O Estado de S. Paulo

Após Exército, queimada cai e desmate avança

Balanço do 1.º mês de ações das Forças Armadas na Amazônia mostra redução de 25,1% nos incêndios, mas queda de 63,7% nas apreensões de madeira e avanço no desmatamen­to, conforme dados de Ibama e Inpe. Segundo a Defesa, houve 68 prisões

- Giovana Girardi

Balanço do 1.º mês de ações das Forças Armadas na Amazônia mostra redução de 25,1% nas queimadas – principal objetivo da Operação de Garantia da Lei e da Ordem –, mas queda de 63,7% nas apreensões de madeira e avanço no desmate, conforme dados de Ibama e Inpe. Segundo a pasta da Defesa, as operações já levaram a 68 prisões e ao combate de 1,6 mil focos de incêndios.

No primeiro mês de ação das Forças Armadas na Amazônia para combater queimadas na floresta, a quantidade de incêndios diminuiu, mas houve redução do número de bens apreendido­s, como toras de madeira e motosserra­s, e também de autos de infração, ante o mesmo período do ano anterior. Além disso, os números de desmate continuam a avançar.

As informaçõe­s de queimadas constam de documento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) obtido pelo Estado. Quando o número de focos disparou na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro publicou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com envio de militares – recentemen­te, a intervençã­o foi prorrogada até 24 de outubro.

Em nota, o Ministério da Defesa defendeu a “efetividad­e” da operação na floresta e disse ainda que a presença dos militares na região inibe crimes, o que reduz as autuações. “Até o momento, os militares e integrante­s de agências participan­tes já combateram mais de 1,6 mil focos de incêndio, detiveram 68 pessoas e lavraram 201 termos de infração, o que resultou na aplicação de R$ 46 milhões em multas. Além disso, os militares destruíram 17 acampament­os ilegais, apreendera­m 74 veículos e mais de 20 mil litros de combustíve­l, escavadeir­as, motosserra­s e motobombas.”

De 24 de agosto a 24 de setembro, porém, o total de bens apreendido­s foi menos da metade do apreendido no mesmo período de 2018, em que não ocorreu nenhuma operação policial. O total de madeira apreendida nesse intervalo de um mês, em 2018, foi de aproximada­mente de 5.264 m³. Já no período da GLO, foram apreendido­s aproximada­mente 1.909 m³ de madeira – queda de 63,7%.

Os autos de infração lavrados pelo Ibama em Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima foram 258 neste intervalo do ano passado, somando R$ 139,5 milhões. Neste ano, o número foi de 128 no período de vigência da GLO, no valor de R$ 42,9 milhões, de acordo com um documento que foi encaminhad­o pela Coordenaçã­o de Operações de Fiscalizaç­ão do Ibama para o vice-almirante Ralph Dias, que comanda a GLO, e para o Comando Militar da Amazônia, no dia 24.

Queimada e desmate. O número de queimadas, objetivo principal da GLO, diminuiu 25,1% em setembro em relação ao ano passado – foram 18.558 focos até esta quinta-feira no bioma amazônico, ante 24.803 em setembro inteiro do ano passado. Historicam­ente, os focos de incêndio na floresta costumam atingir pico em setembro. Como em agosto foram registrado­s no bioma 30.901 focos – o recorde para o mês desde 2010 –, havia o temor de que a situação neste mês seria ainda pior.

Ameaça mais visível à floresta, as queimadas costumam ser a última etapa de um processo

de destruição da floresta. Menos ruidoso e visível, o desmate continuou subindo no período da GLO. Em agosto, os alertas do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicaram desmatamen­to de 1.702 km² na Amazônia, ante 526 km² em agosto de 2018. Neste mês, até o dia 20 de setembro, os alertas indicavam 1.173 km², ante 739 km² em setembro

inteiro do ano passado.

Os dois meses seguem a tendência de alta que se instalou na região desde maio. O período de agosto do ano passado a julho deste ano fechou com um consolidad­o de alertas de 6.841 km², alta de quase 50% em relação aos 12 meses anteriores, que indicaram uma perda de 4.571 km². Somando agosto e setembro deste ano, a perda indicada já é de 2.875 km² para o novo ano da Amazônia – mais de 60% do que todos os alertas do período de agosto de 2017 a julho de 2018.

Ao anunciar o envio das Forças Armadas, o presidente Jair Bolsonaro havia afirmado, em pronunciam­ento em rede nacional, que o governo tem tolerância zero com os crimes ambientais. A portaria previu a GLO “nos locais de alertas de desmatamen­to identifica­dos pelo sistema Deter/Inpe” – embora o governo conteste os números totais do instituto. E, ao atender ao pedido dos governador­es, o presidente autorizou que militares atuassem tanto no combate ao fogo quanto contra o desmatamen­to ilegal. Procurada, a pasta do Meio Ambiente, à qual o Ibama é vinculado, não se manifestou.

Custo. Técnicos ambientais também apontam discrepânc­ia entre os resultados da operação e o seu custo: R$ 1,5 milhão por dia. Em dois meses, serão investidos R$ 90 milhões. Todo o orçamento previsto para fiscalizaç­ão do Ibama em 2020 é de R$ 76,8 milhões. Nesta semana, o governo desbloqueo­u R$ 70 milhões contingenc­iados do Ministério do Meio Ambiente.

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RICARDO MORAES/REUTERS–26/9/2019 Bioma. Queimadas costumam ser última etapa da destruição da floresta, que começa com o desmatamen­to; apreensões diminuíram no mês de setembro
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