‘Ad Astra’. No filme que estreia hoje, Brad Pitt vai ao espaço para reavaliar a vida.
Cinema. Em ‘Ad Astra – Rumo às Estrelas’, estreia de hoje, Brad Pitt vai ao espaço para reavaliar sua vida
Um olhar de admiração aparece no rosto de Brad Pitt quando ele ouve James Gray falar. O ator e o diretor visitaram Washington para a estreia de Ad Astra – que entra em cartaz nesta quinta, 26, no Brasil – um filme de ficção científica em que ele vive astronauta enviado a Netuno para resgatar seu pai, que supostamente está morto.
James Gray concebeu seu longa em 2011, mas deixou-o na gaveta até Pitt produzi-lo, em 2016. O filme mudou muito nos anos seguintes e se tornou tanto uma meditação sobre a desilusão da meia-idade como um olhar especulativo sobre o futuro na era espacial.
Em uma conversa rápida, Pitt e Gray falaram sobre a recente viagem publicitária de Brad à Ásia até a situação do cinema moderno. Os dois são amigos desde os anos 1990 e veem Ad Astra – Rumo às Estrelas como uma maneira de examinar ideias retrógradas sobre masculinidade que vêm sendo questionadas. “Temos de redefinir isso”, diz Pitt, falando da imagem do herói cool, emocionalmente distante. Na verdade, quando o ator se descreve como uma pessoa fechada, ele pode estar falando do personagem. O comandante Roy McBride é compulsivamente autocontrolado.
Há cenas ótimas de viagens no espaço no filme, como também manobras assombrosas, uma batalha com piratas na lua e um encontro terrível numa nave de pesquisa biomédica. Mas o efeito especial mais impressionante pode ser o próprio Brad Pitt, com um desempenho cuidadosamente calibrado como um homem que passa por uma catarse que muda sua vida.
Vindo logo depois de um trabalho similarmente bem-sucedido no filme de Quentin Tarantino, Era Uma Vez em Hollywood, a interpretação de Pitt como o comandante em
Ad Astra é ainda mais imponente por ser contida e sutil. Ver McBride cultivar o isolamento e depois romper com ele pode nos levar a comparações com a própria fama extrema de Pitt. Embora o ator de 55 anos diga que não é uma pessoa fechada como seu personagem, ele reconhece que há paralelos na esmagadora solidão das celebridades.
“No começo da carreira eu me sentia perdido”, diz ele, lembrando seu momento decisivo na carreira no filme Thelma & Louise, de 1991. “Sempre achei que foi um tipo de preparação do que significava esse tipo de liberdade, ser anônimo na rua.”
Relembrando as imagens de masculinidade da sua juventude no Missouri, ele diz: “É a imagem do estoico Homem Marlboro com a qual eu cresci, meu pai a cultivava. E acho que é isso que você identifica quando chega a um certo momento na sua vida e pensa, ‘isso não funciona mais’. Tenho de ver qual é a minha parte nisso”. Pitt e Gray concordam que, se tivessem realizado Ad Astra 20 ou 10 anos atrás, seria uma aventura espacial mais convencional sobre um sujeito cool. Em vez disso é um filme que fala sobre um homem na meia-idade, cheio de incertezas e dor.
“Compreender nosso passado, é nisso que nos aprofundamos. O que torna a jornada de Roy aos pontos mais distantes do sistema solar uma chance para olhar para o seu passado, antes de avançar para ter mais liberdade.” E isso numa época em que é complicado ser um sujeito branco privilegiado, especialmente em Hollywood.
“Você tem de ter o mito para destruí-lo”, diz Gray, explicando que foi crucial escolher uma pessoa com o simbolismo iconográfico de Pitt, o ídolo de cinema alto e loiro, para quebrar o mito. “É a destruição do Marlboro Man.” Gray chama esse arquétipo de “muito bizarro, tóxico, perigoso”. “Foi algo terrível para a história do mundo. Procuramos desfazer um pouco isso.”
Pitt não está só interessado em redefinir a imagem do macho, mas está investindo também na redefinição do cinema americano. Ele fundou a produtora Plan B e promoveu cineastas como Steve MCQueen ( 12 Anos de Escravidão), Barry Jenkins (Moonlight) e Ava DuVernay (Selma).
No que muitos veem como uma tentativa de Pitt de usar seu privilégio de homem branco para o bem, ele insiste que é só apoio a narrativas corajosas. Não há dúvida que ele se dispõe a mudar o foco do setor infestado por ideias estreitas. “A luta não é para o cinema em grande escala. É a luta pelo seu projeto”, afirma. E, já se levantando para sair, acrescenta: “E, a propósito, são lutas”, diz com sorriso irônico.
Luta “Dizem que ‘os filmes sempre estarão por aqui’. Mas você tem de lutar por isso” James Gray
DIRETOR