PF apreende pistola em apartamento de Janot
Busca acontece após ex-procurador-geral dizer que pensou em matar ministro do STF
O ex-procurador-geral Rodrigo Janot foi alvo de ações de busca e apreensão em seus endereços em Brasília, um dia após afirmar ao Estado que por pouco não matou Gilmar Mendes, do STF. Uma pistola .40, um tablet e um celular foram apreendidos. Janot teve o porte de armas suspenso. Ele está impedido de entrar nas dependências do STF e de se aproximar de ministros da Corte.
Um dia após afirmar ao Estado que, por pouco, não executou um plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, o exprocurador-geral da República Rodrigo Janot foi alvo de ações de busca e apreensão executadas pela Polícia Federal em sua casa e escritório, em Brasília.
A ordem foi dada ontem pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que atendeu a pedido feito por Gilmar para suspender o porte de armas de Janot e impedi-lo de entrar nas dependências do Supremo.
A PF apreendeu uma pistola .40, um tablet e um celular no apartamento de Janot. As ações de busca e apreensão foram decretadas no inquérito das fake news – aberto para apurar ameaças a ministros do STF e suas famílias – e, de acordo com Moraes, tiveram o objetivo de verificar a “eventual existência de planejamento de novos atos atentatórios” contra Gilmar. “O quadro revelado é gravíssimo, pois as entrevistas concedidas sugerem que aqueles que não concordem com decisões proferidas pelos ministros desta Corte devem resolver essas pendências usando de violência, armas de fogo e, até, com a prática de delitos contra a vida”, disse Moraes.
Em entrevista ao Estado, Janot revelou que, em 2017, chegou a entrar armado com uma pistola no Supremo, decidido a matar Gilmar. “Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar”, afirmou o ex-procurador.
Duas equipes da Polícia Federal chegaram por volta de 17h40 à casa de Janot, no bairro Asa Sul. O ex-procurador acompanhou as buscas ao lado do segurança particular e de um morador chamado pelos policiais para servir de testemunha.
Além de suspender o porte de armas de Janot, de impedi-lo de entrar nos edifícios do STF e de barrar sua aproximação com ministros da Corte, Moraes também determinou o recolhimento imediato de depoimento do ex-procurador-geral, “salvo se houver recusa”, “por tratar-se de direito do investigado ao silêncio”. Janot preferiu não depor.
Reações. O episódio e seus desdobramentos chocaram o mundo político e provocaram reações de perplexidade. Janot disse ao Estado que a intenção de atirar em Gilmar foi motivada por ataques que o ministro fez à filha dele. Quando era chefe do Ministério Público, Janot chegou a pedir a suspeição de Gilmar na análise de um habeas corpus do empresário Eike Batista, sob o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório de Sérgio Bermudes.
Ao se defender, o magistrado afirmou que a filha de Janot advogava para a empreiteira OAS em processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e poderia ser “credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato”. A história aparece no livro de memórias Nada Menos que Tudo, a ser lançado pelo ex-chefe do MP em outubro. Na publicação, porém, Janot preferiu “não dar nome aos bois”.
Em tom irônico, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que “esse é o Brasil”. Depois, disse que a revelação de Janot pode afetar os investimentos privados no País. “O Brasil é um país estranho. Cada dia é uma novidade. Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar um ministro do Supremo. Quem é que vai querer investir num país desse?”, perguntou Maia, em um seminário na Fundação Getúlio Vargas, no Rio, sobre parcerias público-privadas.