‘Pacaembu pode render R$ 100 mi por ano’
Líder da concessionária diz que serão investidos R$ 300 mi na reforma do complexo para torná-lo moderno e rentável
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a receita do Pacaembu no ano passado foi de R$ 2,7 milhões e os gastos foram de R$ 9 milhões, ou seja, prejuízo de R$ 6,3 milhões. A concessionária Allegra Pacaembu, que será responsável pelo estádio pelos próximos 35 anos, promete um salto financeiro.
“Nossa expectativa é que, a partir do terceiro ano de uso, o Pacaembu tenha uma receita superior a R$ 100 milhões”, calcula Eduardo Barella, líder do consórcio, em entrevista exclusiva ao Estado. Ele prevê investimento de R$ 300 milhões nas obras, que começam no ano que vem – os prazos ainda não são precisos – e duram por volta de dois anos. O novo Pacaembu será inaugurado em julho de 2022. Durante as obras, a arena ficará fechada.
Corintiano fanático que guarda várias camisas do clube na gaveta do escritório, Barella gosta do centro velho da cidade. Seu escritório está localizado no Largo do Arouche e ele mora na Praça da República. O administrador afirma não querer que o Pacaembu perca seu charme e originalidade. “Vamos restaurar e dar melhor uso”, promete.
Os desafios, porém, são grandes. As obras ainda precisam do aval dos órgãos de conservação do patrimônio público. Além disso, a população terá de mudar seu olhar em relação ao estádio. O projeto prevê a demolição do tobogã para a construção de edifício com cafés, restaurantes, lojas, escritórios, espaços multifuncionais e centro de convenções e eventos, a ser feito no subsolo junto ao novo estacionamento.
O projeto prevê a demolição do tobogã, setor que concentra os ingressos mais baratos. O Pacaembu vai ficar elitizado? Discordo desse ponto de vista. Queremos fazer um estádio mais democrático. As empresas que usam o futebol como negócio não têm o espaço para ações de relacionamento com seus clientes. Queremos receber o público corporativo, mas continuar com o pessoal que normalmente ia ao tobogã. Vamos reorganizar a distribuição desses ingressos e continuar tendo ingressos acessíveis em outras zonas do campo, reservando o camarote para o público corporativo.
As obras ainda dependem do aval dos órgãos de conservação do patrimônio público?
Sim, mas eles não analisam mais o “porquê” das obras, apenas o “como”. O grande acerto do edital de licitação foi orientar as diretrizes dos órgãos de patrimônio. Tudo o que deve ser feito dentro do estádio já está descrito de maneira objetiva. Não é possível construir um prédio de 20 andares, por exemplo. Todas as estruturas do ginásio são de madeira. Por isso, nós não podemos usar explosivos para demolir o tobogã. Será demolido na mão para não comprometer a estrutura do ginásio. O Pacaembu está na memória afetiva da cidade. O que puder ser mantido como original será mantido.
Quais são os próximos passos após a assinatura da concessão? A partir do recebimento da ordem de serviços, que deve acontecer nos próximos dias, a Prefeitura opera nos primeiros 60 dias com o nosso acompanhamento. A partir do sexagésimo primeiro dia, nós operamos o complexo com o acompanhamento da Prefeitura. Já a partir do nonagésimo dia, nós assumimos definitivamente a operação. Em paralelo, estaremos detalhando o projeto para iniciar os pedidos de alvará e aprovação nos órgãos de tombamento. Este prazo deve durar entre 6 e 12 meses e só aí as obras irão começar. O Pacaembu ficará então fechado por 28 meses. Sua reabertura será em julho de 2022.
Quanto é o investimento total? Nossa previsão de investimento é de R$ 300 milhões. Serão recursos privados, sendo uma parte do consórcio e outra por meio de uma estrutura de capital no mercado financeiro. Temos duas frentes de obras. Uma delas é o restauro do ginásio poliesportivo, piscinas e quadras de tênis. Isso deve consumir de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões. O restante da verba vai ser para a demolição do tobogã, escavação do programa subterrâneo e a construção da nova edificação.
Quanto o Pacaembu pode gerar de receita? Nossa expectativa é que, a partir do terceiro ano de uso, o Pacaembu tenha receita superior a R$ 100 milhões. Do ponto de vista de objetivos estratégicos, queremos que seja o melhor campo neutro do Brasil, um espaço democrático, a casa de todas as torcidas.
Depois de pronto, em pleno funcionamento, quais as principais receitas do Pacaembu? Nossa primeira linha de receita será de eventos e entretenimento. Eventos indoor que serão realizados no centro de convenções da parte subterrânea. Vamos fazer de 250 a 300 por ano. Nessa área de eventos estão os esportivos, como o futebol. A segunda linha de receita é o aluguel dos espaços da nova edificação. A terceira linha é de estacionamento. Depois, exploração de alimentos e bebidas e patrocínios.
O Pacaembu vai concorrer com o Allianz Parque na realização de shows? Não acho que são espaços concorrentes. O Allianz conseguiu preencher um espaço nos shows de campo e no futebol. Estamos focados em eventos menores no espaço subterrâneo. Estamos falando desde convenções médicas até shows menores com capacidade para cinco mil pessoas no espaço indoor.
Qual será o valor do ingresso para os jogos de futebol? O valor do ingressos é construído com o clube que vai jogar. Ainda não chegamos a esse momento.
As atividades esportivas continuam gratuitas? A piscina e os espaços de esporte continuam públicos. O caderno de encargos da Prefeitura prevê a cessão de cinco horas semanais, que continuam sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Esportes. No restante dos dias, vai continuar como existe hoje, com exceção dos dias de eventos. Imagens divulgadas sobre o novo Pacaembu não contemplam itens de acessibilidade. O Pacaembu será acessível? Hoje, não se aprova em São Paulo um projeto que não preveja acessibilidade. Foi feita uma análise só das fotos divulgadas na coletiva de imprensa após a assinatura da concessão. O nosso projeto prevê todo tipo de acessibilidade prevista por lei. Estamos baseados nos sete princípios do desenho universal. O complexo tem de ser igualitário, adaptável, óbvio, conhecível, seguro, sem esforço e abrangente. Esses pilares guiaram o projeto.