RODRIGO JANOT
‘A mão de Deus’
A entrevista do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot ao Estado (27/9, A10) demonstra o despreparo do entrevistado para integrar os quadros do Ministério Público, que dirá para chefiá-lo. Em dado momento, Janot relata história fantasiosa de que teria ido armado ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o intuito de matar a tiros o ministro Gilmar Mendes: “Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar”. Prosseguindo, Janot conta que só não o fez porque “a mão de Deus” o impediu. O que poderia ser visto como mera bazófia de um egocêntrico em busca dos holofotes perdidos traz à memória o ato irresponsável de Janot quando, em maio de 2017, anunciou com excesso de dramaticidade o acordo de delação com os executivos da JBS, que envolveria o nome de numerosas autoridades, incluídos ministros do STF, e traria gravações comprometedoras do então presidente da República, Michel Temer. Não era nada disso. Foi uma falsa notícia, o que fez Janot recuar e pedir seu arquivamento em setembro do mesmo ano. Mas as consequências de sua irresponsabilidade foram perversas para a economia nacional. Os únicos beneficiários da leviandade – se é que foi só isso – do ex-procurador-geral foram os executivos da JBS, que
desfrutam até hoje a imunidade penal que lhes foi concedida. E o próprio Janot – livre, leve e solto para falar asneiras –, uma vez que nunca foi chamado para responder pelo desastroso prejuízo que infligiu aos brasileiros.
SERGIO RIDEL
sergiosridel@yahoo.com.br São Paulo