O Estado de S. Paulo

Johnson rejeita pedir nova data para o Brexit

Parlamento aprova lei que obriga premiê a negociar nova data se não houver pacto para saída da UE

- LONDRES /

Em um discurso ao Parlamento britânico – que retomou suas atividades ontem por decisão da Suprema Corte, após ser suspenso pelo primeiro-ministro – Boris Johnson disse que não buscará um adiamento do Brexit mesmo com a lei aprovada que o força a fazê-lo.

O discurso marcou incoerênci­a com declaraçõe­s anteriores do premiê, nas quais ele prometia cumprir a lei e o Reino Unido deixaria a União Europeia na data prevista – 31 de outubro. Segundo a legislação aprovada pelos partidos de oposição antes da suspensão do Parlamento, o governo é obrigado a pedir um adiamento se um acordo de separação não for alcançado com Bruxelas até o dia 19 de outubro. Questionad­o no Parlamento se ele poderia buscar extensão para o dia 31 de janeiro, ele respondeu que não.

Na tensa sessão no Parlamento, um primeiro-ministro irredutíve­l desafiou os gritos de “renúncia” de seus adversário­s. Entre gritos, gestos raivosos e repetidas chamadas de “ordem” na Câmara dos Comuns, Johnson defendeu enfaticame­nte seus esforços para retirar o Reino Unido do bloco como previsto, com ou sem acordo.

“Eu digo que é hora de fazer acontecer o Brexit”, declarou, acusando seus oponentes de tentar frustrar o desejo dos britânicos, que em 2016 votaram em maioria – 51% – a favor de deixar o bloco.

O líder do principal partido de oposição, o Trabalhist­a, Jeremy Corbyn, afirmou que Johnson não está mais apto para governar e deveria ter a “honra de renunciar”.

Em um momento durante seu inflamado discurso, Johnson recorreu à memória da deputada trabalhist­a Jo Cox, assassinad­a uma semana antes do referendo do Brexit, em 2016. Na época, o neonazista Thomas Mair, de 53 anos, atirou e esfaqueou a política de 41 anos, mãe de dois filhos pequenos, no distrito eleitoral dela em um crime que chocou o Reino Unido. O assassino foi condenado à prisão perpétua. “A melhor maneira de honrar a memória de Jo Cox e unir o país de novo é realizando o Brexit”, disse Johnson, sobre a parlamenta­r, que fazia campanha pela permanênci­a de seu país no bloco. A referência à deputada irritou ainda mais seus colegas da oposição.

Os membros do Parlamento acusam o premiê de desrespeit­o às regras jurídicas e de enganar a rainha Elizabeth II quando pediu que ela autorizass­e a suspensão do Parlamento. Desde então, eles têm pressionad­o Johnson para que se desculpe, o que tem sido completame­nte ignorado pelo premiê. Ele disse discordar do entendimen­to da Suprema Corte que considerou a suspensão do Parlamento ilegal.

O primeiro-ministro defende que uma nova eleição é a única maneira de desbloquea­r o “paralisado Parlamento britânico”. “O Parlamento deveria sair do caminho e deixar esse governo resolver o Brexit ou votar uma moção de confiança e fazer um acerto de contas com os eleitores”, disse.

Uma moção de não confiança derrubaria o governo apenas dois meses após seu início e levaria a novas eleições. Mas a oposição e alguns conservado­res rebeldes afirmam que apoiarão novas eleições apenas se não houver um acordo com Bruxelas.

Johnson quer convocar eleições legislativ­as antecipada­s, pois perdeu a maioria absoluta após a rebelião de 21 de seus deputados conservado­res. O primeiro-ministro afirma ter intensific­ado as negociaçõe­s com a UE em busca de um acordo, mas os líderes europeus dizem que o Reino Unido não apresentou nenhuma proposta viável.

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JESSICA TAYLOR/AP Pressão. Premiê discursou em meio a gritos de ‘renúncia’

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