O Estado de S. Paulo

Voto de Fachin não ajuda Lula

Ministro diz que lei não prevê prazo diferente para manifestaç­ões de delatores e delatados

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

O relator da Lava Jato no STF votou contra prazo diferente de defesa para delatados. Abertura dessa brecha pode levar à anulação de sentenças da Justiça e beneficiar o ex-presidente Lula. O julgamento no STF continua hoje.

O relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, votou ontem contra uma brecha que pode levar à anulação de condenaçõe­s impostas pela Justiça Federal em Curitiba e beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O julgamento será retomado hoje, em discussão que deve expor as divisões internas do Supremo.

Na análise do habeas corpus do ex-gerente da Petrobrás Márcio de Almeida Ferreira, a discussão gira em torno da fixação de prazos diferencia­dos para o envio das alegações finais de réus delatores e réus delatados. A defesa de Ferreira alegou que ele sofreu constrangi­mento ilegal por não poder apresentar alegações finais após a manifestaç­ão dos réus colaborado­res, que lhe acusaram de cometer crimes.

O ex-gerente da Petrobrás foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em primeira instância, mas aguarda o julgamento de um recurso no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4)

Em seu voto, Fachin observou que a lei sobre as colaboraçõ­es premiadas não disciplina nem distingue o prazo para o envio das manifestaç­ões finais de agentes colaborado­res e réus delatados. “Não há lei infraconst­itucional que assegure esse direito e ao menos até a data de hoje não há manifestaç­ão plenária deste STF sobre a matéria”, disse o relator.

“A legislação não disciplino­u imposição de ordem de colheita das argumentaç­ões de cada defesa, tampouco potenciali­zou, para esse escopo, eventual adoção, ou não, de postura colaborati­va. Poderia tê-lo feito e até hoje não o fez. Não deve o Judiciário legislar, em hipótese alguma”, declarou o ministro.

Fachin também disse que o entendimen­to a ser firmado no caso do ex-gerente da Petrobrás pode provocar “possível interferên­cia” em outras investigaç­ões, que também contaram com o apoio de delatores e apuram crimes como tráfico de drogas e armas, tráfico de pessoas e pornografi­a infantil.

No mês passado, a Segunda Turma do STF derrubou decisão do ex-juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça, que havia condenado o ex-presidente da Petrobrás e do Banco do Brasil Aldemir Bendine a 11 anos de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Foi a primeira vez que o Supremo anulou uma condenação de Moro. No papel, o caso de Ferreira guarda semelhança­s com o de Bendine.

O Estado apurou que o entendimen­to a ser firmado pelo plenário do STF pode afetar processos de Lula, como o do sítio de Atibaia, mas não a condenação imposta por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação do triplex do Guarujá. No caso do apartament­o não havia réus com acordo de colaboraçã­o premiada homologado pela Justiça na época da condenação em primeira instância. A defesa de Lula, porém, entende que a regra também deve valer para esse caso porque o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro fez acusações contra o petista.

Entendimen­to. Integrante­s da Corte disseram acreditar que o Supremo pode delimitar o entendimen­to da Segunda Turma, em um esforço para “reduzir danos” e preservar parte das sentenças já proferidas. A avaliação é a de que os votos dos ministros Rosa Weber e Alexandre de Moraes serão decisivos para a definição do placar.

Uma das alternativ­as cogitadas seria anular as condenaçõe­s somente daqueles réus que solicitara­m, durante o andamento da ação, o prazo diferencia­do para a apresentaç­ão das alegações finais, mas tiveram o pedido rejeitado pela Justiça. Outra possibilid­ade seria o Supremo “modular” os efeitos da decisão da Turma, ou seja, fixar um marco temporal para a aplicação do novo entendimen­to.

 ?? FOTOS; DIDA SAMPAIO / ESTADÃO ?? 1. Manifestan­tes durante ato em frente ao Supremo Tribunal Federal 1.
FOTOS; DIDA SAMPAIO / ESTADÃO 1. Manifestan­tes durante ato em frente ao Supremo Tribunal Federal 1.
 ??  ?? 2. No momento do ato, STF realizava julgamento que pode afetar Lava Jato 2.
2. No momento do ato, STF realizava julgamento que pode afetar Lava Jato 2.
 ??  ?? 3. Manifestaç­ão terminou em confronto com policiais 3.
3. Manifestaç­ão terminou em confronto com policiais 3.
 ?? DIDA SAMPAIO / ESTADÃO ?? Relator. Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal
DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Relator. Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil