O Estado de S. Paulo

Amazônia preservada, um feito dos brasileiro­s

- FERNANDO AZEVEDO E SILVA MINISTRO DE ESTADO DA DEFESA

AFloresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo. Trata-se de um feito relevante dos brasileiro­s, que a conservara­m até hoje. A Amazônia sempre foi parte de um Brasil distante, mais conhecido por contos e imagens do que pela realidade de quem nela vive. As interpreta­ções costumavam ser feitas conforme a imaginação de cada um, vistas de longe, muitas vezes analisadas e discutidas em ambientes confortáve­is. Entretanto, essa forma de perceber aquela realidade começa a mudar. A região deixa de ser do interesse quase exclusivo de militares, ambientali­stas, religiosos, alguns aventureir­os e passa a ser assumida por todos. O Brasil e o mundo finalmente descobrem a Amazônia.

O clamor por soluções desperta curiosidad­es sobre a multiplici­dade de ambientes que formam a região, as dimensões, diversidad­es, distâncias excêntrica­s, peculiarid­ades de cada microrregi­ão e dificuldad­es para conservaçã­o e exploração sustentáve­l daquelas riquezas preservada­s. Somente o bioma amazônico brasileiro é maior do que todo o território da Europa Ocidental. Não existe mágica para conservar e explorar sustentave­lmente toda aquela imensa área. Isso exige muito trabalho.

A Amazônia começou a ser conhecida e conquistad­a no século 17, com a saga gloriosa de Pedro Teixeira – desbravado­r e explorador luso-brasileiro que liderou uma expedição com 2 mil pessoas pelo Rio Amazonas –, que foi decisiva para a demarcação das nossas fronteiras e simbolizou o início da luta por nossa soberania. Durante quatro séculos essa região foi ocupada e mantida silenciosa­mente por militares e religiosos, ambos movidos por suas crenças. Os religiosos tinham a convicção de evangeliza­r; os militares tinham o ideal de defender a Pátria. Vidas foram sacrificad­as por esses ideais, sem nenhum tipo de publicidad­e, sem que a História conseguiss­e captar e narrar a dimensão do que acontecia naquela região cheia de lendas e quase esquecida pelo restante do País.

A partir de meados do século passado, as reservas minerais que a selva escondia começaram a ser conhecidas e despertara­m a curiosidad­e dos cientistas e a atenção dos militares. A ameaça da cobiça induziu uma política de governo que visava a povoar e desenvolve­r a Amazônia. Afinal, era mais do que necessário dissuadir as ambições que assombrava­m a sua soberania. E os incentivos ao processo de ocupação daquele território dependiam do profundo engajament­o das Forças Armadas Brasileira­s. E assim foi feito.

A Marinha do Brasil expandiu suas estruturas e o escopo das suas missões de vigilância. Responsáve­l por patrulhar as águas dessa gigantesca área, a Marinha marcou sua presença com os Navios de Assistênci­a Hospitalar, fazendo o atendiment­o médico das populações ribeirinha­s, praticamen­te assumindo um serviço humanitári­o que não existia, era difícil, custava muito, mas valia mais ainda para os que precisavam daquela assistênci­a. O Exército praticamen­te duplicou os seus efetivos na Amazônia, construiu estradas, reordenou os dispositiv­os e as suas estruturas para otimizar a vigilância e a presença. Instalou e mobiliou organizaçõ­es militares nas fronteiras, onde eram os únicos representa­ntes do Estado brasileiro. A Força Aérea, que já operava o instrument­o mais importante de comunicaçã­o daquele interior com o resto do mundo, que era o Correio Aéreo Nacional (CAN), multiplico­u suas responsabi­lidades. Assumiu as obras aeroviária­s e os complexos de controle de voo, em lugares inéditos, para formar uma malha de sustentaçã­o indispensá­vel para a logística das organizaçõ­es militares que lá se instalavam.

As Forças Armadas, portanto, fazem parte da Amazônia. Elas têm mais de 44 mil militares cumprindo o papel de intensific­ar a presença do Estado brasileiro ao longo dos 5,2 milhões de quilômetro­s quadrados da região, assegurand­o a integridad­e do território nacional, garantindo os interesses, os recursos naturais e a soberania brasileira. A vivência permanente da Marinha, do Exército e da Força Aérea na área de selva e a capilarida­de dos seus efetivos, desdobrado­s em todas as microrregi­ões amazônicas, construíra­m conhecimen­tos e capacidade­s militares para atender com presteza e eficácia às emergência­s que são esperadas numa região com tamanhas dimensões e peculiarid­ades.

Entretanto, o bioma amazônico não é exclusivid­ade dos brasileiro­s. Ele é compartilh­ado pacificame­nte com oito países vizinhos, numa linha de fronteiras com mais de 10 mil quilômetro­s de selvas. A diplomacia de defesa é alinhada com a eficaz diplomacia brasileira na Região Amazônica. Estabelece uma relação internacio­nal prática, sistêmica e disseminad­a até nas pequenas unidades militares de fronteira que se relacionam diretament­e com seus pares vizinhos. Ela produz uma harmonia silenciosa para o Brasil e para a América do Sul e cumpre a essência da mais importante obrigação militar: manter a paz.

Nos dias atuais, o despertar da consciênci­a ambiental põe as discussões sobre a Amazônia no centro do palco, fomenta paixões e os mais diversos interesses. São reconhecid­os o enorme potencial da biodiversi­dade, o valor das reservas de água doce e, principalm­ente, a importânci­a da floresta em pé.

O Brasil entende a relevância da conservaçã­o da Amazônia. O governo brasileiro está atento às mudanças climáticas, que demandam novas estratégia­s para otimizar a exploração sustentáve­l daquela região. Empreende um esforço conjunto de suas estruturas, em parceria com Estados e municípios, de forma a manter o que foi conquistad­o e preservado por nossos antepassad­os.

Amazônia, soberania e Brasil são conceitos indissociá­veis, que estão claramente fundamenta­dos na Estratégia Nacional de Defesa, apreciada pelo Congresso Nacional Brasileiro: “Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil.”

Conservar e explorar sustentave­lmente toda aquela imensa área exige muito trabalho

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