O Estado de S. Paulo

Polícia de SP apura racismo em shopping

- Paula Felix

A Polícia Civil de São Paulo apura suposto caso de racismo em um shopping da capital. A operadora de caixa Aline Cristina Lucas Santos, de 29 anos, fez boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerânc­ia (Decradi) após o filho de 11 anos ser barrado por seguranças ao tentar entrar no Bourbon Shopping São Paulo, na zona oeste, na quarta-feira.

Aline relata que o menino a acompanhav­a, mas precisou pegar um brinquedo que a irmã de 2 anos tinha deixado cair. Ao tentar entrar sozinho no estabeleci­mento, foi impedido por seguranças. “Era o meu dia de folga e aproveitei para ir ao Sesc, que é perto, e fui ao McDonald’s para comer um lanche. Falei que a gente ia comprar algumas coisas no shopping e caiu um brinquedin­ho da neném. Como estava frio, entrei no shopping e pedi para ele voltar para pegar.”

Dentro do local, ela conta que viu a abordagem. “Vi o segurança dar um toque para o outro sobre meu filho. Ele fez uma barreira (com o corpo) na hora que meu filho foi passar. Meu filho pediu licença e ele não deixou passar. Depois, apareceu outro segurança atrás do meu filho e fizeram um tipo de escudo. Eu falei: ‘É o meu filho’. Um dos seguranças veio falar comigo e disse que tem muita criança que vai lá para pedir.”

Aline diz que ficou sem ação e resolveu ligar para o irmão, que a orientou a acionar a polícia. “Ele ficou bastante abalado e falou que foi o pior dia da vida dele, que não quer mais ir ao shopping. A forma como ele abordou meu filho me chocou. Fizeram isso porque ele é negro e está com o cabelo grande. Mas como seria se eu não estivesse com ele? Como ele enfrentari­a essa situação sozinho?”, indaga.

Para Ariel de Castro Alves, advogado da família, houve discrimina­ção. “Se ele estivesse com a mesma roupa e fosse branco, provavelme­nte não teria o mesmo problema, porque várias crianças com uniforme de escola entram tranquilam­ente desacompan­hadas. Eles achavam que o menino estava ali para pedir por ser uma criança negra.”

Ele disse que a família deve pedir indenizaçã­o por danos morais. “A criança se deparou com racismo em um dia divertido e de curtir a folga da mãe.”

Proteção. Em nota, o Bourbon disse que repudia qualquer racismo ou ato discrimina­tório e afirmou que “os seguranças agiram em conformida­de à orientação de abordar qualquer menor de idade desacompan­hado que ingresse no shopping”. Segundo o shopping, a medida “visa única e exclusivam­ente à proteção deste público”.

“É claramente um episódio de discrimina­ção e a resposta do segurança para a mãe já mostra. Mesmo um menino de rua não poderia passar por isso.” Ariel de Castro Alves ADVOGADO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil