O Estado de S. Paulo

Lei de FHC pode turbinar privatizaç­ões

Governo quer usar legislação que garantiu venda da Vale e da Telebrás para dar agilidade ao seu programa de venda de estatais

- Anne Warth Rafael Moraes Moura/ BRASÍLIA

Para dar agilidade ao programa de privatizaç­ões, o governo vai usar uma lei do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que permitiu a venda da Vale e da Telebrás. Agora, a equipe do presidente Jair Bolsonaro quer repassar à iniciativa privada ABGF (seguradora), Telebrás (dona de redes de fibra ótica usadas na internet banda larga), Serpro (que cuida do processame­nto de dados da declaração do Imposto de Renda e de infrações de trânsito, por exemplo) e Dataprev (que processa os pagamentos de benefícios do INSS, entre outras coisas).

Essa lei de 1997 permitiria ainda que o governo privatizas­se, se desejar, empresas como Infraero e todas as Companhias Docas, que administra­m os portos nos Estados. Não permitiria, no entanto, a venda das chamadas “joias da coroa”: Petrobrás, Caixa, Banco do Brasil, Eletrobrás e Correios, nem da Casa da Moeda.

Petrobrás, Caixa e Banco do Brasil são exceções citadas na própria Lei 9.491/1997, sancionada por FHC. No caso da Eletrobrás, como a empresa foi excluída do Programa Nacional de Desestatiz­ação (PND) por lei, durante o governo Lula, a avaliação é que ela precisaria de outra lei para ser incluída novamente. Por isso, o governo deve enviar uma proposta própria ao Congresso para tratar do tema, que, no entanto, já enfrenta resistênci­a – o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), já disse que a bancada de senadores do Norte e Nordeste é contra, inclusive ele mesmo.

Já os Correios e a Casa da Moeda têm atividades com monopólio assegurado pela Constituiç­ão. A avaliação é a de que seria preciso aprovar uma Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) para retirar essas atribuiçõe­s ou, no mínimo, de uma nova lei mudando o marco legal dos setores em que elas atuam.

Controle. Hoje, a União detém 133 estatais federais, das quais 87 são subsidiári­as e já não precisam de lei para serem privatizad­as – é o caso de Caixa Seguridade e Transpetro, por exemplo, para as quais a venda é uma decisão da “empresa-mãe”, respectiva­mente, Caixa e Petrobrás. As demais 46 são de controle direto da União, e a lei atual valeria para 40 delas – para isso, bastaria incluí-las por decreto no Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), que substituiu o PND.

O governo viu uma brecha para tocar as privatizaç­ões nos termos da lei de 1997 com base em julgamento­s recentes do Supremo Tribunal Federal (STF). A questão da exigência legal foi tratada em junho, quando o Supremo decidiu que a venda ou perda de controle acionário de subsidiári­as de estatais não precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. No mesmo julgamento, o STF proibiu o governo de vender as estatais de controle direto sem autorizaçã­o legislativ­a.

Isso gerou especulaçõ­es sobre a necessidad­e de enviar ao Congresso dezenas de leis diferentes, uma para cada estatal a ser privatizad­a.

A avaliação, porém, é que a exigência não significa uma lei específica para cada estatal, bastando, para isso, uma lei genérica sobre o assunto – ou seja, a lei que já existe. O governo aguarda apenas a publicação do acórdão pelo Supremo para retomar os planos de privatizaç­ões com base nesse entendimen­to. Segundo o Estadão/Broadcast apurou, o ministro Ricardo Lewandowsk­i está terminando de revisar a ementa do voto sobre a venda de subsidiári­as. Outros ministros ainda precisam liberar os seus respectivo­s votos para que o acórdão seja publicado, o que pode esclarecer pontos do julgamento. Mas, no Ministério da Economia e na Advocacia-Geral da União (AGU), não há dúvidas: o STF exigiu lei e o governo já possui essa lei.

Um outro julgamento, realizado no plenário virtual da Segunda Turma do STF no fim de agosto, foi interpreta­do pelo Palácio do Planalto como uma “sinalizaçã­o muito positiva” às pretensões do governo. Naquela ocasião, os ministros discutiram uma ação do Partido dos Trabalhado­res contra uma lei do Estado do Rio Grande do Norte que instituiu o Programa Estadual de Desestatiz­ação.

O Ministério da Economia foi procurado, mas não se pronunciou.

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO-10/5/2011 ?? Programa. Dataprev é uma das estatais que serão vendidas
DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO-10/5/2011 Programa. Dataprev é uma das estatais que serão vendidas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil