Tiro que matou Ágatha veio de fuzil; origem é desconhecida
Pais disseram à polícia que não havia confronto no momento do disparo; menina sofreu lesão no fígado e no rim
Os pais de Ágatha Félix, de 8 anos, morta após ser atingida por um tiro na noite de sexta-feira, afirmaram em depoimento ontem que não havia confronto no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, no momento em que a menina foi baleada. A mãe de Ágatha, Vanessa Sales, disse ainda que o disparo veio de onde estavam policiais militares, mas não soube precisar se o tiro partiu de um dos PMs. Adegilson Félix e Vanessa Sales chegaram à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) por volta das 10h20. No início da tarde, Rodrigo Mondego, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ) e advogado que acompanha a família, disse que as testemunhas estão com medo.
“A família quer refutar com veemência a versão de que havia tiroteio no local. Todas as testemunhas por parte da família dizem que não houve tiroteio naquele determinado local, e não sabem de onde partiu a bala. A bala pode ter partido de uma briga de bar, de um marido tentando matar a mulher, pode ter partido de um marginal ou de um policial”, disse. “(A mãe) afirmou que o tiro veio da direção de onde tinha policiais, mas até agora não tem, por parte da família e de outras testemunhas, certeza de que partiu diretamente de um policial.”
O advogado afirmou que as testemunhas estão acuadas e o motorista da Kombi onde a menina foi baleada relatou estar se sentindo ameaçado, mas não deu detalhes. Esse motorista chegou a afirmar que a morte de Ágatha foi por culpa da polícia. “A gente não quer expor mais detalhes por segurança das testemunhas. As pessoas moram em comunidade deflagrada do Rio, têm medo, sofrem pressão de todos os lados.”
Laudo. A perícia do fragmento de bala que provocou a morte de Ágatha concluiu apenas que o projétil “é adequado a arma de fogo tipo fuzil”. O exame de balística não conseguirá identificar de que arma partiu o disparo. O laudo foi apresentado ontem na DHC. Os investigadores também receberam laudo do Instituto Médico-Legal (IML), que apontou que Ágatha tinha uma perfuração nas costas e teve como causa da morte “lacerações no fígado, rim direito e vasos do abdome”.
Desde a morte da menina, a polícia ouviu 20 testemunhas, incluindo os pais e dois tios de Ágatha, 11 PMs – e não 12, como chegou a ser divulgado –, o motorista e o dono na Kombi que transportava a menina, além de outras três pessoas.
Sete armas foram apreendidas com os policiais e foram ou serão encaminhadas à perícia. Nos depoimentos, eles alegam que somente três delas efetuaram disparos. A reconstituição do crime será na terça-feira.
“A família e a gente acredita que eles (os investigadores) possam fazer um bom trabalho para solucionar de onde partiu o tiro que vitimou a Ágatha.” Rodrigo Mondego
ADVOGADO