O Estado de S. Paulo

Alok brilha no Rock in Rio

Guilherme Sobota Pela primeira vez, um DJ brasileiro, Alok, toca no palco principal do evento

- Guilherme Sobota

Pela primeira vez, um DJ brasileiro se apresentou no palco principal do festival, que começou ontem e mostrou outras atrações, como Mano Brown.

Não deixa de ser sinal dos tempos que a primeira atração do Rock in Rio seja um DJ: horas antes do rapper Drake anunciava a proibição de fotos e da transmissã­o de sua apresentaç­ão pelo Multishow, o goiano Alok Achkar Peres Petrillo, de 28 anos, abria a 20.ª edição com carisma e um show de luzes desenvolvi­do por equipes que trabalhara­m na Olimpíada do Rio em 2016.

Em entrevista ao Estado no início da semana, a vice-presidente do festival, Roberta Medina, já havia comentado o legado olímpico positivo deixado para o Rock in Rio. Nesta sexta, Alok estreou o Palco Mundo com espetáculo digno de Olimpíada.

Alok cumpriu o papel de primeiro DJ brasileiro a tocar no Palco Mundo, a megaestrut­ura principal do festival.

Abusando dos drops de beat (em que o DJ faz uma espécie de contagem regressiva com a batida da música), o goiano mistura criações próprias, como o sucesso Hear Me Now e a canção

Ocean, com remixagens simplifica­das dos grandes hits de muita gente: Corona, Cranberrie­s, David Guetta (numa homenagem ao primeiro DJ a ocupar aquele espaço, há 4 anos), Goodwill (outro DJ da cena global da qual Alok surgiu), Pink Floyd, Guns N’ Roses, Bon Jovi, Red Hot Chili Peppers, Talking Heads, New Order, Lil Nas X, Rihanna, Lil Pump e Kanye West, System of a Down, The White Stripes (ele faz o público cantar “eu não vou embora” ao som de Seven Nation Army) e até Benny Benassi (Satisfacti­on talvez seja a música mais manjada do dance/eletrônico do século 21).

Na segunda metade do show, passa rápido pelo funk brasileiro (Cidinho e Doca) e pela Legião Urbana antes de voltar para o roteiro. Oasis (sim, Wonderwall) e Queen (sim, We Will Rock You e We Are The Champions).

Seal. Ele é o tipo de músico que o Rock in Rio adora. Há quatro anos, o festival cedeu o Palco Mundo para o crooner britânico, e em 2019, fechou o Sunset em um dia em que músicos próximos da black music tiveram destaque: de Karol Conka e Lynn da Quebrada a Mano Brown e Bootsy Collins.

O show ganhou intensidad­e quando, na metade final, a cantora Xênia França se juntou a ele e a seu modesto trio para cantar Higher Ground, de Stevie Wonder.

Mas a música de Seal parece se encaixar pouco na proposta que o Rock in Rio fez para a sexta, com Alok, Bebe Rexha e Drake. Adepto das baladas e dos standards, é possível afirmar que sua música estacionou em algum momento pouco favorável dos anos 1990.

De terno branco – na estica – Mano Brown subiu pela primeira vez ao palco do Rock in Rio no início da noite desta sexta-feira, 27. Dado que Brown é um dos nomes mais importante­s da música brasileira, é uma constataçã­o infeliz pensar que o festival levou 20 edições para colocar um microfone em sua mão. Ele apresentou o show do disco Boogie Naipe, lançado em dezembro de 2016, com sua mistura única de soul e rap. O convidado do show foi o lendário baixista americano Bootsy Collins, referência do funk soul dos anos 1970.

É sempre curioso quando um dos roadies do Boogie Naipe entra no palco com uma mesa de bar e, logo em seguida, deposita ali uma garrafa cheia de uísque.

A vibe do show não guarda nenhuma semelhança com o caráter explosivo dos shows do Racionais, o grupo de hip hop que Brown fundou com três amigos em São Paulo para nacionaliz­ar o gênero no Brasil. No Boogie Naipe, Brown é um homem romântico que aprendeu a defender os direitos das mulheres, e não abriu mão de dedicar a elas uma devoção inteligent­e.

Também por isso, o músico não tocou no assunto “política” no palco, como sempre é esperado dele – talvez mais ainda depois das eleições de 2018, quando se envolveu ativamente.

No palco, Max de Castro faz as guitarras base, Hyldon sobe num momento de reverência à ala soul da MPB, e, em certo momento, Brown chama Bootsy Collins e uma pequena mágica acontece, porque se o Boogie Naipe existe é, em parte, devido a Bootsy e sua “turma”, gente como James Brown e o Parliament Funkadelic.

A parceria no palco começa com Mothership Connection, do álbum de mesmo nome do Parliament de 1975. É nessa hora que a excelente banda de Mano Brown, sempre comandada por um Lino Krizz de voz impecável e jaqueta de couro, mostra que é uma das melhores do circuito de shows no Brasil.

“Olha para esse cara, pensa no Snoop Dogg e diz quem copiou quem”, disse Brown, em referência ao estilo extravagan­te do americano no palco: óculos com glitter no formato de estrela e um conjunto amarelo ultraestam­pado. No fim do show, uma versão de Give Up the Funk (Tear the Roof off the Sucker), um dos refrões mais memoráveis da música popular nos anos 1970: “we want the funk”. I’d Rather Be You é a canção escolhida para acabar tudo .

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO
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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Domínio. Goiano teve a plateia nas mãos desde o início de sua performanc­e
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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Encontro. Mano Brown cantou com Bootsy Collins no Sunset

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