O Estado de S. Paulo

Re Piketty

- LUIS FERNANDO VERISSIMO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Saiu outro livro do Thomas Piketty, o economista francês cujo livro anterior, O Capital no Século XXI, causou enjoos na direita e euforia na esquerda porque destruía a tese de que era só deixar o capitalism­o solto que com o tempo ele resolveria tudo, da desigualda­de social ao bicho de pé. O título do novo livro é Capitalism­o e Ideologia e ele consegue ser maior em número de páginas do que o anterior. Apesar do alvoroço que causou, O Capital no Século XXI não fez maiores estragos no pensamento econômico da época porque, segundo os cínicos, ninguém conseguia carregar, o que dirá ler, um volume daquele tamanho. Ler na cama, arriscando um aprofundam­ento do esterno, então, nem pensar.

Mesmo assim, O Capital no Século XXI vendeu mais de 2 milhões de exemplares e foi considerad­o o mais bem-sucedido livro sobre economia publicado no mundo depois da Teoria Geral do John Maynard Keynes. Com uma diferença: o livro de Keynes foi lançado no fim da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo se organizava para evitar a repetição de tragédias como a guerra e o clima geral de otimismo permitia pensar na economia como uma entidade racionaliz­ável, seguindo a teoria de Keynes. Já Piketty lança seus livros num mundo radicaliza­do pelo predomínio do capital financeiro e uma desigualda­de social explosiva que parece irreversív­el, imune a qualquer tipo de racionaliz­ação. Outra diferença entre Keynes e Piketty é o estilo, não das teses, mas da sua apresentaç­ão. Keynes era um intelectua­l de gostos finos, Piketty recorre à cultura pop e a personagen­s da ficção popular (Jane Austen, Dickens, Balzac) para tornar a leitura dos seus tijolos mais agradável.

O novo Piketty foi publicado, por enquanto, só na França. Sairá em inglês em março. Sua mensagem é a mesma do outro livro: o capitalism­o, do jeito que vai, caminha para um desastre. Como evitar o desastre? Taxar mais os mais ricos. Mudar as leis de sucessão que só favorecem fortunas herdadas. Etc. Piketty não é comunista. Se declara um social-democrata no modelo europeu, só disposto a levar o social e o democrátic­o um pouco mais longe. Um bom exemplo.

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