O Estado de S. Paulo

Câmara dos EUA intima assessor de Trump

Para não ser acusado de obstrução de Justiça, Mike Pompeo seria obrigado a entregar documentos sigilosos; deputados democratas aceleram impeachmen­t e marcam primeiros depoimento­s para tentar concluir processo até o fim de outubro

- WASHINGTON / AP. NYT e W.POST

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, foi intimado por três comissões da Câmara dos Deputados a fornecer documentos sobre as relações de Donald Trump com a Ucrânia. A intimação é a primeira medida adotada pelos deputados no processo que apura se Trump pressionou o presidente da Ucrânia a investigar o democrata Joe Biden.

Três comissões da Câmara dos Deputados dos EUA, que investigam Donald Trump, intimaram ontem o secretário de Estado, Mike Pompeo, a fornecer documentos sobre as relações do presidente com a Ucrânia. Se o chefe da diplomacia americana não obedecer, pode responder por obstrução de Justiça.

A intimação é a primeira medida adotada pelos deputados no processo de impeachmen­t do presidente, que investiga se ele pressionou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a investigar o democrata Joe Biden, possível adversário de Trump nas eleições de 2020, usando como contrapart­ida a liberação da ajuda militar ao país.

Os deputados democratas querem saber também se Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump, visitou a Ucrânia para discutir a pressão sobre Biden com o auxílio de funcionári­os do Departamen­to de Estado.

Ontem, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, disse que pretende acelerar o processo de impeachmen­t e concluí-lo até o fim de outubro. Os primeiros depoimento­s devem ocorrer na semana que vem. Estão intimados a ex-embaixador­a americana na Ucrânia, Marie Yovanovitc­h, e outros quatro diplomatas americanos. O objetivo é que o processo termine o mais rápido possível para não sobrecarre­gar o Congresso durante a campanha eleitoral – as primárias presidenci­ais começam em janeiro e a eleição será em novembro.

Obstrução. O Washington Post revelou ontem que a Casa Branca vem tomando medidas há pelo menos dois anos para impedir que detalhes de telefonema­s entre Trump e os líderes mundiais venham a público. A preocupaçã­o não é nova. Desde o começo do governo, vazamentos de detalhes embaraçoso­s de telefonema­s provocaram a ira do presidente – especialme­nte as ligações para o premiê da Austrália, Malcolm Turnbull, e para o presidente do México, Enrique Peña Nieto, em 2017.

O resultado foi a criação de um clima de paranoia entre seus aliados mais próximos. Desde então, o número de assessores com permissão de acesso a linhas seguras caiu. A lista de membros do gabinete com acesso a memorandos sobre os telefonema­s também foi restringid­a. Além disso, segundo fontes da Casa Branca ouvidas pelo Washington Post, o número de cópias de registros dos telefonema­s enviados a outras agências diminuiu e ganhou o selo de “só para leitura, e não cópias”.

Segundo o New York Times, com base em fontes, a Casa Branca usou um sistema de computador altamente confidenci­al para ocultar transcriçõ­es de conversas delicadas de Trump com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e integrante­s da família real saudita.

Em 2018, a Casa Branca pediu que o Pentágono devolvesse cópias de registros dos telefonema­s,

com medo de que eles fossem vazados à imprensa. A denúncia anônima de um agente de inteligênc­ia, divulgada na quinta-feira, demonstrou o cuidado dos assessores do presidente.

A conversa entre Trump e Zelenski,

segundo o delator, teria sido retirada de um sistema de computador pouco seguro para ser guardada em um sistema separado, destinado a guardar informaçõe­s sensíveis e segredos de Estado – o que não era o caso do telefonema.

Na quinta-feira, após liberar a divulgação do conteúdo da conversa, Trump voltou a acusar seus colaborado­res mais próximos de tramar algo contra ele. “Quero saber quem é a pessoa que deu essa informação para a fonte anônima”, reclamou o presidente. “Sabe o que se fazia nos velhos tempos com espiões e traições? Lidávamos com isso de uma maneira um pouco diferente do que fazemos hoje.”

As declaraçõe­s de Trump foram criticadas por analistas de inteligênc­ia e especialis­tas em segurança nacional. Segundo eles, a pena para a traição de espiões era a execução. A fala do presidente, portanto, seria uma ameaça a novos delatores e testemunha­s que eventualme­nte sejam convocadas pelos democratas no processo de impeachmen­t.

Ontem, de acordo com estimativa do New York Times, o número de deputados que apoiam o impeachmen­t chegou a 221 – um ganho de quase 80 votos desde que o escândalo da Ucrânia foi revelado, na semana passada. Os democratas precisam de 218 votos para levar o processo para o Senado – onde a condenação é considerad­a improvável em razão da maioria republican­a.

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YANA PASKOVA/REUTERS Disputa. Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA: pressão da Câmara dos Deputados para avançar o processo de destituiçã­o do presidente americano

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