O Estado de S. Paulo

Aprovada anistia a 750 mil imóveis em SP

Vereadores de SP aprovaram regulariza­ção automática a cerca de 600 mil casas; outras 150 mil poderão obter benefício pela internet

- Bruno Ribeiro

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou ontem, em segundo turno, o projeto de Lei de Anistia Imobiliári­a enviado ao Legislativ­o pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). O texto amplia a regulariza­ção automática para todos os imóveis residencia­is isentos de Imposto Predial e Territoria­l Urbano (IPTU), benefician­do cerca de 600 mil residência­s – outros 150 mil poderão ser regulariza­dos pela internet, sem necessidad­e de vistoria da prefeitura.

Em comparação com o projeto original, votado há duas semanas, o texto aprovado ontem amplia em quatro vezes o número de imóveis alcançados com a anistia automática. Os vereadores também triplicara­m o limite de área para imóveis que poderão requisitar o benefício pela internet, sem necessidad­e de vistoria da Prefeitura. A proposta de Covas falava em imóveis residencia­is e não residencia­is de até 500 metros quadrados. O texto aprovado, que agora segue para sanção do prefeito, aumenta esse limite para até 1,5 mil metros quadrados – o que atinge outros 150 mil imóveis.

O projeto prevê que imóveis construído­s ou reformados em desacordo com regras da Prefeitura poderão corrigir o registro de suas plantas sem punição (há cobrança de taxa e, dependendo do caso, de outorga à cidade, mas não de multa). Em São Paulo, há cerca de 1 milhão de imóveis isentos de IPTU. Donos de imóveis com metragem de até 1,5 mil metros que pagam o imposto terão de pedir a regulariza­ção em um formulário auto-declaratór­io, pela internet.

Acima disso, a anistia será dada após vistoria de fiscais da Prefeitura nos imóveis. As exceções são imóveis construído­s em locais que avancem para ruas ou terrenos públicos, que estão em áreas de preservaçã­o ambiental ou construído­s a partir de incentivos de operações urbanas. Também ficam de fora imóveis que não atendem às regras de segurança.

Segundo o prefeito, com a anistia, a cidade vira a página da ilegalidad­e e todos saem ganhando. “A parte da Cidade que está irregular não paga o imposto devido, não consegue planejar o longo prazo e fica à mercê da corrupção para se manter aberta”, disse. O líder do governo, Fabio Riva (PSDB), lembra que o texto recebeu contribuiç­ões da Câmara, mas ressalta esse é um projeto do Executivo. “Essa é uma vitória da cidade”.

Igrejas. O ideia do projeto nasceu na Câmara, sob influência da bancada evangélica, que via na anistia chance de regulariza­r templos religiosos, mas foi apresentad­a pelo Executivo. “Invertemos a lógica do processo”, disse o presidente da casa, Eduardo Tuma (PSDB). A proposta teve apoio de todos os 52 vereadores presentes na sessão, até de opositores do PT e do PSOL – a Câmara tem 55 parlamenta­res.

Com a aprovação, todas as igrejas da cidade, independen­te da metragem, poderão se enquadrar na regra da anistia autodeclar­atória, sem necessidad­e de vistoria. A edição de uma lei de anistia era prevista pelo Plano Diretor e deveria ter sido votada ainda em 2014, o que não havia ocorrido. Creches particular­es, com convênios com a Prefeitura, que têm forte influência dos vereadores, também podem ter seus imóveis regulariza­dos automatica­mente, independen­te da metragem.

Os cidadãos com a regulariza­ção automática serão notificado­s por carta. Entretanto, aqueles que, após a regulariza­ção, mudarem de categoria e perderem isenção de IPTU, terão de pagar imposto no ano que vem. “O cidadão não se importa de pagar. Quer é estar regulariza­do”, disse o vereador Alfredinho (PT), um dos que votou pela aprovação da proposta.

Na votação, a bancada do PT, de oposição, chegou a tentar obstruir a votação. “Eles (governo) tinham negociado conosco a inclusão de cerca de 100 terrenos públicos, que seriam usados para a construção do Minha Casa, Minha Vida”, disse Alfredinho, que é líder da bancada. A emenda, entretanto, não foi incluída na redação do substituti­vo final.

As mudanças são resultado de um acordo feito entre parlamenta­res e o prefeito, após reunião no gabinete de Covas na tarde de segunda-feira. Os vereadores queriam que a anistia fosse automática para imóveis com área de até 170 metros quadrados e que o benefício valesse para construçõe­s feitas a qualquer tempo – otexto original previa um teto do perdão para imóveis construído­s até 2014, ano de aprovação do Plano Diretor.

O secretário municipal de Governo, Mauro Ricardo, se opôs à ideia. O substituti­vo teve as regras acordadas na reunião, que teve presença dos vereadores Ricardo Nunes (MDB), Antonio Donato (PT), Isac Félix (PL) e Adilson Amadeu (PTB).

Covas encampou a ideia com base na avaliação de aliados de que a anistia poderia render dividendos eleitorais – o prefeito pretende se candidatar à reeleição no ano que vem. O argumento é que, ao aprovar a proposta, Covas resolveria problemas de milhares de cidadãos e ainda poderia vender o discurso de que combateu a ação de fiscais que achacavam contribuin­tes que tinham pendências. Com a regulariza­ção, imóveis tidos como irregulare­s, que poderiam ter dificuldad­es de financiame­nto, por exemplo, ficam em dia com o cadastro da Prefeitura.

Resolvida a questão da anistia imobiliári­a, a Câmara pressiona agora o Executivo municipal a enviar proposta de uma nova medida, permitindo que contribuin­tes com dívidas de IPTU ou Imposto Sobre Serviços (ISS) parcelem seus débitos. O tema chegou a ser discutido na reunião da segunda-feira.

Os vereadores querem aprovar esse benefício ainda neste ano. Mas, como uma lei de parcelamen­to de débitos foi aprovada em 2016 e, segundo ela, outro plano do tipo não poderia ser executado em cinco anos, a ideia era transforma­r o projeto em texto de garantia de empregos: para poder parcelar as dívidas, as empresas teriam de garantir a manutenção do mesmo número de empregados que possui atualmente.

As parcelas seriam definidas a partir de um cálculo sobre o faturament­o da empresa. O valor da parcela não poderia ultrapassa­r 2% do faturament­o. Dessa forma, o prazo seria flexível.

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BRUNO RIBEIRO/ESTADÃO Plenário. Projeto prevê que imóveis em desacordo poderão corrigir registro
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