O Estado de S. Paulo

Há 50 anos, disco ‘Abbey Road’ dava adeus ao sonho

Música. Relançamen­to do álbum remixado com brindes e novidades sobre a banda deve ocorrer em outubro

- Carlos de Oliveira

Em 1970, John Lennon proclamou que o sonho havia acabado e que era preciso encarar a realidade. Sua convicção estava na letra de God, música do álbum John Lennon/Plastic Ono Band. Ele estava enganado. Na verdade, o sonho acabara um ano antes, em 26 de setembro de 1969, quando os Beatles lançaram Abbey Road, seu 12.º e último LP.

Obra-prima e o melhor disco da banda, segundo o produtor George Martin, Abbey Road completa hoje meio século, tão jovem e atual como na época do lançamento. Os quatro músicos, apesar de todos os desentendi­mentos nos últimos anos, estavam maduros.

Fizeram um álbum denso, adulto, com evidente tom de despedida. Saindo da sombra que sempre lhe foi imposta pela dupla Lennon & McCartney, George Harrison veio à tona com Something e Here Comes the Sun. Ringo compôs e cantou Octopus’s Garden.

Agora, meio século depois, as desavenças pessoais e financeira­s que levaram ao fim dos Beatles se dissiparam no tempo. Restaram o mito e suas músicas que ganharam tons de eternidade. Para comemorar os 50 anos de Abbey Road, está previsto para outubro o relançamen­to do álbum remixado, com brindes e informaçõe­s raras sobre a banda. Como aperitivo, sabe-se que o novo Abbey Road traz duas versões de Come Together, já divulgadas pela internet.

A primeira versão é um tanto tosca, de ritmo acelerado. A segunda, presente no Abbey Road de 1969, é mais lenta graças a uma sugestão de McCartney, aceita por Lennon. A versão a ser lançada em outubro foi mixada por Giles Martin, filho de George Martin. Em todas elas, John repete ao longo da canção uma frase curta: “Shoot me” (atire em mim). Vale lembrar que nessa época John estava dependente de heroína e a palavra “shoot” podia também significar uma dose da droga.

Temendo uma reação negativa, Paul McCartney, segundo o engenheiro de som Geoff Emerick, fez questão de que o volume de seu baixo fosse aumentado toda a vez que John pronunciav­a a frase para encobrir o som. Deve ser verdade, embora a história dos Beatles esteja cercada de lendas.

Uma delas é que a primeira semana de gravações do álbum Abbey Road teria começado com a notícia de que John ficaria fora uma semana por causa de um acidente de carro. Notícia ruim, pois John estava ferido, mas boa ao mesmo tempo. Em junho, Paul, George e Ringo pareciam ter voltado aos velhos tempos e estavam cordiais e cooperativ­os. No fundo todos temiam que John estragasse esse clima. Seu temperamen­to cáustico poderia minar a aparente boa vontade que reinava entre os demais beatles.

Em 9 de julho, Lennon estava de volta. Logo depois, o ambiente se deteriorav­a. Na gravação da música The End a frase de despedida: “And in the end, the love you take is equal to the love you make”. Era o fim dos Beatles, o fim do sonho, mas Abbey Road continua vivo.

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REPRODUÇÃO Banda. ‘Abbey Road’: obra-prima da maturidade dos Beatles

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