Negócio aposta no ‘compre um, doe um’ para ter impacto social
Empresas de bonecas e de óculos adotam modelo em que, a cada item vendido, outro é destinado a doação
Os chamados empreendimentos de propósito ganharam força com a nova economia, num momento em que mais pessoas se preocupam com os impactos social e ambiental de seu consumo. Com o intuito de causar esse tipo de impacto, empresas como a Ciranda de Soli (de bonecas) e a Ver Bem (de óculos) adotaram o modelo “um por um”, em que a cada produto vendido outro é doado.
A criação desse modelo (“one for one”, como é chamado lá fora) é atribuída ao americano Blake Mycoskie, que em 2006 fundou a marca de sapatos Toms. Com esse enfoque, a empresa ganha ares de ONG, aderindo a uma causa maior do que apenas ganhar dinheiro. Para a consultora do Sebrae-SP Cristiane Aguiar, isso é tendência, já que “as pessoas não querem mais o produto pelo produto”.
“Os consumidores querem saber onde e como o dinheiro deles está sendo gasto. Dessa forma, aceitam pagar um pouco mais pela transparência e pelo impacto que está causando.”
Fundada no fim de 2018 pelas amigas Fabiana Schimitz e Edlayne de Paula, a Ciranda de Soli vende grandes bonecas de pano, de 65 cm, todas feitas a mão. Ao comprar uma (R$ 149,90), o cliente destina outra para uma criança em situação de adoção, por meio de instituições sociais. Baseada em Coronel Fabriciano (MG), a empresa não tem fábrica própria e conta com seis costureiras que trabalham em suas próprias casas. As peças são entregues em todo o Brasil. “A boneca para doação é a mesma das vendidas para os clientes, são feitas com o mesmo carinho”, diz Edlayne.
Segundo ela, mais de 150 crianças já foram impactadas com as bonecas neste ano e estão previstas 137 novas entregas. Pelo site, são sete modelos de boneca disponíveis para compra. “Ainda fazemos investimentos do próprio bolso, mas temos parceiros que acreditam muito na empresa, no modelo e estão apostando em nós”, conta Edlayne, que largou o emprego anterior para apostar na Ciranda de Soli, assim como sua sócia Fabiana, que atuava como consultora do Sebrae. Saúde dos olhos No caso da Ver Bem, que doa até 14 pares de óculos a cada venda realizada, o negócio nascido em 2017 já está mais consolidado e conta hoje com 30 funcionários. A empresa nasceu a partir da ONG Renovatio, que desde 2014 atua para levar saúde visual a comunidades carentes e já doou mais de 54 mil óculos. “Em 2017, no entanto, tivemos uma queda nas doações da ONG de cerca de 80% e percebemos que não podíamos depender apenas delas para continuar causando impacto social”, conta o fundador da Renovatio, Ralf Toenjes. Com a Ver Bem, Toenjes vende lentes e armações de óculos em três lojas físicas em cidades do Paraná. “Com o negócio, conseguimos manter a ONG funcionando de uma forma mais sustentável. Cerca de 40% da renda da Renovatio vem desse modelo ‘um por um’ da Ver Bem.”
A Ver Bem trabalha com duas linhas de óculos, a de acesso e a de impacto. Na primeira, a cada óculos vendido (R$ 79) outro do mesmo modelo é doado. Já na segunda linha, cujas armações sem lente variam de R$ 99 a R$ 149, a cada par de óculos vendido são doadas até 14 unidades do modelo de acesso.
Com o objetivo de chegar a 70 mil óculos doados até o final deste ano, Toenjes conta que a Ver Bem dobrou de tamanho em relação ao ano passado e pretende manter esse crescimento para continuar potencializando as doações da Renovatio. “Hoje temos investidores muito qualificados e estamos escalando rapidamente.” * ESTAGIÁRIO SOB A SUPERVISÃO DO EDITOR DE ECONOMIA, ALEXANDRE CALAIS