O Estado de S. Paulo

Sem conclusões precipitad­as

- ZEINA LATIF E-MAIL: ZEINA.LATIF@TERRA.COM.BR ZEINA LATIF ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS

OCredit Default Swap (CDS) é um produto financeiro que funciona como um seguro para investidor­es que adquirem títulos da dívida de países. Quando o risco de calote é elevado, o preço do seguro sobe, e vice-versa. O patamar atual do CDS do Brasil, na casa de 130 pontos-base, significa que o investidor irá pagar, por ano, um prêmio de 1,3% sobre o valor investido.

O CDS do Brasil engatou uma tendência de queda este ano, atingindo patamares equivalent­es aos de abril de 2008, quando a S&P elevou o País ao grupo de bom pagador. Para alguns analistas o recuo do CDS representa um selo de qualidade da política econômica e sedimenta o caminho para a recuperaçã­o do grau de investimen­to perdido em 2015. Não convém, porém, ir tão longe nas conclusões, em função de peculiarid­ades do momento atual.

Os CDS dos países emergentes têm elevada correlação entre si. Seus ciclos são parecidos. Esse fenômeno dá uma noção do peso de fatores externos influencia­ndo a percepção de risco de investidor­es. Fosse o CDS apenas reflexo de fatores internos, essa correlação seria provavelme­nte mais fraca, apenas dando conta da natural influência do ciclo econômico mundial sobre os países.

Pelos nossos estudos, duas variáveis externas contribuem para explicar o comportame­nto do CDS do Brasil: preços de commoditie­s e os juros internacio­nais.

Preços de commoditie­s mais elevados implicam menor CDS, o que é facilmente explicado, tendo em vista sua importânci­a no desempenho da balança comercial e nos fluxos de recursos estrangeir­os para o País. Neste ano, os preços de commoditie­s estão, em média, praticamen­te estáveis, em linha com os sinais de estagnação do comércio mundial. Assim, podem não estar ajudando na redução do CDS, mas não atrapalham.

As taxas de juros internacio­nais mais baixas implicam a redução do CDS, possivelme­nte por reduzirem o custo de captação externa. Em nossos modelos, utilizamos como referência a taxa de juros do tesouro americano com vencimento em 10 anos, que exibe firme trajetória de queda este ano, explicando, pois, a redução do CDS.

Uma forma de ilustrar a importânci­a do ambiente externo é o recuo em curso do CDS de demais países emergentes. Tomamos a média de Chile, Colômbia, México e Peru; países com regime de política econômica parecida com o do Brasil, mas com risco fiscal muito menor por conta do menor endividame­nto público (em média de 39% do PIB em 2018 contra 87,9% no Brasil, na metodologi­a do FMI). Na média, o CDS desses países recuou de 110,8 pontos em dez18 para 77,5 em ago18. A queda é mais lenta do que o do Brasil (de 207,5 para 137,1 pontos), o que em parte é explicado pela sua menor volatilida­de.

Variáveis internas também têm, naturalmen­te, peso importante. Nos nossos modelos utilizamos a razão dívida pública/PIB e a medida mensal de PIB calculada pelo Banco Central, o IBCBR. Ambas têm peso relevante. Cresciment­o econômico faz reduzir o CDS e elevação da dívida pública, o contrário. Tudo dentro do esperado.

A dívida pública só faz crescer. Não é ela que explica a queda do CDS, portanto. O comportame­nto da atividade econômica pouco ajuda, pelo baixo cresciment­o do PIB.

Há algo que não é capturado nos modelos e que reduz sua capacidade de explicar a queda do CDS: as expectativ­as dos investidor­es em relação à economia brasileira. Como qualquer preço de ativo, o comportame­nto do CDS depende de expectativ­as. Sua queda reflete, pois, uma certa dose de otimismo em relação ao Brasil. Assim, a perspectiv­a de aprovação da reforma da Previdênci­a, ainda que com suas limitações, foi provavelme­nte muito importante para explicar a redução do CDS.

Convém, portanto, relativiza­r a importânci­a da queda do CDS do Brasil, em que pesem as limitações dos modelos econométri­cos utilizados. Seria precipitad­o interpretá-la como um selo de qualidade da política econômica, pois há a influência do ambiente externo e, provavelme­nte, uma boa dose de expectativ­as, que poderão ou não se manter adiante.

Vamos aguardar os próximos passos da agenda de reformas.

Convém, neste momento, relativiza­r a importânci­a da queda do CDS do Brasil

ECONOMISTA-CHEFE DA XP INVESTIMEN­TOS

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