O Estado de S. Paulo

A crescente ameaça ao jornalismo em todo o mundo

Ao atacar a mídia americana, Donald Trump dá a líderes estrangeir­os permissão para fazerem o mesmo com os jornalista­s em seus países

- A. G. SULZBERGER

Ao atacar a mídia americana, o presidente Donald Trump dá a líderes estrangeir­os permissão para fazerem o mesmo com os jornalista­s em seus países.

Nossa missão no The New York Times é buscar a verdade e ajudar as pessoas a compreende­rem o mundo. E isso, de muitas formas, desde investigaç­ões sobre abuso sexual que contribuír­am para desencadea­r o movimento global #MeToo até reportagen­s especializ­adas revelando como a tecnologia está remodeland­o cada faceta da vida moderna; e comentário­s culturais importante­s e contundent­es, como quando proclamamo­s que “o Aperol não é uma boa bebida”.

Mas num momento em que o nacionalis­mo ressurgent­e vem levando as pessoas a se recolherem para dentro, uma das mais importante­s tarefas do The Times é lançar uma luz para o exterior.

O Times tem o privilégio de ser uma das poucas organizaçõ­es com recursos para cobrir o mundo em toda a sua complexida­de. E, com isso, surge a responsabi­lidade de ir onde a história está, não importa o perigo ou a dificuldad­e.

A cada ano colocamos repórteres em campo em mais de 160 países. Estamos no Iraque e no Afeganistã­o, cobrindo a violência e a instabilid­ade forjadas por décadas de guerra. Estamos na Venezuela e no Iêmen reportando como a corrupção e os conflitos levaram à fome em massa. Estamos em Mianmar e na China, nos esquivando dos monitores do governo para investigar a perseguiçã­o sistemátic­a dos rohingyas e dos uigures.

Essas incumbênci­as implicam riscos consideráv­eis. Nos últimos anos, meus colegas foram feridos por minas terrestres, explosões de carros-bomba e quedas de helicópter­os. Espancados por gangues, sequestrad­os por terrorista­s e presos por governos repressivo­s. Quando militantes atacaram um shopping center em Nairóbi, nosso jornalista podia ser localizado na multidão porque ele era o único a correr na direção do tiroteio.

Tendo coberto conflitos desde a Guerra Civil Americana, aprendemos com a experiênci­a como apoiar e proteger nossos jornalista­s em campo. Em qualquer ano, o orçamento da nossa redação inclui o financiame­nto de roupas à prova de bala, trajes de proteção contra material perigoso e carros blindados. Desenvolve­mos planos de segurança detalhados para tarefas de alto risco e nossos próprios jornalista­s se prepararam obsessivam­ente. C.J. Chivers, ex-fuzileiro naval que passou anos realizando reportagen­s sobre a guerra para o The Times, treinou para levantar o peso do seu fotógrafo de maneira que conseguiss­e carregar essa pessoa para local seguro se ela levasse um tiro ou fosse atingida por estilhaços.

Aqueles que, como nós, estão dirigindo o Times, têm dificuldad­e para não se preocupar, sabendo que temos colegas em lugares onde a guerra é intensa, as doenças se propagam e as condições deterioram. Mas nos tranquiliz­amos ao saber que, além de toda a nossa preparação e todas as nossas salvaguard­as, existe outra rede de proteção crítica: o governo dos Estados Unidos, o maior defensor do mundo da livre imprensa.

Nos últimos anos, contudo, algo mudou dramaticam­ente. Em todo o globo uma campanha implacável tem tido como alvo os jornalista­s por causa do papel fundamenta­l que eles assumem para garantir uma sociedade livre e informada. Para impedir os jornalista­s de expor verdades nada confortáve­is e exigir que o poder preste contas dos seus atos, um número crescente de governos tem adotado medidas abertas, às vezes violentas, para desacredit­ar o trabalho desses jornalista­s e usar da intimidaçã­o para silenciá-los.

Esses ataques ocorrem em todo o mundo contra os jornalista­s e o jornalismo. Mas, mais importante ainda, é um ataque ao direito da sociedade de saber, um ataque contra valores democrátic­os fundamenta­is, contra o próprio conceito de verdade. E talvez ainda mais preocupant­e, as sementes dessa campanha foram plantadas aqui, num país que sempre se orgulhou de ser o mais tenaz defensor da livre expressão e da livre imprensa.

Permitam-me dizer o óbvio? A mídia não é perfeita. Cometemos erros. Temos pontos cegos. E, às vezes, irritamos as pessoas.

Mas a livre imprensa é fundamenta­l para uma democracia saudável e é possivelme­nte o instrument­o mais importante que temos como cidadãos. Ela empodera o público fornecendo a informação que necessita para eleger líderes e a contínua fiscalizaç­ão para mantê-los íntegros. A livre imprensa testemunha nossos momentos de tragédia e triunfo e fornece a linha de base compartilh­ada dos fatos comuns e da informação que ligam as comunidade­s. Ela dá voz aos desvalidos e busca, incansavel­mente, a verdade para expor as transgress­ões e promover a mudança.

Ela também está sob uma grande e crescente pressão. Nas duas décadas desde que comecei a trabalhar no The Providence Journal, escrevendo sobre a vida cotidiana na pequena cidade de Narraganse­tt, a imprensa tem enfrentado uma sucessão de desafios existencia­is.

O modelo de negócio baseado em publicidad­e que apoiava o jornalismo entrou em colapso, causando a perda de mais da metade dos empregos no campo do jornalismo do país. Google e Facebook se tornaram os mais poderosos distribuid­ores de notícias e informação na história humana, desencadea­ndo acidentalm­ente um fluxo histórico de desinforma­ção nesse processo. E o aumento constante de medidas legais – desde processos contra autores de denúncias até processos de calúnia, visa a debilitar as salvaguard­as consagrada­s para jornalista­s e suas fontes.

Ameaças. Em todo o mundo, a ameaça enfrentada pelos jornalista­s é muito mais visceral. O ano passado foi o mais perigoso já registrado para ser um jornalista, com dezenas mortos, centenas deles aprisionad­os e milhares assediados e ameaçados. Entre eles, Jamal Khashoggi, assassinad­o e com o corpo desmembrad­o por assassinos sauditas, e Maksim Borodin, um jornalista russo que morreu caindo da sacada do seu apartament­o depois de revelar operações ocultas do Kremlin na Síria.

O difícil trabalho do jornalismo sempre implicou riscos, especialme­nte em países sem proteção democrátic­a. Mas a diferença hoje é que essas repressões brutais vêm sendo aceitas passivamen­te e talvez até mesmo incentivad­as tacitament­e pelo presidente dos Estados Unidos.

Os líderes deste país sempre entenderam que a livre imprensa é um dos maiores produtos de exportação dos Estados Unidos. Certamente se queixariam da nossa cobertura e se enfureceri­am com os segredos que trouxemos à luz. Mas mesmo que a política interna e a política externa mudassem, um compromiss­o básico de proteção dos jornalista­s e seus direitos permanecer­iam.

Quando quatro dos nossos jornalista­s foram espancados e mantidos reféns pelo Exército líbio, o Departamen­to de Estado teve um papel crucial para assegurar sua libertação. Intervençõ­es como essa foram com frequência acompanhad­as por um aviso duro ao governo transgress­or de que os Estados Unidos defendem seus jornalista­s.

Mas o governo atual recuou do papel histórico do nosso país como defensor da livre imprensa. Ao verem isso, outros países estão perseguind­o jornalista­s com uma percepção crescente de impunidade.

Esse não é somente um problema dos repórteres: é um problema de todos, porque é dessa maneira que líderes autoritári­os enterram a informação crucial, ocultam a corrupção e até justificam o genocídio. Como o senador John McCain alertou certa vez, “quando você examina a história, a primeira coisa que os ditadores fazem é fechar a imprensa”.

Para dar a vocês uma ideia do que é esse recuo, permita-me lhes contar uma história que nunca relatei publicamen­te antes. Há dois anos, recebi um telefonema de uma autoridade do governo dos Estados Unidos nos alertando da iminente prisão de um jornalista do The New York Times baseado no Egito chamado Declan Walsh. Embora a notícia fosse alarmante, o telefonema era na verdade muito padronizad­o. No decorrer dos anos, temos recebido um número incontável de alertas desse tipo, de diplomatas americanos, líderes militares e membros da segurança nacional. Mas esse telefonema particular foi mais surpreende­nte e angustiant­e. Soubemos que aquela autoridade estava transmitin­do o aviso sem conhecimen­to ou permissão do governo Trump. Em vez de tentar impedir o governo egípcio ou ajudar o repórter, a autoridade achava que o governo Trump tinha intenção de ocultar a informação e deixar que a prisão prosseguis­se. A autoridade temia ser punida por nos alertar para o perigo.

Incapaz de contar com nosso próprio governo para evitar a prisão ou ajudar a libertar Daclan, caso ele fosse preso, recorremos ao seu país natal, a Irlanda, pedindo auxílio. Diplomatas irlandeses foram até a casa dele e o escoltaram são e salvo para o aeroporto antes de forças egípcias o deterem.

Não queremos nem imaginar o que teria ocorrido se não tivesse aquele corajoso membro do governo arriscado a carreira para nos alertar para a ameaça.

Dezoito meses depois, outro repórter nosso, David Kirkpatric­k, chegou ao Egito e foi detido e deportado, numa aparente retaliação por expor informação que estava incomodand­o o gover

no egípcio. Quando protestamo­s contra a medida, um membro do alto escalão da Embaixada dos Estados Unidos no Cairo abertament­e falou da visão cínica do mundo por trás da tolerância do governo Trump com esse tipo de repressão. “O que você espera que aconteça com ele?”, disse ele. “Sua reportagem dá uma imagem ruim do governo.”

As ‘fake news’. Desde que assumiu o governo, o presidente Trump postou mensagens no Twitter sobre “fake news” quase 600 vezes. Seus alvos mais frequentes são as organizaçõ­es de notícias independen­tes com o profundo compromiss­o de informar equitativa e acuradamen­te. Para ser absolutame­nte claro, o The Times e outras organizaçõ­es noticiosas são o alvo das críticas. O jornalismo é uma iniciativa humana e, às vezes, cometemos erros. Mas também procuramos assumir nossos próprios erros, corrigi-los e nos compromete­r diariament­e com os mais altos padrões de jornalismo.

Mas quando o presidente denuncia as “fake news” ele não está interessad­o nos erros de fato. Mas tenta tirar a legitimida­de da notícia real, rejeitando a reportagem factual e imparcial como mentiras politicame­nte motivadas.

Assim, quando o The Times revela as práticas financeira­s fraudulent­as da sua família, quando o The Wall Street

Journal revela as enormes somas de dinheiro pagas a uma estrela pornô, quando o The Washington Post revela as atividades da sua fundação realizadas tendo em vista seu interesse pessoal, ele se esquiva da responsabi­lidade rejeitando a notícia como “fake news”.

Mesmo que todos esses casos – e muitos outros mais que ele rotulou como falsos – tenham sido confirmado­s como precisos, há evidências de que seus ataques alcançam o efeito desejado. Uma pesquisa recente concluiu que 82% dos republican­os confiam hoje no presidente Trump mais do que acreditam na mídia. Um dos apoiadores do presidente foi condenado recentemen­te por enviar explosivos à CNN, um dos mais frequentes alvos da acusação de fake news.

Mas ao atacar a mídia americana, Trump tem feito mais do que corroer a fé dos próprios cidadãos nas organizaçõ­es de notícias que tentam chamá-lo à responsabi­lidade. Ele efetivamen­te deu a líderes estrangeir­os permissão para fazerem o mesmo com os jornalista­s em seus países e lhes ofereceu até o vocabulári­o para isso.

Eles adotaram com entusiasmo esse enfoque. Meus colegas, e eu recentemen­te, pesquisamo­s a propagação da frase “fase news” e o que descobrimo­s é profundame­nte alarmante: nos últimos anos, mais de 50 primeiros-ministros, presidente­s e outros líderes de governo nos cinco continente­s usaram o termo “fake news” para justificar vários níveis de atividade contra a imprensa.

A frase foi usada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, na Hungria, e pelo presidente Recep Tayyip Erdogan, na Turquia, que estabelece­ram multas enormes para forçar as organizaçõ­es de notícias independen­tes a serem vendidas para aquelas leais ao governo. O termo foi usado pelo presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, e o presidente Rodrigo Duterte, nas Filipinas, que atacaram a imprensa à medida que conduziam repressões sangrentas.

Em Mianmar, ele é usado para negar a existência de um povo inteiro que é sistematic­amente alvo de violência com o fim de expulsá-lo do país. “Não tem nada com rohingya”, disse o líder de Mianmar ao The Times. “Isso é fake news.”

O termo também tem sido usado para prender jornalista­s nos Camarões, para sufocar matérias sobre corrupção no Malawi, para justificar o blecaute da mídia social no Chade, impedir que organizaçõ­es de notícias estrangeir­as operem em Burundi. E vem sendo utilizado por nossos aliados antigos, como México e Israel e por rivais antigos como Irã, Rússia e China.

O termo “fake news” é utilizado por líderes liberais, caso do primeiro ministro da Irlanda, Leo Varadkar. Por líderes de direita como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Ao lado do presidente Bolsonaro, no Rose Garden da Casa Branca, o presidente Trump disse: “Estou muito orgulhoso de ouvir o presidente utilizar o termo “fake news”.

Nossos correspond­entes estrangeir­os vivenciara­m o uso como arma da acusação de “fake news” em primeira mão. No ano passado, Hannah Beech, que cobre o Sudeste Asiático, estava presente num discurso do primeiro-ministro Hu Sen, do Camboja. No meio das suas observaçõe­s, Hun Sen emitiu uma frase em inglês: “O The New York

Times”. E afirmou que o jornal era tão parcial que recebeu o prêmio de “fake news” do presidente Trump, e ameaçou que se nossa matéria não apoiasse sua versão da verdade, haveria consequênc­ias. Hannah sentiu uma crescente hostilidad­e na multidão com milhares de pessoas quando o primeiro-ministro a buscou e alertou que “o povo cambojano lembrará dos seus rostos”.

Manifestei essas preocupaçõ­es ao presidente Trump. Disse a ele que os esforços para atacar e sufocar o jornalismo independen­te eram o que os Estados Unidos estavam agora inspirando no exterior. Embora ele tenha me ouvido educadamen­te e manifestad­o interesse, continua a intensific­ar sua retórica contra a imprensa, que alcançou novos picos agora em sua campanha para a reeleição.

O presidente Trump não está mais satisfeito em deslegitim­ar a reportagem acurada como “fake news”, mas agora passou a demonizar os próprios jornalista­s, chamando-os de “o real inimigo do povo” e os acusando até de traição. Com esses termos, ele não só tem inspirado dirigentes autocratas em todo o mundo, mas também tem adotado sua linha.

A frase “inimigo do povo” tem uma história particular­mente brutal. Foi usada para justificar as execuções em massa durante a Revolução Francesa e pelo Terceiro Reich. E foi usada também por Lenin e Stalin para justificar o assassinat­o sistemátic­o de dissidente­s soviéticos.

A acusação de traição talvez seja a mais séria que um comandante em chefe pode fazer. Ao ameaçar processar jornalista­s por crimes inventados contra seu país, o presidente Donald Trump fornece para líderes repressivo­s uma licença implícita para fazerem o mesmo.

Nos Estados Unidos, a Constituiç­ão, o estado de direito e uma mídia de notícias ainda robusta atuam como elemento de coação. Mas no exterior, líderes estrangeir­os conseguem silenciar os jornalista­s com uma eficácia alarmante.

Nick Casey, repórter do The Times, foi repetidame­nte ameaçado e no final impedido de entrar na Venezuela por suas reportagen­s sobre o brutal regime de Nicolás Maduro, sublinhou como as consequênc­ias podem ser muito mais graves para os jornalista­s locais: “Se isso é o que os países são capazes de fazer no meu caso, que sou um jornalista do

Times, o que devem fazer aos próprios cidadãos?, disse ele. “Coisa muito pior. E eu vi isso.”

Mesmo quando nos preocupamo­s com os riscos enfrentado­s por nossos repórteres, tais perigos normalment­e são atenuados quando comparados com o que jornalista­s locais corajosos confrontam em todo o mundo. Eles buscam a verdade e informam o que descobrem, sabendo que eles e seus entes queridos estão vulnerávei­s a multas, prisões, espancamen­tos, tortura, abusos e assassinat­o. Esses repórteres são os soldados na linha de frente da batalha pela liberdade de imprensa e são os únicos que pagam o preço pela retórica contra a imprensa do presidente Trump.

Os casos de intimidaçã­o e violência que abordamos hoje são apenas alguns dos que conhecemos. Não importa o dia, histórias similares ocorrem em todo o mundo e muitas delas jamais virão à tona ou serão registrada­s. Em muitos lugares, o temor de represália­s é grande o bastante e tem um efeito aterrador – as reportagen­s não são publicadas; segredos continuam enterrados; as ilegalidad­es permanecem acobertada­s.

Este é um momento perigoso para o jornalismo, para a liberdade de expressão e para uma sociedade informada. Mas os momentos e lugares onde é mais difícil e perigoso ser um jornalista são aqueles momentos e lugares onde os jornalista­s são mais necessário­s.

Um périplo pela história da nossa nação lembra que o papel da livre imprensa tem sido uma das poucas áreas de consenso permanente, transcende­ndo partidos e ideologia por gerações. Thomas Jefferson escreveu que “a única segurança de tudo está na imprensa livre”. John F. Kennedy qualificou a livre imprensa como “bem incalculáv­el” porque “sem o debate, sem a crítica, nenhum governo e nenhum país podem ser bem-sucedidos e nenhuma república consegue sobreviver”. Ronald Reagan foi mais longe ao afirmar que “não há ingredient­e mais essencial do que uma imprensa livre, forte e independen­te para o nosso sucesso constante” no que os pais fundadores da nação chamaram de “nobre experiment­o em autogovern­o”.

Soando o alarme. Apesar dessa tradição de presidente­s americanos defenderem a imprensa livre, não acredito que o presidente Trump tem alguma intenção de mudar de rumo ou silenciar seus ataques contra jornalista­s. Se a história recente serve de guia, ele pode apontar para meus comentário­s hoje e afirmar que o The Times tem uma “vendetta” política contra ele. Para ser claro, não estou contestand­o a imprudênci­a do presidente por causa do seu partido, sua ideologia ou suas críticas ao The Times.

Estou soando o alarme porque suas palavras são perigosas e têm consequênc­ias no mundo real e em todo o globo. Mas mesmo se o presidente ignorar esse alerta e continuar nesse caminho, há passos importante­s que nós podemos dar para proteger a liberdade da imprensa e apoiar aqueles que dedicam suas vidas a buscar a verdade em todo o mundo.

Começa com o entendimen­to do que está em jogo. A Primeira Emenda tem servido como padrão ouro do mundo para a liberdade de expressão e a imprensa livre por dois séculos. Tem sido uma das chaves para o florescime­nto sem precedente­s da liberdade e prosperida­de deste país e, por meio do seu exemplo, no mundo todo. Não podemos permitir que uma nova estrutura global, como o modelo repressivo adotado pela China, Rússia, e outros, se implante.

Isso significa, diante da pressão crescente, que as organizaçõ­es de notícias têm de se apegar aos valores do grande jornalismo – imparciali­dade, precisão, independên­cia – e ao mesmo nos abrirmos para que o público possa melhor compreende­r nosso trabalho e seu papel na sociedade. Precisamos continuar indo em busca das histórias que importam, independen­temente de serem ou não tendência no Twitter. Não podemos nos permitir ser atraídos ou aplaudidos para nos tornarmos oposição ou “claques” de alguém. Nossa lealdade tem de ser para com os fatos, não um partido ou um líder, e temos de seguir a verdade aonde ela nos leve, sem medo ou favor.

Mas a responsabi­lidade de defender a livre imprensa vai além das organizaçõ­es de notícias. Empresas, comunidade­s acadêmicas e sem fins lucrativos, todas elas que dependem de um fluxo de notícias e informação têm a responsabi­lidade de promover essa campanha também. O que vale particular­mente para gigantes da tecnologia como Facebook, Twitter, Google e Apple. Seu histórico de resistir a governos no exterior é irregular, no melhor dos casos; com frequência fecharam os olhos à desinforma­ção e, às vezes, permitiram a supressão do real jornalismo.

No entanto, à medida que se aprofundam mais na criação e distribuiç­ão do jornalismo, elas também têm a responsabi­lidade de começar a defender o jornalismo.

Nossos líderes políticos também necessitam dar um passo. Os que foram eleitos para defender nossa Constituiç­ão traem seus ideais quando minam a livre imprensa por um ganho político de curto prazo. Líderes de ambos os partidos têm de apoiar o jornalismo independen­te e combater os esforços contra a imprensa, dentro e fora do país.

Aqui nos Estados Unidos isso significa rejeitar medidas como ações judiciais frívolas e investigaç­ões visando a vazamentos do governo que têm por objetivo atenuar relatórios agressivos. E em todo o mundo isso significa se opor aos esforços incontávei­s em curso para atacar, intimidar e deslegitim­ar os jornalista­s.

Finalmente, nenhuma das medidas fará alguma diferença, salvo se você levantar a sua voz. Preocupe-se com a origem da notícia e como foi produzida. Busque organizaçõ­es de notícias nas quais confie e possibilit­e o caro e árduo trabalho das reportagen­s originais adquirindo uma assinatura. Apoie organizaçõ­es como o Comitê para a Proteção dos Jornalista­s e Repórteres sem Fronteiras que defendem os jornalista­s em risco em todo o mundo. E, sobretudo, crie um lugar para o jornalismo na sua vida diária e use o que aprendeu para fazer algo importante.

O real poder de uma imprensa livre é um cidadão informado, engajado. Acredito no jornalismo independen­te e desejo que ele floresça. Acredito neste país e em seus valores e desejo que estejamos à altura deles e de nos oferecermo­s como modelo para um mundo mais justo e mais livre.

Os Estados Unidos fizeram mais do que qualquer outro país para populariza­r a noção de liberdade de expressão e defender os direitos da imprensa livre. Chegou o momento de lutarmos novamente por esses ideais.

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DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES Trump. Desde que assumiu, presidente usou a palavra ‘fake news’ 600 vezes
 ?? BULLIT MARQUEZ/AP-27/8/2019 ?? Duterte. Presidente filipino atacava imprensa em meio a repressões violentas
BULLIT MARQUEZ/AP-27/8/2019 Duterte. Presidente filipino atacava imprensa em meio a repressões violentas
 ?? SAMRANG PRING/REUTERS-28/6/2019 ?? Hu Sen. Premiê cambojano ameaçou explicitam­ente jornalista­s do ‘NYT’
SAMRANG PRING/REUTERS-28/6/2019 Hu Sen. Premiê cambojano ameaçou explicitam­ente jornalista­s do ‘NYT’
 ?? DREW ANGERER/GETTY IMAGES/AFP-24/9/2019 ?? Bolsonaro. Fake news marcaram eleição de brasileiro
DREW ANGERER/GETTY IMAGES/AFP-24/9/2019 Bolsonaro. Fake news marcaram eleição de brasileiro
 ?? ALEXEI DRUZHININ/KREMLIN/REUTERS ?? Maduro. Repressão violenta a jornalista­s é uma constante no governo venezuelan­o
ALEXEI DRUZHININ/KREMLIN/REUTERS Maduro. Repressão violenta a jornalista­s é uma constante no governo venezuelan­o
 ?? LUCAS JACKSON/REUTERS-24/9/2019 ?? Erdogan. Líder turco forçou a venda de mídias independen­tes para as leais ao seu governo
LUCAS JACKSON/REUTERS-24/9/2019 Erdogan. Líder turco forçou a venda de mídias independen­tes para as leais ao seu governo

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