de estreia para 29 de novembro, reúne todos os rostos familiares numa agitada preparação para uma visita real. O público que viu nas seis temporadas as suaves atribulaçõ­es do clã Crawley não precisa que eu o encoraje.

Os velhos tempos são, é claro, o que Downton vende – a magnífica fantasia de uma aristocrac­ia gentil, de servos agradecido­s. Retomando a história em 1927, pouco depois da época do fim da série, o filme encontra a mansão se preparando para um jantar e baile em honra do rei George V e da rainha Mary. Em meio ao burburinho, lady Cora distribui seus costumeiro­s olhares serenos e ordens discretas. Lady Mary (Michelle Dockery) continua falando dos problemas financeiro­s da propriedad­e. E Violet, a matriarca viúva (Maggie Smith), faz intrigas para garantir uma herança de família.

Entre a criadagem, Daisy (Sophie McShera) flerta com um encanador e, com a casa sem mordomo, o confiável Carson (Jim Carter) é bajulado para sair da aposentado­ria. Ocorrem alguns pequenos furtos, uma rápida tentativa de assassinat­o e problemas com um aquecedor. O tema das conversas é a política e o escândalo de um clube gay clandestin­o. Com pouco enredo para avançar, a maioria dos personagen­s tem pequena participaç­ão. Na falta das saborosas tramas do passado, das ligações entre culturas e do inconvenie­nte cadáver encontrado nos aposentos de lady Mary, o filme é de baixo teor calórico.

O roteirista, Julian Fellowes (criador da série de TV), sabe que suas histórias sempre se sustentara­m menos em palavras do que nos looks que aparecem nas reuniões sociais.

Como sempre, Downton Abbey se atém ao status quo. Lady Mary se questiona sobre o futuro da aristocrac­ia e é reassegura­da – por um criado – de que ela e seus pares são não só relevantes, mas essenciais. E, quando a greve geral de 1926 é mencionada, serve só para Violet lembrar que sua criada ficou “rude” na ocasião. Entretanto, servindo num sistema de classes tão rígido, a criadagem de Downton é tão devotada aos patrões que mesmo quando ensaia uma rebelião é para negar a si mesma uma folga.

É admirável a habilidade de Fellowes em transforma­r os ingredient­es amargos da opressão e desigualda­de em uma refeição agradável. Assim, quando Henry Talbot (Matthew Goode) começa a valsar, pouco antes do fim do filme, com lady Mary, e garante a ela que Downton vai existir para sempre, os espectador­es fiéis vão se sentir tão aliviados quanto a aristocrat­a.

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JAAP BUITENDIJK/FOCUS FEATURES/AP Lady Violet e Lady Mary. Maggie Smith e Michelle Dockery

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