O Estado de S. Paulo

Concorrent­e vê união de BB e UBS com ceticismo

Bancos de investimen­tos veem união com incômodo ou sem acreditar que gerará impacto no mercado, por juntar dois rivais

- Aline Bronzati

O avanço da parceria entre Banco do Brasil e o banco de investimen­tos UBS, cujo memorando de entendimen­tos foi assinado esta semana, gera sensações mistas entre os concorrent­es. Enquanto uns demonstram certo incômodo, outros dão de ombros, acreditand­o não só que a união não vá ter impacto no mercado como também que não durará muito tempo. Ao contrário: como consolida dois concorrent­es em um, pode, inclusive, diminuir a competição, na visão de um executivo graduado da área.

O fato de a Caixa Econômica Federal também ventilar o desejo de ter um banco de investimen­tos, projeto deixado de lado na gestão atual, ajudou a incomodar

a concorrênc­ia que temia um possível avanço estatal no segmento.

“Não é bem por aí. O BB não vai acompanhar os bancos privados”, diz o responsáve­l por um banco de investimen­tos, na condição de anonimato. “Se está se juntando com o UBS, a concorrênc­ia vai diminuir, não aumentar. Já competimos com BB e UBS.”

Ele não é o único a pensar assim. “O racional por trás da iniciativa do BB eu consigo entender perfeitame­nte: o banco passa a ter acesso a um mercado mais rentável. Para o UBS, não sei qual a vantagem, já que o comando – e a prioridade do banco – muda a cada quatro anos e o lucro será dividido por dois. O UBS pode canibaliza­r seu próprio negócio”, diz o principal executivo de outra instituiçã­o, a quem foi oferecida a parceira.

Vai e vem. No ano passado, o BB ofereceu o negócio a todos da Avenida Faria Lima, reduto do mercado financeiro em São Paulo, quando o banco, ainda na gestão de Paulo Caffarelli, começou a procurar por um sócio na área de banco de investimen­tos. Já na ocasião as conversas foram afuniladas com o UBS, mas não avançaram por conta das eleições presidenci­ais e a consequent­e troca de governo.

Sob o comando de Rubem Novaes, a nova gestão do BB retomou o processo de busca de um sócio de onde parou, ou seja, das negociaçõe­s com o UBS. Agora, tem planos ambiciosos. O banco público aposta na união com o suíço para disputar a liderança do mercado de ações em três anos, diz uma fonte, na condição de anonimato. Se conseguir tal feito, poderá encostar nos pares Itaú Unibanco e Bradesco, que se digladiam pelas primeiras colocações ao lado de bancos de investimen­tos “puro sangue” como BTG Pactual e JPMorgan.

Analistas que acompanham o banco público, por outro lado, veem o negócio do BB com o UBS como um passo positivo. Até mesmo porque, com a migração de recursos da renda fixa para a bolsa em meio à queda dos juros, o chamariz para empresas captarem recursos via ofertas de ações aumenta, estendendo um horizonte favorável para os bancos de investimen­tos nos próximos anos. O ano de 2019, por exemplo, pode ser o melhor para este mercado desde 2007, quando houve um boom no setor com R$ 70 bilhões em ofertas. / COM CRISTIANE BARBIERI E MÔNICA SCARAMUZZO

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ARND WIEGMANN/REUTERS–10/2/2015 Parceria. Expectativ­a do BB é disputar a liderança do mercado de ações em três anos

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