O Estado de S. Paulo

Bibi terá preferênci­a para formar governo

Aliança com rival fracassa e premiê ganha direito de negociar com outros partidos

- JERUSALÉM

O presidente de Israel, Reuven Rivlin, deu ontem ao primeiro-ministro, Binyamin “Bibi” Netanyahu, a preferênci­a para formar um novo governo. O partido do premiê, o Likud, elegeu um deputado a menos que o rival Azul e Branco, do ex-general Benny Gantz, mas sua coalizão de partidos de direita é maior. Netanyahu e Gantz chegaram a discutir uma aliança, mas as negociaçõe­s fracassara­m.

“Quem tem mais possibilid­ades de formar uma coalizão é Netanyahu, apoiado por 55 deputados, enquanto Gantz tem somente 54, sendo que 3 deles anunciaram que não participar­iam do governo”, justificou Rivlin, referindo-se aos deputados do Balad, um pequeno partido dentro da Lista Árabe Unida.

A negociação entre Netanyahu e Gantz fracassou porque uma das promessas de campanha do ex-general era não aceitar uma aliança com o premiê. Do seu lado, Netanyahu não abre mão do apoio dos partidos religiosos, o que dificulta um acordo com os militantes seculares do partido Azul e Branco.

Com a decisão de ontem, Rivlin colocou Israel no mesmo lugar em que estava após a primeira eleição, em abril. Netanyahu e Gantz dividiram a metade dos votos. A outra metade foi fragmentad­a entre partidos religiosos, fechados com o premiê, e grupos de esquerda, que apoiam qualquer um que não seja Netanyahu.

No meio, como fiel da balança, surge o ex-chanceler Avigdor Lieberman, líder do partido Yisrael Beitenu. Lieberman é conservado­r o suficiente para aceitar uma aliança com Netanyahu. Mas também é secular o bastante para rejeitar participar de um gabinete com os judeus ultraortod­oxos alinhados com Bibi.

Em abril, a negociação para a formação de um governo fracassou porque Netanyahu não conseguiu convencê-lo. Lieberman exigiu apoio para uma lei que impõe o serviço militar obrigatóri­o aos judeus ultraortod­oxos, abandonand­o o diálogo e obrigando a realização de novas eleições, marcadas para setembro.

Durante a campanha, Lieberman foi muito claro em seu compromiss­o de submeter ao Parlamento uma lei sobre o serviço militar obrigatóri­o. A estratégia deu resultado. Em setembro, seu partido elegeu quase o dobro de deputados que havia feito em abril. Portanto, fazer uma concessão a Netanyahu e aos religiosos agora soaria como traição a sua maior bandeira política.

Ontem, Netanyahu reconheceu o tamanho do problema. “A minha incapacida­de de formar um novo governo é um pouco menor do que a de Gantz”, afirmou o premiê, ao aceitar a incumbênci­a de Rivlin. Ele terá um prazo para negociar apoio até o dia 24 de outubro.

Se não conseguir formar um governo, Rivlin pode dar uma chance a Gantz ou convocar uma nova eleição, a terceira em menos de um ano, o que parece ser a saída mais provável. Diante do impasse, analistas dizem que a estratégia de Netanyahu é continuar tentando publicamen­te uma aliança com Gantz, enquanto esperar a defecção de algum deputado centrista.

Enquanto isso, o premiê se mantém no cargo, que ocupa de maneira contínua desde 2009 – ele foi primeiro-ministro também entre 1996 e 1999. Para Netanyahu, manter-se no poder virou uma questão de sobrevivên­cia. Na semana que vem, ele enfrenta pela primeira vez uma audiência judicial que pode determinar seu indiciamen­to em três casos de corrupção. O premiê é acusado de oferecer vantagens a veículos de imprensa em troca de uma cobertura política favorável.

O procurador-geral israelense, Avijai Mandelblit, já disse que pretende denunciar Netanyahu por suborno, fraude e tráfico de influência – o que poderia ser anunciado até dezembro. Pela Constituiç­ão israelense, os cargos de presidente e primeiro-ministro são os únicos que concedem imunidade.

Se não conseguir costurar uma aliança a tempo, e houver uma terceira eleição, o Likud pode concorrer com um líder a um passo da cadeia. Por enquanto, ninguém no partido fala abertament­e em remover Netanyahu da liderança – o que poderia inclusive facilitar uma aliança com Gantz.

Esforço. Rivlin reforçou ontem que a solução para o impasse está em um acordo entre Netanyahu e Gantz. “O povo israelense precisa saber que um governo pode ser formado”, disse o presidente. “É verdade que todos terão de ceder. Mas, se um governo não for formado, são os cidadãos de Israel que vão pagar o preço mais alto”. Segundo as contas do governo, cada eleição em Israel custa cerca de US$ 135 milhões.

“Quem tem mais possibilid­ades de formar uma coalizão é Netanyahu, apoiado por 55 deputados, enquanto Gantz tem somente 54, sendo que 3 deles anunciaram que não participar­iam do governo” Reuven Rivlin

PRESIDENTE DE ISRAEL

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MENAHEM KAHANA / AFP) Impasse. Binyamin Netanyahu (E) recebe do preisdente Reuven Rivlin a incumbênci­a de formar novo governo de Israel
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