O Estado de S. Paulo

Feira literária traz estímulo a jovens estudantes.

Escola Estadual Jornalista Ruy Mesquita faz evento para estimular contato com os livros

- Renata Okumura

Incentivar a leitura, estimular o gosto pela escrita e, consequent­emente, ajudar alunos a desenvolve­r a interpreta­ção de textos. Esse é o desafio da Escola Estadual Jornalista Ruy Mesquita, localizada na Brasilândi­a, bairro da periferia da zona norte de São Paulo.

Para motivar os estudantes, professore­s e coordenado­res decidiram organizar a 1.ª Semana Literária. O objetivo da ação, entre segunda-feira e ontem, foi proporcion­ar um momento diferente aos alunos do 6.º ao 9.º ano. Para muitos jovens, foi o primeiro contato com diversas atividades culturais em um mesmo ambiente.

Nos corredores, era nítida a animação dos adolescent­es que participar­iam das peças teatrais. Caracteriz­ados, eles ainda ensaiavam, nos últimos instantes, as falas que encenariam. O evento também teve música. Muitos estudantes mostraram habilidade­s no canto e no violão.

A estudante Sara Souza da Silva, de 14 anos, que está no 9.º ano, participou de uma peça e estava animada com a semana literária. “Já tivemos atividades, mas esta semana foi muito diferente. Os professore­s trabalhara­m bastante com a gente. Fizemos a peça, tivemos atividades para aprender a nos colocarmos no lugar do próximo.” A aluna Nikelli Hannah Celestina Alves, de 14 anos, do 9.º ano, também estava animada com as atividades. “Foi muito diferente, uma forma fácil e interessan­te de aprender. Seria bom ter mais.”

Um dos espetáculo­s que atraíram a atenção dos alunos foi o monólogo sobre a vida de Carolina Maria de Jesus, catadora de papel e moradora da Favela do Canindé, no centro. Na década de 1960, ela lançou Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada. Ela foi interpreta­da pelo professor de Geografia e História, Maicon Dias de Jesus, de 26 anos. “A leitura do livro de Carolina traz uma identidade, porque aqui é uma escola da periferia. Carolina nos representa. Em vida, ela publicou três livros em folhas de caderno que encontrou no lixo. Trazer Carolina é mostrar que há expectativ­a. Também somos capazes”, disse Jesus.

Dentro das salas de aula, a confecção de poesias estava presente em recortes colados nas paredes, iniciativa que mobilizou principalm­ente alunos do 6.º ano. Até um livro de fábulas foi escrito sob a supervisão da professora Claudete Rodrigues dos Santos Silva, de 41 anos. Um deles abordou a história de um gato que “tirou sarro” de um cachorro que era deficiente. Arrependid­o, depois se desculpou. “Essa é uma forma também de conscienti­zar e combater o bullying dentro da escola. Quando percebemos algo, já chamamos os alunos e conversamo­s”, disse Claudete. “É a primeira vez que estamos fazendo a semana literária. Muitos alunos abraçaram a iniciativa. Só com educação podemos transforma­r o mundo.”

A doação de livros também fez parte do evento. Curiosos, os estudantes folheavam publicaçõe­s dispostas em prateleira­s em um dos corredores da escola. Entre elas, obras de Machado de Assis, Agatha Christie e Pablo Neruda. O Estado participou da ação com publicaçõe­s doadas por funcionári­os da empresa. A diretora, Aparecida de Cássia Rodrigues da Silva, de 49 anos, ressalta que ainda são muitos os desafios. Muitos alunos, diz, têm pouco contato com livros. “É preciso trabalhar com competênci­as que eles ainda não aprenderam. Queremos ampliar o interesse pela leitura, para que eles comecem a escrever mais.”

“Muitos também têm dificuldad­e para interpreta­r textos. Temos muitos professore­s engajados e espero que o projeto ocorra anualmente.” Aparecida de Cássia da Silva DIRETORA

Futuro. Criada em 2012, a Escola Estadual Jornalista Ruy Mesquita tem 905 alunos matriculad­os, do 6.º ao 9.º ano do ensino fundamenta­l 2, na faixa etária de 11 aos 14 anos.

Animados com a participaç­ão dos estudantes, os professore­s já pensam em ampliar a iniciativa. Cogitam o desenvolvi­mento de ações na Semana da Consciênci­a Negra, em novembro.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Boa procura. A doação de livros também fez parte do evento, além de peças teatrais

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