O Estado de S. Paulo

Brasil aprova na ONU missão para investigar Maduro.

Em vitória da diplomacia de Bolsonaro, proposta cria grupo para apurar crimes na Venezuela e desgastar ainda mais o chavismo

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Em vitória da diplomacia do presidente Jair Bolsonaro, uma proposta liderada pelo Brasil foi aprovada ontem pela ONU, criando uma missão para apurar crimes na Venezuela. Por 19 votos a favor, 7 contra e 21 abstenções, o governo de Nicolás Maduro será alvo de uma pressão extra, uma estratégia já debatida entre o Itamaraty e o Departamen­to de Estado dos EUA para “desgastar” o chavismo.

A votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU teve o apoio de países do Grupo de Lima e da União Europeia. Cuba votou contra, enquanto Uruguai e México optaram pela abstenção.

O projeto cria uma missão internacio­nal para coletar dados sobre execuções sumárias, desapareci­mentos, detenções arbitrária­s e tortura desde 2014. O texto pede a soltura imediata de presos políticos, além de condenar “a repressão e a perseguiçã­o generaliza­da” com o uso excessivo de força contra manifestan­tes, a repressão à imprensa e a deterioraç­ão das leis.

A missão terá de apresentar um relatório durante a próxima sessão do Conselho, em setembro de 2020. Caso Maduro não coopere com a missão, e em um contexto de aprofundam­ento da crise venezuelan­a, a ONU estuda a formação de uma comissão de inquérito para julgar violações de direitos humanos em tribunais internacio­nais.

A proposta, porém, não tem apoio dos países europeus e de alguns latinos, sob a justificat­iva que dificultar­ia ou mesmo impossibil­itaria a articulaçã­o internacio­nal na Venezuela.

Bachelet. A possibilid­ade de uma missão da ONU foi discutida em junho, na visita ao país da alta comissária dos direitos humanos da ONU, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet. O governo chavista permitiu a instalação de um escritório permanente da ONU para monitorame­nto de casos de violação de direitos humanos.

Entretanto, a mudança de abordagem da ONU para o caso não parece ter surtido efeito até o momento.

Após a votação de ontem, o embaixador venezuelan­o na ONU, Jorge Valero, qualificou o projeto como “hostil” e advertiu que o país não vai cooperar com a missão. “A imposição de mecanismos de monitorame­nto jamais contará com o consentime­nto de meu país”, disse. Valero afirmou que Caracas já havia estabeleci­do uma “cooperação técnica” com Bachelet.

Em um relatório severo apresentad­o em 9 de setembro, Bachelet denunciou torturas, desapareci­mentos e execuções extrajudic­iais na Venezuela, mas até agora não havia solicitado uma investigaç­ão, ao contrário de seu antecessor, Zeid Ra’ad al-Hussein.

Valero também não poupou críticas aos países integrante­s do Grupo de Lima, aos quais acusou de serem “vergonhoso­s súditos do governo de Donald Trump” e de “seguir ao pé da letra as instruções do imperialis­mo americano”.

Em resposta, a representa­nte do líder opositor e autoprocla­mado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, Maria Alejandra Aristeguie­ta, disse que o texto aprovado “é um grande passo para continuar aumentando a pressão internacio­nal para que se possa evidenciar o que está acontecend­o na Venezuela”.

A embaixador­a do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, afirmou que o País acredita que “passos sérios e confiáveis são necessário­s para responsabi­lizar (os acusados)”. “E esses passos não podem ser encontrado­s dentro da Venezuela”, afirmou.

A ONU cita ao menos 6 mil homicídios desde janeiro de 2018 resultante­s de operações de segurança, além da desnutriçã­o de 3,7 milhões de venezuelan­os. Segundo o relatório feito pela equipe de Bachelet durante a visita ao país, mais de 4 milhões de venezuelan­os deixaram o país desde 2012.

“A imposição de mecanismos adicionais de monitorame­nto jamais terá consentime­nto do meu país. Os vergonhoso­s súditos de Trump seguem ao pé da letra as instruções do imperialis­mo americano”

Jorge Valero

EMBAIXADOR DA VENEZUELA

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SERGEI CHIRIKOV/REUTERS Diplomacia. Maduro durante desfile militar em Caracas

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